Inteligência Artificial

A Apple e a corrida pela IA

Do duelo épico à cautela estratégica

Loja da Apple: em Nova York, nos EUA (Leandro Fonseca/Exame)

Loja da Apple: em Nova York, nos EUA (Leandro Fonseca/Exame)

Miguel Fernandes
Miguel Fernandes

Chief Artificial Intelligence Officer da Exame

Publicado em 28 de outubro de 2024 às 18h00.

Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 09h52.

A mudança no mercado de tecnologia deixou uma marca, mas há quem sinta falta da rivalidade entre Apple e Microsoft dos anos 90 e início dos anos 2000. Naquela época, o embate tinha rostos e personalidades fortes: Bill Gates, o nerd pragmático da Microsoft, e Steve Jobs, o visionário de poucas concessões da Apple. As empresas, representadas por seus líderes, se enfrentavam em comerciais que não só vendiam produtos, mas promoviam uma filosofia de vida. A Apple, por exemplo, construiu sua imagem de “rebelde cool” em contraste ao establishment corporativo da Microsoft, criando uma identidade quase antagônica à “solidez” da concorrente.

Hoje, no entanto, essa dinâmica mudou drasticamente. Sob a gestão de Tim Cook e Satya Nadella, Apple e Microsoft tornaram-se gigantes mais cautelosos e estratégicos, onde a inovação se move em um ritmo calculado. As disputas pessoais e declarações públicas foram substituídas por um jogo corporativo de xadrez, focado em crescimento e parcerias. Em vez das apostas visionárias, temos produtos e serviços que buscam atender à demanda de um mercado mais complexo e globalizado.

Apple e Microsoft no mercado de IA

Ainda assim, há desafios que as gigantes enfrentam ao tentar se adequar à nova onda da Inteligência Artificial (IA). Cook lançou recentemente o Vision Pro, um óculos de realidade aumentada que busca posicionar a Apple na computação espacial, embora a recepção do mercado tenha sido mista. Enquanto Jobs, com o iPhone, havia transformado a computação móvel ao criar uma interface intuitiva e única, Cook parece buscar um caminho com múltiplas opções e interfaces. Essa estratégia de “personalização” contrasta com a simplicidade radical, marca registrada da Apple, que, com Jobs, buscava eliminar a complexidade e não multiplicá-la.

Para se manter relevante no campo da IA, a Apple aposta em uma parceria com a OpenAI, visando uma solução temporária até que consiga desenvolver uma tecnologia proprietária para IA. A ideia é fortalecer o ecossistema da Apple com o uso de IA local, mas essa abordagem mais segura pode indicar, para muitos, que a empresa está hesitante quanto ao futuro dessa tecnologia.

A Apple conseguirá simplificar o complexo na era da IA?

Ao entrar em um campo onde o desenvolvimento contínuo é essencial, a Apple enfrenta uma nova geração de empresas que dita as regras, desenvolvendo soluções inovadoras em um ritmo que grandes corporações como Apple e Microsoft têm dificuldade de acompanhar. A expectativa é que a Apple traga uma IA que capture a "magia" pela qual ficou conhecida, mas a abordagem cautelosa adotada até o momento levanta uma questão importante: a empresa está realmente “pensando diferente” o suficiente para liderar o mercado de IA?

No final, a tecnologia que captura o público é aquela que parece mágica e intuitiva, atributos que a Apple sempre promoveu. No entanto, o atual cenário de parceria e terceirização pode diluir a essência de inovação pura, da qual a Apple foi pioneira e que agora precisa, mais do que nunca, revitalizar.

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