Em 2023, Gates desafiou a OpenAI a desenvolver um modelo capaz de obter nota máxima no exame de Biologia do ensino médio norte-americano (Thierry Monasse/Getty Images)
Redação Exame
Publicado em 27 de março de 2025 às 09h54.
Última atualização em 28 de março de 2025 às 10h29.
Na próxima década, a inteligência artificial deverá tornar desnecessária a participação humana em grande parte das atividades produtivas e intelectuais, segundo Bill Gates. O cofundador da Microsoft afirmou, em entrevista ao comediante Jimmy Fallon no programa The Tonight Show, da NBC, que avanços recentes tornaram possível imaginar um cenário em que “excelentes conselhos médicos e ótima tutoria” estejam disponíveis gratuitamente.
A afirmação reforça o conceito que Gates tem chamado de inteligência livre, um novo estágio de desenvolvimento da IA que, segundo ele, vai democratizar o acesso a serviços hoje considerados de alta complexidade, como diagnósticos médicos e educação especializada.
Em entrevista ao professor de Harvard Arthur Brooks, Gates destacou que essa transformação será rápida, profunda e inevitável. Ele defende que o acesso a ferramentas de IA não apenas transformará o mercado de trabalho, mas tocará quase todos os aspectos da vida cotidiana, dos medicamentos a assistentes virtuais.
No entanto, ele admite que o processo levanta preocupações legítimas. A substituição de profissionais por IA, embora promissora em termos de eficiência e escala, representa um risco real de deslocamento em massa na força de trabalho.
Enquanto Gates mantém uma visão otimista sobre os benefícios da tecnologia — como avanços contra doenças, soluções climáticas e educação acessível —, outros especialistas veem um cenário de instabilidade. O CEO da Microsoft AI, Mustafa Suleyman, afirmou em seu livro The Coming Wave que os avanços dos próximos anos trarão uma transformação “extremamente desestabilizadora” para o emprego.
Para Suleyman, a IA “aumentará temporariamente” a inteligência humana, mas seu efeito de longo prazo é substituir o trabalho. Ainda assim, há quem defenda que a tecnologia pode criar novas oportunidades e impulsionar o crescimento econômico, desde que regulada e implementada com responsabilidade.
Gates, por sua vez, reconhece que algumas funções nunca serão totalmente automatizadas — como o entretenimento esportivo —, mas acredita que atividades como agricultura, logística e manufatura serão amplamente automatizadas.
Apesar das incertezas, o ex-CEO da Microsoft vê a IA como uma “oportunidade fantástica”. Em setembro de 2024, afirmou à CNBC que, se fosse começar um novo negócio do zero, escolheria uma startup baseada em inteligência artificial. “Hoje, alguém pode levantar bilhões com apenas um esboço de ideia em IA”, disse.
O entusiasmo de Gates pela IA não é recente. Em 2017, ao lado do investidor Warren Buffett, ele elogiou o avanço do DeepMind — laboratório de IA do Google — por desenvolver um sistema capaz de vencer humanos no jogo de tabuleiro Go. À época, a ideia de modelos como o ChatGPT ainda parecia distante.
Em 2023, Gates desafiou a OpenAI a desenvolver um modelo capaz de obter nota máxima no exame de Biologia do ensino médio norte-americano. Esperava que o processo levasse anos. “Eles conseguiram em poucos meses”, escreveu em seu blog. O feito foi considerado por ele “o avanço mais importante em tecnologia desde a criação da interface gráfica nos anos 1980”.