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Roche paga US$ 3,1 bi por biotech de olho em 'novo Ozempic'

Compra da Carmot é porta entrada um mercado de US$ 140 bilhões; aposta, no entanto, pode demorar mais de seis anos para se consolidar

Roche: compra bilionário para entrar no mercado de tratamentos para perda de peso (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket via Getty Images/Site Exame)
Roche: compra bilionário para entrar no mercado de tratamentos para perda de peso (Rafael Henrique/SOPA Images/LightRocket via Getty Images/Site Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 4 de dezembro de 2023 às 17:07.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 16:09.

A farmacêutica Roche apostou alto – mais exatamente US$ 3,1 bilhões - para entrar num mercado que vem ganhando corpo: o de medicamentos para controle de obesidade. A empresa suíça anunciou nesta segunda-feira, 04, a compra da Carmot Therapeutics, que está desenvolvendo de uma medicação similar ao Ozempic.  

Com sede em Berkeley, na Califórnia, a Carmot tem uma série de ativos baseados no chamado GLP-1, agonistas do peptídeo 1 semelhante ao glucagon, princípio trás de uma nova geração de medicamentos que foram desenvolvidos para ajudar a controlar os níveis de açúcar no sangue em pessoas com diabetes – e vem sendo cada vez mais utilizados para controle do apetite. 

A receita que fez Ozempic, da Novo Nordisk, se tornar o queridinho da indústria é similar à do Mounjaro, da Eli Lilly. Os GLP-1 também estão na base de um medicamento específico para perda de peso, o Wegovy, desenvolvido pela Novo Nordisk. Esse mercado, que está revolucionando a perda de peso, é estimado em até US$ 140 bilhões.  

Pelos termos do acordo, a Roche pagará aos acionistas da Carmot um montante inicial de US$ 2,7 bilhões e mais US$ 400 milhões, dependendo do atingimento de determinadas metas pela empresa americana. 

A Roche já vinha tentando entrar nesse mercado há anos, sem conseguir sucesso com os tratamentos que tentou desenvolver. Além da Nordisk e da Lilly com seus injetáveis, a AstraZeneca e a Pfizer estão buscando tratamentos em forma de comprimidos.  

A Carmot está desenvolvendo três moléculas que poderiam desafiar as concorrentes e tinha acabado de publicar prospectos para seu IPO nos Estados Unidos. No documento, afirmava que os recursos captados seriam usados no desenvolvimento de tratamentos injetáveis diários e semanais além de um tratamento oral.  

As ações da Roche subiram 2,80% no pregão de hoje em Zurique. A notícia foi bem recebida pelos investidores depois de falhas na fase final de pesquisas de um medicamento contra o Alzheimer, que era uma das grandes apostas da farmacêutica.  

Na corrida para rejuvenescer seu pipeline, em outubro, a farmacêutica já tinha pago US$ 7,1 bilhões pela Telavant, que desenvolve tratamento para doenças intestinais. Tanto essa quanto agora a compra da Carmot são vistas como uma forma de “rejuvenescer o pipeline” da companhia, segundo analistas do Jefferies.  

Tradicional nas terapias contra câncer, a Roche tem visto seu negócio estagnar. A projeção para esse ano é de que a receita fique na casa de 60 bilhões de francos suíços (US$ 69 bilhões), uma redução em relação aos dois últimos anos conforme a demanda por testes de covid-19 desaparece. No acumulado do ano, as ações da companhia ainda caem 16%.  

A transação, anunciada hoje, no entanto, enfrenta olhares mais céticos. Analistas do Morgan Stanley alertaram para o fato de que o injetável semanal da Carmot pode demorar seis anos para chegar ao mercado e “é improvável que ofereça uma grande melhoria” em relação ao tratamento comparável da Lilly.  

Além disso, já estando na liderança, tanto a Lilly quanto a Nordisk têm mais chances de se consolidar nessa dianteira à medida que desenvolvem novas gerações de seus tratamentos. Para os analistas do Morgan Stanley, a melhor chance de sucesso da Roche pode estar na combinação dos compostos adquiridos com outros ativos farmacêuticos, mas “isso exigirá despesas de capital relevantes”.  

O desafio é convencer o mercado de que Thomas Schinecker, CEO da Roche desde março deste ano, está escolhendo os melhores remédios para fazer a farmacêutica voltar a crescer.  

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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