Inteligência Artificial

A nova era da publicidade

O que Bruna Ferreira, na DM9, pode ensinar sobre o setor

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 21 de março de 2025 às 18h14.

Há poucos dias, me sentei para um café virtual com a Bruna Ferreira, uma profissional que vem sacudindo o mercado publicitário brasileiro. Bruna é head de inteligência artificial na DM9, uma das maiores agências do país, e ex-aluna do nosso MBA em Inteligência Artificial da EXAME, do qual tenho a honra de ser coordenador. Como alguém que respira inovação, fiquei impressionado ao ver como ela transformou completamente a forma de trabalhar de sua equipe — e tudo isso em menos de um ano.

Logo de cara, me chamou a atenção a confiança de Bruna: “Eu não tinha formação em tecnologia. Sou publicitária, de negócios. Mas percebi que a IA vai muito além de uma simples tendência. Comecei a estudar por conta própria e, depois, decidi me especializar de verdade, no MBA da EXAME.” Foi daí que ela ganhou fôlego não só para entender tecnicamente as ferramentas, mas para identificar oportunidades de aplicá-las no dia a dia da DM9.

Enquanto conversávamos, lembrei de uma estatística que publicamos recentemente na EXAME: cerca de 65% das agências no Brasil já afirmam usar alguma forma de inteligência artificial em suas operações, mas apenas 18% se consideram preparadas para fazer disso uma vantagem competitiva. Bruna me contou que, ao se deparar com essa realidade, decidiu agir rápido: “Eu via as pessoas ainda trabalhando em tarefas operacionais exaustivas. Pensei: ‘Por que não usar IA para liberar tempo e energia criativa?’”

Ela começou dentro do próprio departamento de negócios — onde atuava antes de assumir a liderança em IA — usando ferramentas simples que transformavam horas de retrabalho em minutos de automação. Em vez de produzir relatórios manualmente, passou a contar com agentes que compilavam dados de reuniões, redigiam sumários e até sugeriam percepções. Com resultados tão imediatos, não demorou para que a liderança da DM9 topasse criar uma área de IA focada em potencializar todas as frentes da agência: criação, atendimento, planejamento e mídia.

O que achei mais marcante foi a coragem dela em levar essa ideia direto ao presidente da DM9. “Eu me preparei para ter ali uns oito minutos de atenção e precisava ser objetiva”, contou. “Mostrei resultados, exemplos práticos, e, principalmente, o quanto essa visão de IA se ligava ao DNA criativo da agência. Deu certo: nascia então a área de Inteligência Artificial.” Para quem pensa que é só ‘um papo de tecnologia’, Bruna reforçou que a DM9 segue contratando mais gente do que antes. “Não demitimos ninguém. Pelo contrário, a IA nos ajuda a entregar mais com mais qualidade. Agora, a equipe está mais livre para inovar e criar campanhas memoráveis.”

Nesse ponto do nosso papo, recordei outro dado de nossas pesquisas na EXAME: 45% dos CMOs entrevistados disseram que “falta de cultura digital” é uma grande barreira à adoção de IA. E cultura não muda de uma hora para outra. Bruna explicou que no início enfrentou resistência de algumas pessoas, que diziam “isso vai tirar meu emprego” ou “as imagens e textos vão ficar pasteurizados”. Para quebrar preconceitos, ela apostou em evangelizar internamente, chamando profissionais um por um e mostrando a utilidade prática da inteligência artificial.

“Teve diretor de arte que dizia ‘não quero usar IA para gerar layout, fica tudo estranho’. Mas depois que viram o potencial de usar ferramentas para, por exemplo, criar referências visuais ou acelerar mockups, todo mundo começou a recorrer à IA”, ela me disse. A chave foi provar na prática que essas novas ferramentas não substituem a criatividade — elas a amplificam. Até surgiram casos curiosos: “Às vezes, a IA gera uma imagem com seis dedos, mas se a gente interagir e refinar, o resultado sai excelente. O ser humano continua no controle.”

