Inteligência Artificial

DeepSeek: por que governos de países como Itália e Coreia do Sul barraram IA chinesa?

Autoridades citam ameaças à segurança nacional ou possíveis vazamentos de informações confidenciais

O chatbot DeepSeek mal foi lançado e vários governos já restringiram seu uso (Getty Images)

O chatbot DeepSeek mal foi lançado e vários governos já restringiram seu uso (Getty Images)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 8 de fevereiro de 2025 às 15h17.

Tudo sobreInteligência artificial
Saiba mais

O surgimento do chatbot R1 da startup chinesa DeepSeek surpreendeu a indústria de tecnologia com sua capacidade de igualar seus concorrentes americanos a um custo menor, reorganizando as cartas da inteligência artificial (IA). Mas o chatbot mal foi lançado e vários governos já restringiram seu uso, citando ameaças à segurança nacional ou possíveis vazamentos de informações confidenciais.

A Itália foi o primeiro país a abrir uma investigação sobre o DeepSeek, que foi proibido de processar dados de usuários italianos. Em 2023, o órgão regulador italiano já havia bloqueado temporariamente o chatbot da OpenAI no país, o ChatGPT, devido a questões de privacidade.

Seguindo a Itália, as autoridades taiwanesas proibiram seus funcionários e infraestrutura essencial de usar os aplicativos da startup chinesa, citando riscos à "segurança nacional da informação". Esta decisão foi seguida alguns dias depois pela Austrália.

Na Coreia do Sul, vários ministérios, incluindo o que supervisiona as relações com a Coreia do Norte, bloquearam o acesso ao DeepSeek em seus computadores. Essas medidas de bloqueio também dizem respeito aos "PCs militares".

DeepSeek provoca inversão inédita

Nos Estados Unidos, um projeto de lei foi apresentado por legisladores para impedir o uso do DeepSeek - chamado de "empresa afiliada ao Partido Comunista Chinês" pelo deputado Darin LaHood - em dispositivos governamentais, por motivos de segurança cibernética.

Do que os países têm medo?

Os termos e condições do DeepSeek incluem uma seção sobre a transmissão de dados pessoais a terceiros, muito semelhante à do ChatGPT, o chatbot de sua rival americana OpenAI.

Mas "na China, quando o governo pede acesso aos dados do usuário, as empresas são legalmente obrigadas a fornecê-lo", diz Youm Heung-youl, professor e especialista em segurança de dados na Universidade Soonchunhyang, na Coreia do Sul.

De acordo com a política de privacidade da DeepSeek, a startup chinesa também coleta informações sobre "pressionamentos de tecla", ou seja, qualquer interação que um usuário faz com uma tecla no teclado.

Pequim, por sua vez, diz que o governo chinês "nunca exigirá que empresas ou indivíduos coletem ou armazenem dados ilegalmente". A China denunciou as restrições impostas recentemente por vários países, vendo-as como uma "politização de questões econômicas, comerciais e tecnológicas".

A decisão da Coreia do Sul de restringir o uso do DeepSeek responde a "preocupações genuínas", mas também reflete "seu reflexo de seguir a linha dos EUA", disse Vladimir Tikhonov, professor de estudos coreanos na Universidade de Oslo.

Os Estados Unidos são um parceiro-chave da Coreia do Sul, onde dezenas de milhares de tropas americanas estão posicionadas para protegê-la de seu vizinho do Norte.

De acordo com o Tikhonov, Seul "não pode operar sozinha em uma situação de guerra em larga escala, então é mais ou menos esperado que siga as diretrizes militares dos EUA sobre segurança cibernética". Mas, ele observa, "nenhuma grande empresa de tecnologia é politicamente neutra".

“O Google armazena dados do histórico de navegação e é ingênuo pensar que eles não são compartilhados com agências governamentais quando elas os solicitam”, afirma.

Ele reconhece, no entanto, que a colaboração de grandes empresas de tecnologia com as autoridades chinesas é provavelmente "mais profunda".

DeepSeek, uma surpresa?

“O DeepSeek foi lançado em maio de 2023, e algo assim não pode surgir da noite para o dia”, disse Park Seung-chan, professor de economia chinesa na Universidade Yongin da Coreia do Sul.

Especialistas dizem que o DeepSeek nasceu do enorme investimento da China em pesquisa e desenvolvimento nos últimos anos. De acordo com dados da Câmara de Comércio da Coreia do Sul, a China ocupa o segundo lugar no mundo em termos de investimento em pesquisa e desenvolvimento, atrás apenas dos Estados Unidos.

“Vejo (o surgimento do chatbot R1, nota do editor) como um movimento calculado que foi preparado antes da era Trump, e devemos prestar atenção à segunda e terceira ondas do DeepSeek”, disse Park.

Quais as lições?

A DeepSeek diz que usou chips H800, que são menos potentes que outros modelos, mas estão autorizados para exportação para a China até o final de 2023.

“Se o DeepSeek realmente usou H800s, isso significa que, mesmo sem semicondutores de última geração, resultados semelhantes poderiam ser alcançados com semicondutores padrão, desde que o software fosse bom”, disse Park Ki-soon, professor da Universidade Sungkyunkwan, na Coreia do Sul.

Foi o suficiente para virar de cabeça para baixo a indústria de semicondutores, da qual Coreia do Sul e Taiwan estão na vanguarda.

“Países como os Estados Unidos e a China estão investindo recursos e talentos consideráveis ​​no desenvolvimento de software”, disse Park Ki-soon, que disse que o DeepSeek é a prova de que todos os governos deveriam fornecer mais suporte ao setor.

Acompanhe tudo sobre:Inteligência artificialDeepSeekItáliaCoreia do Sul

Mais de Inteligência Artificial

Alibaba reforça área de inteligência artificial com a contratação de Steven Hoi

Mira Murati recruta cofundador da OpenAI e ex-Anthropic para sua nova startup

Meta lança programa para estudar colaboração entre robôs e seres humanos em tarefas domésticas

Amazon investirá US$ 100 bilhões em IA em 2025 e reforça 'aposta no futuro'