Inteligência Artificial

Assim como os EUA baniram a Huawei, a Europa cogita restringir o Vale do Silício

Empresas têm sido explícitas em suas preocupações com utilizar provedores de nuvem dos EUA diante das ameaças de Trump de anexar a Groenlândia

Ramana Rech
Ramana Rech

Redatora

Publicado em 26 de março de 2025 às 11h00.

Última atualização em 26 de março de 2025 às 11h16.

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Empresas da União Europeia começaram a migrar de provedores de nuvem dos Estados Unidos para alternativas locais nas últimas semanas, segundo informações de companhias europeias do setor à revista Wired. Algumas já iniciaram o processo de transição.

A tendência surge em um contexto de crescente desconfiança em relação à tecnologia norte-americana. O avanço do mandato de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos tem gerado preocupações entre organizações europeias, que temem que empresas dos EUA possam ser utilizadas como instrumentos de pressão geopolítica.

Nos últimos meses, o tema da soberania digital ganhou força na Europa. Diversas instituições do continente assinaram uma carta pedindo à União Europeia a criação de políticas industriais que garantam maior independência do bloco em relação a infraestruturas tecnológicas estrangeiras.

Entre os fatores citados para a saída dos provedores norte-americanos, está o episódio em que Trump defendeu a anexação da Groenlândia — o que repercutiu negativamente, sobretudo entre clientes dinamarqueses. Segundo a Exoscale, empresa com sede na Suíça, “os clientes da Dinamarca foram muito explícitos de que eles queriam se mudar dos hiperescaladores dos Estados Unidos por conta da administração dos Estados Unidos e o que disse sobre a Groenlândia”.

A sueca Elastx também relatou aumento na procura por serviços de nuvem europeus. Para a empresa, o distanciamento político entre Europa e Estados Unidos é percebido por muitos clientes como um rompimento de confiança. “Na perspectiva dos europeus, os Estados Unidos já não são mais um aliado. Esses são impulsionadores que fazem com que pessoas ou organizações procurem por alternativas.”

Outro ponto sensível é a aprovação da Lei CLOUD, sigla para Clarifying Lawful Overseas Use of Data, que pode permitir que autoridades dos EUA obtenham dados de usuários mesmo quando armazenados fora do território americano, desde que estejam em servidores de empresas com sede nos Estados Unidos. Isso levanta dúvidas sobre a privacidade e o controle das informações.

Empresas menores, como a austríaca SkukWerks, afirmaram que já iniciaram o processo de migração de servidores e bancos de dados para fora dos EUA no início deste ano, para preservar a privacidade dos clientes. A mudança, porém, é mais complexa para grandes companhias, podendo levar meses.

Em resposta, a AWS, plataforma de nuvem da Amazon, negou que esteja perdendo clientes para concorrentes europeus. A empresa afirma que seus serviços oferecem suporte à criptografia com chaves controladas pelo próprio cliente e que a Lei CLOUD prevê “proteções adicionais para conteúdo em nuvem”. “Os clientes têm controle total sobre quem acessa seus dados”, disse a empresa ao Wired.

Apesar dos indícios de migração, analistas indicam que o impacto imediato tende a ser limitado. Grande parte dos governos e negócios ao redor do mundo ainda utiliza serviços norte-americanos em larga escala, especialmente para autenticação e processamento de dados em soluções de inteligência artificial.

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