Aidan Meller olha para uma pintura de Ai-Da Robot, um artista robô humanóide ultrarrealista, durante uma coletiva de imprensa na Biblioteca Britânica em 4 de abril de 2022 em Londres, Inglaterra. (Hollie Adams/Getty Images)
CEO da Ipsos no Brasil
Publicado em 3 de agosto de 2023 às 12h03.
Última atualização em 3 de agosto de 2023 às 12h04.
A pesquisa Global Views on AI[1], realizada pela Ipsos em 31 países, avaliou o tema da Inteligência Artificial sob a ótica da população: 66% dos brasileiros entrevistados estão animados com o uso da tecnologia. 64% acreditam que há mais benefícios do que desvantagens – um aumento de +7 p.p. em relação à 2022, quando fizemos esta mesma pergunta e 57% viam mais vantagens no uso.
Pois é... Foi-se o tempo em que as pessoas associavam a inteligência artificial com as distopias de ficção científica. Embora o tema por si só carregue essa aura futurística, essa caracterização diminui à medida que a IA se desenvolve e se torna mais comum em nosso dia a dia.
Há alguns anos, ela já se tornou uma presença frequente, seja nos nossos lares (Alexa da Amazon), seja nos nossos celulares (Siri da Apple e o Google Assistente). Mas, embora o uso destas assistentes de inteligência artificial já estivesse impactando o mercado, a chegada do ChatGPT da OpenAI revolucionou tudo envolvendo IA que estava sendo feito até então.
Com o ChatGPT e seu concorrente Bard, desenvolvido pelo Google, a IA sai de um papel de ajudar a organizar a rotina e as buscas para assumir o protagonismo na “criação”, a chamada Inteligência Artificial Generativa.
Na esteira, surgem inúmeros apps de criação de imagens feitas por IA e as ferramentas de manipulação de áudio, criando versões de músicas interpretadas por outros cantores diferentes de seus intérpretes originais. Cada vez mais, o uso da Inteligência Artificial está nas mãos das pessoas. E isso tem impactos diretos no que os indivíduos pensam sobre o tema; sejam seus conhecimentos, seus receios e suas expectativas.
A mesma pesquisa Global Views on AI também questionou se os entrevistados consideram ter um bom entendimento do que é inteligência artificial. No Brasil, 74% responderam que sim – em 2022 eram 69%. Isso mostra que o termo realmente tem se popularizado – embora aqui caiba uma ressalva, nem sempre conhecer o tema é sinônimo de entender sua complexidade e implicações.
O brasileiro tem noção de que as tecnologias são capazes de remodelar profundamente a sociedade, mas isso não necessariamente provoca um receio. Pelo contrário, eles se mostram até muito abertos a novas aplicações (de uma maneira até ingênua), pois quem tem mais contato com o tema sabe que os algoritmos têm vieses.
Isso é um ponto de preocupação entre os especialistas, mas em geral, a população ainda não está alerta aos problemas que as máquinas também podem gerar em populações já minorizadas, caso esses vieses não sejam devidamente solucionados.
Também é preciso lembrar que entre os brasileiros há uma oferta de serviços, em particular públicos, que deixa muita a desejar. Assim, uma tecnologia sempre se mostra como uma fonte de esperança, um atalho para serviços melhores e que auxiliam mais a população.
Já havíamos percebido isso em outros momentos, e parece ser confirmado por esse estudo: há entre os brasileiros uma grande esperança de que a evolução tecnológica representada pelo IA possa trazer uma evolução na qualidade de vida, já que outras instituições não conseguiram fazê-lo. Assim, a relação é de otimismo e acolhimento – o que, obviamente, pode significar um processo de subvalorização de seus riscos.
Essa ‘boa vontade’ do brasileiro em abraçar a IA também se reflete no quanto estão abertos a experimentar produtos e serviços que usem da tecnologia. Mas, olhando da perspectiva de negócios, não é de hoje que a inteligência artificial já vem sendo largamente utilizada em alguns segmentos, principalmente na simplificação de processos de trabalho. Na verdade, a maioria de nós já interage com a IA de uma forma ou de outra diariamente, mesmo que nem percebamos.
Então, o que realmente mudou (ou está mudando) agora? Na verdade, é um processo natural de evolução das ferramentas. Hoje, elas já são capazes de feitos que outrora eram apenas, como mencionei no início do texto, parte das obras de ficção cientifica. E, à medida que as tecnologias de IA evoluem e se proliferam, elas estão se tornando mais imperativas para uma empresa ou marca manter uma vantagem competitiva.
O aprendizado de máquina, vulgo Machine Leaning, por exemplo, já faz parte da rotina de nós, pesquisadores, há algum tempo, e está se tornando essencial na leitura de grandes quantidades de dados, o famoso Big Data. A AI aqui ajuda os dados a serem estruturados e contextualizados por algoritmos de aprendizado.
Outro uso frequente da AI nos negócios são nos sistemas de gestão de relacionamento com o cliente (CRM). Quando aplicada a IA generativa a essas plataformas, o sistema de CRM normal se transforma em um sistema de autoatualização e correção automática que permanece no topo da gestão de relacionamento.
Em ambos os casos, no entanto, a intervenção humana ainda é necessária. No caso das análises de dados, embora a AI generativa consiga propor insights com base no que aprendeu com a leitura dos dados, o olhar humano é o único capaz de entender nuances, usar de empatia para se colocar no lugar do outro, entender suas necessidades para entregar os melhores insights aos tomadores de decisão.
Essa preocupação que as pessoas têm com o papel que humano terá num futuro dominando pelo uso da Inteligência Artificial é legítima. A mesma pesquisa Global Views on AI, mostra que o Brasil é o quarto país que mais acredita que a IA vai mudar a forma de trabalho como conhecemos hoje, 73%, concordam com a afirmação, e 57% dos brasileiros acreditam que a IA vai substituir o seu trabalho atual. Já para 55% as ferramentas com o uso dessa tecnologia vão ajudar a fazer melhor o seu trabalho nos próximos anos.
Embora, sim, incertezas existam, é inegável que a IA estará cada vez mais presente no nosso dia a dia. 70% dos brasileiros entrevistados na pesquisa dizem que produtos usando Inteligência Artificial mudarão drasticamente suas rotinas nos próximos 3 a 5 anos, e 67% afirmam que o uso da IA vai ajudá-los a economizar tempo em todas as atividades.
Pode soar clichê dizer, mas o futuro já está aqui. À medida que essa tecnologia se desenvolve, o mundo verá novas startups, inúmeros novos aplicativos e, certamente, mudanças profundas no mercado de trabalho e a criação de novos empregos. Desde o advento da internet, talvez estejamos vivendo o momento mais transformador em todos os aspectos como sociedade. Uma nova era com potencial de reorganizar drasticamente a economia global.
[1] “Global Views On A.I. 2023” foi realizada pela Ipsos em 31 países, com 22.816 entrevistados, sendo aproximadamente mil entrevistados no Brasil, entre 26 de maio a 9 de junho de 2023. A margem de erro para o Brasil é de 3,5 pontos percentuais.