Inteligência Artificial

Como a inteligência artificial pode ajudar a prever a demência?

Pesquisa em universidades escocesas busca criar ferramentas digitais que antecipem diagnósticos de demência e melhorem tratamentos

Projeto pioneiro pretende analisar 1,6 milhão de tomografias e ressonâncias para tentar prever demência.  (iLexx/Thinkstock)

Projeto pioneiro pretende analisar 1,6 milhão de tomografias e ressonâncias para tentar prever demência. (iLexx/Thinkstock)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 26 de agosto de 2024 às 09h42.

Cientistas das universidades de Edimburgo e Dundee, na Escócia, estão conduzindo um projeto pioneiro de pesquisa que promete revolucionar a forma como a demência é diagnosticada e tratada. Utilizando inteligência artificial (IA), os pesquisadores irão analisar até 1,6 milhão de exames cerebrais, incluindo tomografias computadorizadas (CT) e ressonâncias magnéticas (MRI), com o objetivo de desenvolver uma ferramenta capaz de prever o risco de demência em pacientes. Este projeto faz parte de um esforço global denominado NEURii, que busca integrar tecnologia avançada ao campo da neurociência para enfrentar um dos maiores desafios de saúde pública da atualidade.

De acordo com o The Guardian, a demência, que atualmente afeta cerca de 55 milhões de pessoas no mundo, é uma doença degenerativa que prejudica a memória, o pensamento e o comportamento. As previsões indicam que, até 2050, o número de pessoas vivendo com demência poderá quase triplicar, alcançando 153 milhões de casos. Este aumento drástico representa uma ameaça crescente aos sistemas de saúde e assistência social em todo o mundo. Somente em termos financeiros, os custos associados à demência já ultrapassam US$ 1 trilhão por ano, equivalente a aproximadamente R$ 5,49 trilhões, e este valor tende a crescer à medida que a população global envelhece.

A proposta dos pesquisadores escoceses é usar IA para correlacionar os dados de imagem dos exames cerebrais com registros de saúde vinculados, a fim de identificar padrões que possam sinalizar o desenvolvimento da demência em seus estágios iniciais. A esperança é que, com essa abordagem, seja possível não apenas prever o risco de demência, mas também diagnosticar a doença mais cedo, o que poderia melhorar significativamente o tratamento e a qualidade de vida dos pacientes.

Inovação com inteligência artificial

A inovação deste projeto reside na capacidade da IA de processar e analisar uma quantidade massiva de dados em um curto período, algo que seria inviável para seres humanos. A IA pode identificar sutilezas e correlações nos dados que passariam despercebidas em análises convencionais, permitindo uma compreensão mais profunda dos fatores que contribuem para o desenvolvimento da demência. Os pesquisadores acreditam que as ferramentas digitais desenvolvidas a partir deste estudo poderão ser integradas ao trabalho diário dos radiologistas, auxiliando na identificação de pacientes em risco e permitindo intervenções precoces

O estudo será realizado com a aprovação do painel de benefícios públicos e privacidade da saúde e assistência social, vinculado ao NHS Scotland. Para garantir a segurança e a privacidade dos dados, as informações coletadas serão armazenadas no Scottish National Safe Haven, uma plataforma segura comissionada pelo Public Health Scotland para o uso de dados eletrônicos de saúde em pesquisas. Este ambiente seguro permitirá que os pesquisadores acessem e analisem os dados sem comprometer a privacidade dos pacientes.

Um dos objetivos principais deste projeto é criar uma base de dados robusta que possa ser utilizada não apenas para prever a demência, mas também para acelerar o desenvolvimento de novos tratamentos. A demência é uma doença complexa, e os tratamentos atualmente disponíveis são limitados, caros e, muitas vezes, de eficácia incerta. Ao coletar e analisar dados de um grande grupo de pessoas com alto risco de desenvolver a doença, os pesquisadores esperam identificar novos alvos terapêuticos e desenvolver tratamentos mais precisos e eficazes.

Além de ajudar no diagnóstico precoce e no desenvolvimento de novos tratamentos, os pesquisadores acreditam que o uso aprimorado de exames cerebrais simples pode melhorar a compreensão geral da demência. Atualmente, a demência é diagnosticada com base em uma combinação de sintomas clínicos e exames neurológicos, mas essas abordagens muitas vezes identificam a doença em estágios avançados, quando as opções de tratamento são limitadas.

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