Inteligência Artificial

Ele levou robôs para escolas e agora comanda um negócio de US$ 65 milhões

Startup já atende 10 mil alunos e busca expansão no Oriente Médio e América Latina

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 25 de fevereiro de 2025 às 14h02.

DUBAI - No meio do burburinho do AI Everything 2025, evento de tecnologia em Dubai, um estande chamava atenção com robôs interativos e demonstrações de inteligência artificial aplicada à educação. No centro da ação estava o brasileiro Guilherme Stelzer, fundador da Dubotics, empresa que une IA, robótica e ensino adaptativo para transformar a forma como aprendemos.

Logo no início, Stelzer me explicou que sua trajetória em educação começou por meio da Gled International Education, uma edtech brasileira que leva ensino de inglês e conteúdos diversos a alunos de diferentes perfis – de crianças em escolas públicas a detentos em regime prisional, passando por profissionais que precisam aprimorar o idioma para o trabalho. Segundo ele, a Gled nasceu para democratizar a educação de qualidade, algo que chamava sua atenção há anos.

“A ideia da Dubotics veio justamente desse desejo de internacionalizar o que já fazíamos na Gled”, comentou Stelzer, ressaltando a evolução da plataforma, que deixou de focar apenas no inglês e passou a oferecer um “combo de educação”, nas palavras dele. A solução é impulsionada por inteligência artificial adaptativa e generativa, permitindo ao aluno aprender na velocidade adequada às suas habilidades e dificuldades específicas.

Mario Aguilar, Guilherme, eu e o robô humonoide da Dubotics no Ai Everything em Dubai

A transição entre o ensino de idiomas e a robótica foi quase natural: “Percebemos que o engajamento dos estudantes aumenta muito quando há interação com hardware real, com robôs”, explicou Stelzer. A Dubotics, então, uniu forças com fabricantes de robôs e kits de programação para criar uma experiência prática de robótica educacional. A proposta é levar essa tecnologia a escolas de vários países, não só para alunos mais jovens, mas também para quem pretende se profissionalizar na área.

Expansão Internacional e Projetos Sociais

Além das atividades no Brasil, onde já atendem mais de 10 mil alunos em escolas públicas e até em presídios femininos, a Dubotics avança em acordos com governos como Angola, Peru, Rússia, Líbano e, agora, Emirados Árabes Unidos. “O governo de Dubai nos convidou para trazer nossas soluções de ensino para cá, especialmente em projetos de reabilitação carcerária”, contou Stelzer, reforçando o papel de inclusão que a empresa persegue.

Durante a conversa, ele destacou a força que a IA tem dado à expansão do negócio: “Conseguimos desenvolver soluções em um tempo muito menor, plugando novas metodologias e incorporando-as rapidamente”. O objetivo é ambicioso: fazer com que qualquer pessoa, em qualquer lugar, tenha acesso a educação de qualidade a um custo acessível.

Uma Nova Fase de Streaming e Realidade Imersiva

No estande, Stelzer me mostrou ainda um protótipo de óculos inteligente que chamou bastante atenção. Ele descreveu o aparelho como parte de uma “nova onda de streaming ao vivo”, que vai desde cobertura de eventos esportivos sob a perspectiva do jogador até aulas práticas em que professores poderão monetizar seu tempo de forma imediata.

“Queremos que qualquer usuário seja capaz de transmitir a própria experiência em tempo real e gerar receita com isso”, disse. Ele mencionou a possibilidade de uso em shows, treinamentos, backstage de grandes produções e até em tarefas do dia a dia, sempre com tradução simultânea em vários idiomas.

Parcerias e Visão de Futuro

Ao final da conversa, juntou-se a nós Mario Aguilar, sócio de Guilherme, que compartilhou detalhes sobre a adoção de IA e robótica em projetos de larga escala. Os dois discutiram aplicações que envolvem desde culinária imersiva a aulas virtuais de piano, evidenciando a variedade de mercados em que a Dubotics pretende atuar.

A Dubotics atingiu cerca de US$ 65 milhões de valor de mercado e a meta é ousada: chegar ao patamar de unicórnio (US$ 1 bilhão). Uma ambição que, segundo ele, só será cumprida com parcerias sólidas e adoção de modelos de ensino cada vez mais focados em IA.

Dubai quer ser a cidade da IA

Em meio ao clima efervescente do AI Everything 2025, a Dubotics reflete uma tendência mais ampla: novas edtechs e healthtechs que encontram no Oriente Médio uma plataforma de lançamento global para tecnologias emergentes. O que chama a atenção no caso de Stelzer é como ele concilia projetos sociais inclusivos com uma visão de negócios agressiva, de olho em se tornar referência na convergência entre robótica, IA e educação.

O ecossistema do Dubai Multi Commodities Centre (DMCC), onde a Dubotics se estabeleceu, fornece o respaldo necessário em infraestrutura, investidores e conexões internacionais. Num mercado em que a IA e a robótica avançam rápido, é provável que vejamos cada vez mais parcerias surgindo dessa ponte Brasil–Emirados.

Como costumo dizer depois de cobrir grandes feiras de tecnologia: o melhor jeito de avaliar esses projetos é observá-los fora dos holofotes – em escolas públicas, em presídios, na rotina de quem de fato precisa dessas oportunidades de aprendizado. Se a Dubotics conseguir, de fato, cumprir a promessa de levar a IA para as massas, vamos ver um impacto significativo na forma como estudamos, trabalhamos e nos conectamos com o mundo.

Para ver a entrevista completa:

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