Repórter
Publicado em 16 de março de 2025 às 15h55.
mpresas de tecnologia como Google avaliam retomar entrevistas presenciais em meio à crescente adoção de inteligência artificial por candidatos para trapacear em entrevistas técnicas . Startups especializadas já oferecem ferramentas que auxiliam engenheiros a obter respostas perfeitas sem que recrutadores percebam.
Um dos serviços mais populares nesse mercado é a Interview Coder, criada por Chungin “Roy” Lee, estudante de ciência da computação. A plataforma analisa perguntas feitas em entrevistas e gera código automaticamente, tornando-se indetectável para os entrevistadores. Segundo Lee, seu projeto surgiu da frustração com o sistema tradicional de entrevistas técnicas, no qual empresas exigem que candidatos resolvam problemas complexos sem qualquer assistência tecnológica. A Columbia University, onde ele estuda, abriu um processo disciplinar contra o aluno, alegando violação de normas acadêmicas.
A adoção crescente de entrevistas remotas, impulsionada pela pandemia, facilitou o uso de ferramentas de IA para obtenção de respostas automatizadas. Recrutadores relatam que alguns candidatos exibem comportamentos suspeitos, como pausas estratégicas antes de responder ou dificuldades para explicar a lógica do código apresentado. Além disso, a detecção do uso de IA tem se tornado mais difícil, já que os assistentes virtuais evoluíram para exibir respostas de maneira mais natural.
O impacto dessas fraudes levou o Google a reconsiderar o modelo de entrevistas remotas. Em uma reunião interna, executivos discutiram a possibilidade de retomar entrevistas presenciais para minimizar a influência da IA no processo seletivo. Outras empresas já tomaram medidas semelhantes: a Deloitte voltou a exigir entrevistas presenciais para seu programa de trainees no Reino Unido, enquanto a Anthropic, criadora do chatbot Claude, implementou uma regra proibindo explicitamente o uso de IA por candidatos durante a seleção.
Mesmo com tentativas de regulamentação, o mercado de ferramentas que auxiliam engenheiros a burlar entrevistas continua em expansão. A Interview Coder, por exemplo, cobra US$ 60 por mês pelo serviço e projeta faturar US$ 1 milhão em receita anual recorrente até maio. Outra plataforma, a Leetcode Wizard, se apresenta como a melhor ferramenta para “conseguir um resultado forte de contratação em qualquer entrevista de código”, cobrando uma assinatura mensal de €49.
O aumento do uso dessas plataformas reacendeu o debate sobre a validade dos testes técnicos aplicados por empresas de tecnologia. Muitos candidatos argumentam que entrevistas tradicionais não refletem o trabalho real de um programador e que o uso de IA deveria ser permitido, assim como calculadoras são autorizadas em provas matemáticas. Por outro lado, recrutadores temem que a tendência leve à contratação de profissionais que não possuem as habilidades necessárias para a função.
Diante desse cenário, algumas empresas avaliam mudanças na forma como avaliam candidatos, enquanto outras cogitam simplesmente retornar às entrevistas presenciais para evitar fraudes.