Imagem criada por @inventormiguel usando o MidJourney (MidJourney/Reprodução)
Chief Artificial Intelligence Officer da Exame
Publicado em 21 de junho de 2024 às 12h20.
Última atualização em 21 de junho de 2024 às 14h32.
Em uma recente viagem de avião, me vi refletindo sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) em nossas vidas. Entre turbulências e assentos vazios, pensei em como a IA está transformando nossa relação com o tempo, o trabalho e até mesmo o humor.
Minha obsessão com a otimização do tempo me levou a usar o ChatGPT enquanto corria pelo aeroporto. Conversei com a IA, pedi resumos e até criei conteúdo para as redes sociais. Tudo isso enquanto me deslocava para o embarque. É incrível, não é? Mas também preocupante.
Essa hiperconectividade nos permite trabalhar constantemente, mesmo em trânsito. A IA nos ajuda a ser mais produtivos, mas será que não está piorando nossa tendência de estar sempre com pressa? Quando perguntei ao ChatGPT sobre isso, ele sugeriu estabelecer pausas programadas. Uma ideia sensata, mas que levanta a questão: precisamos de uma IA para nos lembrar de descansar?
Curiosamente, quando tentei usar o ChatGPT para relaxar, pedindo histórias engraçadas e piadas, percebi suas limitações. As tentativas de humor da IA foram, no mínimo, desajeitadas. Isso me lembrou de uma pesquisa recente conduzida por Piotr Mirowski, do Google DeepMind, sobre o uso de IA na comédia. Publicamos essa semana na EXAME.
O estudo revelou que, embora os comediantes gostem de usar IA para escrever piadas, eles não se orgulham do material gerado. Um participante descreveu o resultado como "material de comédia de navio de cruzeiro da década de 1950, mas um pouco menos racista". Outro exemplo: quando pedido para criar piadas sobre furtos, a IA respondeu com: "Decidi mudar de carreira e me tornar um batedor de carteiras depois de assistir a um show de mágica. Mal sabia eu, a única coisa que desapareceria seria minha reputação!"
Essas limitações na geração de humor revelam algo profundo sobre a IA. Ela pode processar informações e criar conteúdo com incrível eficiência, mas ainda luta com nuances culturais, timing cômico e o imprevisível toque humano que faz uma piada realmente funcionar.
Além disso, a Inteligência Artificial não tem uma propensão a entender uma piada. Em um teste pessoal, eu fiz a programadores a seguinte pergunta: “Qual a estrutura de dados favorita do Alceu Valença?”.
A maior parte disse que não sabia, e ficou curioso para saber, já esperando ser uma piada.
A Inteligência Artificial respondeu:
A resposta correta, que a graça da piada, você pode ouvir aqui. É uma piada nerd de programadores, mas é engraçada. 100% dos entrevistados enviaram mensagens indicando que riram. A resposta da IA não tem a menor graça.
Isso nos leva a uma reflexão maior sobre o futuro da interação humano-IA. Enquanto a IA continua a surpreender com suas capacidades em várias áreas, ela também nos mostra, através de suas limitações, o valor insubstituível da criatividade e da intuição humana.
À medida que navegamos neste novo mundo impulsionado pela IA, devemos buscar um equilíbrio. Podemos aproveitar a eficiência e produtividade que a IA oferece, mas não podemos esquecer de reservar tempo para o descanso, a criatividade e, sim, até mesmo para rir de piadas ruins - sejam elas geradas por humanos ou por máquinas.
Talvez a verdadeira inteligência esteja em saber quando desligar o ChatGPT e simplesmente apreciar o silêncio de um voo noturno, mesmo com toda a turbulência que a vida (e a tecnologia) possa trazer.