Skillshare, a 'Netflix dos profissionais criativos' investe R$ 25 mi para chegar à América Latina
Edtech norte-americana oferece acesso a todos os cursos com assinatura única e anual; foco agora é produzir mais conteúdo em português
Publicado em 21 de junho de 2022 às 13:04.
Última atualização em 21 de junho de 2022 às 13:44.
A Skillshare, edtech norte-americana voltada a profissionais criativos, anuncia nesta terça-feira que vai investir US$ 5 milhões (ou R$ 25 milhões, aproximadamente) para chegar à América Latina e que tem o Brasil como um dos principais mercados para a expansão. A plataforma tem hoje cerca de 40 mil cursos disponíveis e como principal diferencial o fato de que funciona como uma plataforma de streaming, com pagamento fixo por ano para acessar todos os conteúdos disponíveis. Além disso, também permite que qualquer profissional ligado à parte criativa possa ser um professor na plataforma – uma estratégia similar à de plataformas como Hotmart e Eduzz. “Observamos o aumento da procura de brasileiros por nosso conteúdo e acreditamos no potencial de expansão por aqui. Hoje, o país é um dos ‘top 10’ dentro da nossa base, mas acreditamos que com conteúdo local pode chegar a ser um dos 'Top 3’ nos próximos dois anos", diz Nicolas Scafuro, VP e Head of Internacional da Skillshare, ao EXAME IN. Ao todo, a empresa tem 870 mil dentro da sua base, sendo que metade deles já vem de fora dos Estados Unidos.
Além do Brasil, na América Latina, a companhia vai chegar oficialmente também no México, Colômbia e Argentina. Na Europa, Alemanha e França também devem ter o foco da Skillshare. Trata-se apenas do primeiro passo para a expansão internacional. “A pandemia realmente trouxe um boom e a gente aproveitou, com certeza. Agora, o que vemos é que as pessoas ainda estão conectadas, querem aprender uma nova habilidade, especialmente nesse momento atual de crise. Queremos ajudá-las tanto a terem mais uma fonte de renda ou a terem um emprego melhor com mais conhecimento”, diz o executivo. Hoje, a companhia tem alunos em 150 países.
O plano de expansão começou a ser desenhado no ano passado, com a captação série D feita pela companhia em 2020, na qual arrecadou US$ 70 milhões. O aporte foi liderado pelo fundo de pensão público canadense OMERS e teve todos os outros fundos de venture capital que participaram das rodadas anteriores: Union Square Ventures, Amasia, Burda Principal Investments e Spero Ventures. A última empresa a entrar foi a Adobe (dona de softwares ligados a esses profissionais, como Photoshop e Illustrator). A companhia foi fundada em 2010 por Michael Karnjanaprakorn e, de lá para cá, já levantou mais de US$ 108 milhões em rodadas de captação.
Se antes a companhia privilegiava a expansão dentro dos EUA, o foco agora é o mercado externo. Para isso, em 2021, o primeiro passo foi a inclusão de legendas para os conteúdos -- feitos principalmente em inglês. São 40 mil cursos disponíveis na plataforma, cada um com cerca de 60 minutos de aula e, aproximadamente, 22 milhões de palavras que precisavam de alguma tradução. Como resultado do esforço dos últimos 12 meses, a companhia já consegue disponibilizar legendas em inglês, português, espanhol, francês e alemão. Além disso, também disponibiliza a 'home' do site adaptada a cada um desses idiomas, facilitando a interação de possíveis alunos com a plataforma desde o primeiro acesso, e a inclusão de diferentes meios de pagamento, também de olho em se aproximar do público em cada país.
Agora, o foco estará em usar mais dos recursos da captação para investir em marketing e atrair mais professores. Hoje, são 14 mil professores dentro da plataforma, dos quais 500 são da América Latina e 100 são do Brasil. “Nosso kick-off no Brasil é de fazer um evento pra atrair novos criadores. pro lançamento já temos uma série de aulas em português que já vão estar disponíveis em complemento ao nosso catálogo. vamos oferecer a oportunidade a qualquer um, ter uma receita extra sendo um professor”, diz o executivo.
Especialmente neste último tópico, vale destacar: qualquer profissional pode gravar (da maneira que preferir) uma aula sobre um tema que domine e submeter esse conteúdo à aprovação da Skillshare. As aulas passam por uma análise especializada da companhia e, caso seja aprovada, fica disponível para os alunos. A remuneração acontece de duas maneiras: uma, parecida com ‘royalties’ para cada professor, de acordo com o engajamento que os alunos têm para aquela aula, principalmente considerando a quantidade de minutos vistos. Na prática, quanto melhor a aula, mais visibilidade ela tende a ter e mais dinheiro pode gerar.
Nicolas explica que não é possível que um professor ‘anuncie’ o curso dentro da plataforma para ter mais visibilidade. “Os cursos aparecem para os usuários de acordo com o perfil e áreas de interesse que cada pessoa tem. Não temos como privilegiar uma aula ou outra, já que cada perfil conta com diferentes características”, diz.
Além disso, o executivo ressalta que trata-se de um espaço em que pessoas podem encontrar uma base maior de espectadores para o conhecimento que têm, em vez de terem de construir do zero a própria audiência. Mas, se quiserem trazer a própria audiência, também são remunerados por isso. Ao ter um curso aprovado na Skillshare, professores ganham um link especial para repassar a outras pessoas e, caso elas façam a ‘matrícula’, 60% do valor anual do pagamento vai para o professor.
O valor da mensalidade varia de país para país, sempre com a ideia de ser acessível. Hoje, nos Estados Unidos, o plano anual para pessoa física custa cerca de US$ 800. No Brasil, com a chegada oficial, o plano custará R$ 204. Por enquanto, ainda não é possível parcelar esse valor, mas já é algo que a companhia estuda, dado o comportamento do público brasileiro.
A única fonte de receita da companhia é, inclusive, a das assinaturas. Hoje, nos Estados Unidos, além de cursos para pessoa física, a empresa também vende para empresas. No segmento corporativo, as companhias têm acesso ao mesmo acervo, com o adicional de que há algumas ferramentas personalizáveis para indicar aulas específicas para cada colaborador.
Hoje, são quatro grupos alunos que compõem a plataforma: estudantes, profissionais criativos (o maior grupo), pessoas com hobbies na área criativa e empreendedores que querem conhecer mais sobre o mundo digital. Com site e app, é possível começar a assistir um conteúdo no computador e terminar no celular, por exemplo. Além de assistirem às aulas, os alunos também contam com um fórum para trocar experiências e dúvidas. “Acreditamos muito no ‘aprender fazendo’. Vamos continuar expandindo esse senso de comunidade cada vez mais”, diz o executivo.
Futuro
Diante dos tempos mais adversos para captações, o executivo afirma que a companhia já estava ‘financeiramente estabilizada’ antes da captação e que os recursos serão totalmente destinados à entrada em outros países. “Temos um produto com um excelente custo-benefício. São 200 reais para ter acesso a uma gama completa de cursos, enquanto muitas pessoas pagam 200 reais em apenas um curso”, diz.
Ainda assim, não se trata de um mercado necessariamente fácil a ser explorado pela empresa. Concorrentes (ainda que indiretas) como a Udemy, têm enfrentado tempos difíceis na bolsa. A companhia, para informação, tinha as ações cotadas à máxima de US$ 32,62 no último ano e, hoje, tem o preço do papel em US$ 12,28, próximo da baixa no último ano, de US$ 9,66. A Coursera, também norte-americana, passa por uma situação similar, com o papel cotado a US$ 13,43, distante da máxima de US$ 44,86. A estratégia da Skillshare, ao que tudo indica, é enfrentar os tempos mais turbulentos com calma - de olho em ganhar essa queda de braço no volume de pessoas que devem entrar na plataforma. E em um nicho cada vez mais machucado em termos de oferta de trabalho diante da crise econômica atual.
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