Redatora
Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 06h55.
A startup francesa de inteligência artificial Mistral enfrenta um novo desafio com a chegada da DeepSeek, concorrente chinesa que lançou um modelo de IA de código aberto semelhante ao seu. Assim como a Mistral, a DeepSeek aposta em sistemas avançados e mais acessíveis do que os desenvolvidos no Vale do Silício, nos Estados Unidos.
A movimentação reforça dúvidas sobre a capacidade da Europa de liderar avanços em uma tecnologia estratégica. Em 2024, a Mistral ganhou destaque no Fórum Econômico Mundial, em Davos, ao apresentar um modelo de IA que exigia menos recursos computacionais. O feito atraiu o apoio do presidente francês Emmanuel Macron e de investidores como a Andreessen Horowitz.
Fundada por Guillaume Lample, Timothée Lacroix e Arthur Mensch, CEO, a Mistral nasceu com a proposta de tornar o desenvolvimento de IA mais eficiente. No entanto, a DeepSeek conseguiu entregar sua tecnologia primeiro. Mensch afirma que a empresa não está à venda, mas analistas apontam que, sem escala, a startup pode acabar sendo absorvida por gigantes dos Estados Unidos.
A Europa tem outras startups de IA promissoras, como a britânica Wayne, a alemã DeepL e a francesa Black Forest Lbs. Nenhuma delas, porém, atua no desenvolvimento de grandes modelos de linguagem (LLMs), tecnologia que alimenta sistemas como o ChatGPT, da OpenAI.
Caso a Mistral não consiga se consolidar, empresas e consumidores europeus terão que recorrer a plataformas dos EUA – ou da China. Isso reforçaria preocupações sobre a competitividade da União Europeia, especialmente diante da possibilidade de um endurecimento das relações comerciais com os EUA sob uma eventual nova presidência de Donald Trump.
A Mistral argumenta que pode se beneficiar da inovação da DeepSeek, já que a concorrência valida sua tese de que IAs avançadas podem ser desenvolvidas com menos recursos. A startup também destaca que oferece vantagens como maior controle, privacidade e neutralidade, enquanto a DeepSeek, por operar na China, coleta mais dados e está sujeita a restrições do governo local.
Atualmente avaliada em 6 bilhões de euros, a Mistral levantou 600 milhões de euros em investimentos em junho. Apesar disso, analistas consideram que a startup está em um limbo: já captou muito dinheiro para desaparecer silenciosamente, mas ainda não o suficiente para competir com gigantes como OpenAI, Anthropic e xAI, de Elon Musk.
A título de comparação, a OpenAI arrecadou US$ 23,9 bilhões, a Anthropic US$ 15,75 bilhões e a xAI US$ 12,13 bilhões. A Mistral, por outro lado, levantou US$ 1,19 bilhão, uma fração dos recursos disponíveis para seus concorrentes no Vale do Silício.