Perguntei se ela tinha algum caso de uso favorito. Bruna contou de uma ação para um grande cliente do mercado imobiliário. Eles usaram IA para produzir jingles que mencionavam os nomes dos corretores e falavam de dados específicos, numa abordagem muito mais personalizada. “Foi um jeito divertido de engajar esses parceiros, algo que só conseguimos pela facilidade de gerar conteúdo em escala.” E completou: “Noventa por cento do que a gente faz com IA hoje nem chega a aparecer como ‘a campanha inteira feita por inteligência artificial’. São microcoisas que otimizam o processo e permitem que a criação seja mais ousada.”

É justamente aí que o MBA em IA da EXAME teve peso, segundo ela. “O curso me deu base técnica e, principalmente, estratégia de negócio. Não basta saber que a IA gera imagem ou texto. Você tem que entender viabilidade, escalabilidade, impacto, o que consegue de fato resolver na rotina das pessoas.” Bruna usou esses conhecimentos para construir do zero um fluxo de trabalho: identificar a dor do time, avaliar se o problema pedia uma solução pronta ou o desenvolvimento de uma ferramenta interna, e só então executar.

Outro ponto que abordamos foi o receio comum de que “todo mundo vai usar IA, então todos os anúncios ficarão iguais.” Ela discorda completamente: “Ferramentas são acessíveis a todos, mas o diferencial está em quem as manuseia com profundidade, criatividade e senso crítico. O software em si não cria ideias memoráveis. São as pessoas.” Isso se alinha ao que venho destacando há tempos aqui na EXAME: IA não substitui o talento humano, ela elimina etapas operacionais, acelera pesquisa e libera a capacidade intelectual de cada um para inovações mais originais.

Quando perguntei sobre os próximos passos, Bruna não conteve a animação: “Quero levar a DM9 para o topo da aplicação de IA na publicidade. A evolução é tão rápida que todo mês surge algo novo. A gente está construindo agentes personalizados, ferramentas para clientes que vão além do marketing digital, e até produtos próprios da agência. Dá trabalho, mas a satisfação de ver a equipe voando é enorme.” A sede por conhecimento dela é notável. Depois do MBA em IA, ela já considera até escrever um livro ou se aprofundar em temas como computação quântica aplicada ao marketing.

Durante a conversa, me vi admirado com a energia de alguém que começou apenas “curiosa” e se tornou líder de um dos pilares estratégicos de uma grande agência. Mais do que um case de sucesso, a história da Bruna é um lembrete de que a mudança em qualquer organização começa por indivíduos que tomam a iniciativa. “Sempre digo aos meus colegas: se eu, sem background de TI, fiz, qualquer um pode fazer. A questão é estudar, conversar com as pessoas certas e ser corajoso para propor algo novo.”

A visão de Bruna, no fim, é simples e, ao mesmo tempo revolucionária: IA não é um bicho-papão que vai engolir empregos ou pasteurizar a propaganda. É uma tecnologia que, quando bem usada, traz eficiência, reduz a sobrecarga e alimenta o potencial criativo de um time. Ou, como ela mesma brincou: “É a melhor dupla que existe: gente talentosa e IA potente.”

Minha provocação final para quem está lendo este artigo — principalmente para os C-levels que buscam rumos claros em meio a tantas novidades — é a seguinte: quem está liderando a IA na sua empresa? Será que vocês têm uma “Bruna” batendo na porta da diretoria com uma ideia visionária, mas não encontram espaço? E, mais importante, o que a sua companhia está fazendo para encorajar pessoas a descobrirem, aprenderem e implementarem a IA com propósito?

Quando vejo histórias como a da Bruna, reforço minha convicção de que o talento, somado à aprendizagem correta e o aval da liderança, é a receita para levar a inteligência artificial a um lugar de impacto positivo, seja em agências de publicidade ou em qualquer outro setor. O futuro está acontecendo agora e, como mostra a DM9, não há mais tempo para hesitar.

 Assista a entrevista completa aqui.

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