Chief Artificial Intelligence Officer da Exame
Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 17h19.
Semana passada tive uma conversa incrível com Mr. Pezão, um nome que virou sinônimo de reinvenção no audiovisual brasileiro. Ex-cantor que migrou para a direção de videoclipes para criar seus próprios clipes musicais — "diretor custa caro", riu ele —, Pezão hoje comanda projetos para artistas como Zé Felipe e Ana Castela usando um exército de ferramentas de IA. Nossa conversa, cheia de analogias nerds e alertas sombrios, me fez repensar o que significa "criar" na era da inteligência artificial.
"O que antes exigia uma equipe de 30 pessoas de VFX agora pode ser realizado por indivíduos trabalhando em várias produções simultaneamente", ele me disse.
Essa mudança não é apenas sobre eficiência - está remodelando toda a economia da produção de vídeo. Projetos que antes demandavam R$ 400 mil agora são viáveis por R$ 60 mil, sem comprometer a qualidade. Hoje, ele atende cinco grandes clientes mensalmente, incluindo agências internacionais de publicidade, com uma lista de espera crescente.
A evidência mais convincente do impacto da IA veio do trabalho recente de Pezão com o legado do Charlie Brown Jr. Usando IA, ele criou um videoclipe emocionalmente ressonante com o falecido vocalista, demonstrando que a inteligência artificial pode entregar não apenas proficiência técnica, mas profundidade emocional.
As ferramentas que possibilitam essa revolução são surpreendentemente acessíveis. Enquanto soluções premium como Kling podem custar algumas centenas de dólares por mês, opções mais econômicas como Runway e Minimax estão democratizando o acesso a efeitos visuais profissionais. Para geração de voz, o Eleven Labs emergiu como padrão da indústria, capaz de criar replicações vocais impressionantemente precisas.
As implicações para escolas de cinema tradicionais e profissionais da indústria são marcantes. Pezão sugere que aspirantes a cineastas podem se beneficiar mais de um treinamento intensivo em IA do que de programas tradicionais de quatro anos. Em sua visão, três a cinco meses de estudo focado em IA podem posicionar alguém para um sucesso significativo na indústria em evolução.
No entanto, a especialização humana continua crucial. "A IA é uma ferramenta, não uma substituta", enfatiza Pezão. Seu conhecimento em cinematografia e compreensão de movimentos de câmera, enquadramento e visão artística são o que diferencia seu trabalho. A tecnologia amplifica a criatividade humana em vez de suplantá-la.
Olhando para o futuro, Pezão visualiza uma indústria onde ferramentas de IA se tornam tão fundamentais quanto câmeras são hoje. Sua própria transformação de um faturamento anual de R$ 200 mil para uma geração entre R$ 350 mil e R$ 500 mil mensais serve como um poderoso testemunho do potencial de abraçar a IA nas indústrias criativas.
Para investidores e observadores da indústria, a mensagem é clara: o futuro da produção audiovisual não está em grandes estúdios com enormes custos fixos, mas em criadores ágeis e capacitados pela IA que podem entregar conteúdo de qualidade Hollywood a uma fração do custo tradicional. A revolução não está chegando - ela já está aqui.
Assista à entrevista completa aqui: