Agência de notícias
Publicado em 9 de junho de 2023 às 10h06.
Última atualização em 13 de junho de 2023 às 18h59.
Legisladores da Costa Rica escrevem um projeto de lei com ChatGPT. Um juiz na Colômbia usa a ferramenta para pedir conselhos sobre um processo. Uma apresentadora desenvolvida por inteligência artificial narra as notícias ao vivo no México.
Como no resto do mundo, tanto as maravilhas quanto os absurdos da IA são cada vez mais visíveis na América Latina. A diferença é que a região está entre as mais desiguais do mundo não só em renda, mas também em tecnologia. A questão, tanto para corporações quanto para reguladores, é como usar a ascensão da IA para reduzir essa divisão.
Embora a adoção de smartphones na região seja apenas um pouco menor do que nos países mais ricos, cerca de 40% dos lares latino-americanos ainda não têm banda larga fixa, de acordo com um estudo de 2022, limitando a disponibilidade de conexões de Internet necessárias para estudar, trabalhar ou fazer transações online. A divisão digital é especialmente forte entre áreas urbanas e rurais — e embora essa disparidade seja antiga, a preocupação é que ela se amplie rapidamente com o surto explosivo da IA.
“Enfrentamos uma revolução, e quem fizer parte dela vai decolar, enquanto quem não fizer corre o risco de ficar muito para trás”, diz Ángel Melguizo, economista que assessora a UNESCO sobre inteligência artificial e sócio da consultora Argia, com sede em Madrid. Se nada for feito, “essas lacunas devem aumentar”.
O desafio é como projetar políticas públicas para lidar com o aumento da IA em nações pobres, muitas vezes assoladas por lideranças políticas instáveis.
A região precisa promover uma adoção digital mais ampla e inclusiva, diz Luis Adrián Salazar, consultor internacional e ex-ministro de Ciência, Tecnologia e Telecomunicações da Costa Rica. Ele propõe fundos especiais, criados por governos, para financiar a reciclagem profissional para empregos que serão afetados pela IA. Ele também sugere uma reunião de cúpula de chefes de estado para discutir uma abordagem unificada para a IA.
Se os líderes não conseguirem lidar com a divisão digital, diz ele, outras desigualdades — social e política, por exemplo — podem ficar ainda piores, levando a “um aumento de outras fissuras sociais, incluindo a violência”, disse. Alguns governos, incluindo Brasil, começam a fazer progresso na concepção de uma estratégia para IA e, mesmo com disparidades claras, há uma consciência crescente da oportunidade. No entanto, em geral, os países latino-americanos não se saem bem em um índice criado pela Oxford Insights, uma consultoria com sede no Reino Unido, para medir o preparo para IA.
Um investimento público no geral baixo em ciência e tecnologia, combinado com o alto custo de financiamento privado, tornará difícil para a América Latina ser líder em IA. Além disso, dada a tendência da região de ser compradora de alta tecnologia em vez de desenvolvedora, corre-se o risco de que a adoção digital se transforme em mais um palco para a competição entre EUA e China na América Latina.
Há um cenário mais otimista. Apesar das oscilações políticas e de várias crises econômicas, a indústria de tecnologia da região continuou a crescer em ritmo acelerado. Havia 34 empresas de tecnologia com valor de mercado de mais de US$ 1 bilhão no ano passado na América Latina, comparado a zero no início do século. E alguns governos estão abertos a experimentar com tecnologia — com a adoção do Bitcoin em El Salvador como o principal exemplo.
Ainda assim, não há dúvida: os governos, as empresas e a sociedade civil da América Latina precisam de uma estratégia – e rápido – se quiserem enfrentar o desafio da IA.