Inteligência Artificial

"Não tema a IA — acelere a adoção": as lições de Avanish Sahai, veterano do SaaS no Vale do Silício

O especialista em ecossistemas e plataformas junta-se à Meta (a empresa brasileira) que mira uma fase de expansão global

Avanish Sahai: o novo conselheiro da Meta

Avanish Sahai: o novo conselheiro da Meta

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 09h34.

Última atualização em 19 de fevereiro de 2025 às 14h28.

A Meta, empresa brasileira de tecnologia e consultoria estratégica, acaba de trazer um reforço de peso para seu conselho consultivo. Avanish Sahai, veterano do Vale do Silício com passagens ao longo de três décadas por gigantes como Google Cloud, Salesforce e Oracle, chega com a missão de acelerar a inteligência artificial e transformação digital da empresa que leva o mesmo nome do negócio de Mark Zuckerberg – apesar de ter sido nomeada muitos anos antes.

Fundada no Rio Grande do Sul e com atuação em oito países, a Meta tem se consolidado como uma das principais parceiras da SAP no mercado nacional. Em 2023, a empresa foi responsável pelo desenvolvimento do Celular Seguro, iniciativa do Ministério da Justiça e Segurança Pública para rastreamento de dispositivos roubados. Mais recentemente, lançou a joint venture MetaDataH, focada em soluções de IA para clientes globais, com a expectativa de gerar R$ 150 milhões em receita nos próximos três anos.

Com um faturamento anual na casa de R$ 1 bilhão e um crescimento médio de 25% ao ano, a Meta aposta que o conhecimento de Sahai em plataformas tecnológicas, parcerias estratégicas e inovação ajudará a consolidar sua presença internacional.

Em entrevista à EXAME, o executivo que nasceu na Índia e cresceu no Brasil, comenta os desafios da adoção da IA, o futuro da tecnologia no país e como sua experiência no Vale do Silício pode contribuir para o crescimento da Meta:

Você passou por empresas líderes globais em tecnologia. O que te atraiu na Meta e quais desafios você assume no conselho?

A Meta me atraiu por três razões principais: sua trajetória de crescimento, sua capacidade de se posicionar como parceira estratégica dos clientes e sua visão para o futuro da inteligência artificial. Quando conheci os fundadores, fiquei impressionado com como a empresa construiu relações de longo prazo com grandes indústrias, navegando por transições tecnológicas complexas, como migrações de SAP e Oracle. Mas, mais do que isso, me chamou a atenção a maneira como a Meta já estava aplicando IA de forma prática, integrando a tecnologia nos negócios de seus clientes, sem cair na armadilha de implementar inovação apenas por tendência.

Você defende que a IA está transformando empresas muito além do setor de tecnologia. Quais mudanças mais te chamam a atenção?
A IA deixou de ser um assunto exclusivo de departamentos de TI e se tornou parte do dia a dia de todas as áreas. Estamos vendo sua aplicação em vendas, marketing, atendimento ao cliente e até mesmo na tomada de decisões estratégicas. A grande mudança é que agora a IA não está apenas automatizando processos, mas também criando novas formas de engajamento entre empresas, funcionários e consumidores.

Qual conselho daria para líderes que ainda têm receio de adotar essa tecnologia?
Meu principal conselho é: não tema a IA, experimente e acelere sua adoção. A tecnologia é uma ferramenta para aumentar a produtividade e abrir novas possibilidades, e não algo que deva ser encarado com receio. Teste diferentes soluções, entenda como elas podem ajudar no seu setor e veja o que pode ser transformado no dia a dia da sua empresa. Quem esperar demais para adotar IA pode acabar ficando para trás.

A OpenAI foi o grande marco do setor com o lançamento do ChatGPT. Você se surpreendeu com a rápida adoção da ferramenta no dia a dia das pessoas?
Totalmente. Eu acompanho o setor há décadas e nunca vi uma adoção tão rápida de uma nova tecnologia. O lançamento do ChatGPT, em 2022, quebrou barreiras porque tornou a IA acessível a qualquer pessoa. Antes, a IA era algo altamente técnico, restrito a laboratórios e universidades. De repente, qualquer um podia experimentar e ver o potencial imediato dessa tecnologia. Passei por todas as revoluções dos últimos 30 anos e tenho convicção de que a IA não é apenas uma moda passageira.

A competição global em IA está mudando. Países como China e Índia ganham espaço. Como isso impacta a liderança dos EUA e cria oportunidades para o Brasil?
Pela primeira vez, a IA realmente democratizou o desenvolvimento tecnológico. Antes, grandes avanços aconteciam quase exclusivamente no Vale do Silício. Hoje, temos empresas chinesas como a DeepSeek competindo diretamente com OpenAI e Google. A Índia está formando milhares de engenheiros especializados, e a Europa está tentando criar sua própria abordagem. Para o Brasil, isso representa uma oportunidade enorme. O país pode sair da posição de grande consumidor de tecnologia para se tornar um produtor relevante, principalmente em setores como agronegócio e logística, onde já possui expertise consolidada.

Muitas empresas enfrentam o desafio de equilibrar automação com a centralidade humana. Como você vê esse dilema?
A tecnologia sempre trouxe mudanças e exigiu adaptações. O que precisamos entender é que a IA não deve substituir o elemento humano, mas sim ampliá-lo. Algumas funções serão automatizadas? Sim, como sempre aconteceu em qualquer revolução tecnológica. Mas isso abre espaço para que pessoas se concentrem em tarefas mais estratégicas e criativas. Empresas que souberem alinhar a tecnologia com a valorização dos seus times sairão na frente.

Olhando para o futuro da Meta e da IA, quais tendências devem ganhar mais força nos próximos anos?
Vejo três grandes tendências. Primeiro, a consolidação dos agentes de IA, que atuarão como assistentes em tempo real para empresas e consumidores. Segundo, a personalização em escala, na qual a IA criará experiências hiperpersonalizadas para cada usuário. Por fim, a IA aplicada em setores verticais, como saúde, agronegócio e logística, trazendo ganhos operacionais e novas soluções para desafios complexos. A Meta está bem posicionada para explorar esses caminhos e estou animado para contribuir com essa jornada.

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