Por que a Klabin investiu R$ 330 milhões na IP em plena pandemia?
Aquisição de ativos da International Paper estava em andamento desde o início do ano, e mostra que o mercado de embalagens não deve sofrer com covid-19
Publicado em 30 de março de 2020 às 17:49.
Última atualização em 31 de março de 2020 às 21:21.
A primeira transação anunciada em meio à crise de preço de ativos gerada pela pandemia do coronavírus, a compra dos ativos de embalagens e papel ondulado da International Paper (IP) pela Klabin por 330 milhões de reais, já teria sido paga se a reação de mercado quitasse compromissos.
As units da Klabin, uma cesta com ações ordinárias e preferenciais, subiram perto de 4,6% na B3. O valor de mercado da empresa passou de 16,3 bilhões para 17,1 bilhões de reais. Na prática, os investidores incorporaram quase três vezes os ativos adquiridos, em valor.
Marcos Ivo, diretor financeiro da empresa, líder na produção de embalagens de papelão ondulado no país, explicou à EXAME que a negociação foi concluída agora devido ao ritmo “natural” da transação, mas estava em andamento desde o início do ano passado, e que a crise não afetou os valores que vinham sendo discutidos.
A Klabin comprou 6,6% de participação na produção de papelão ondulado, concentrando agora uma fatia de 24% do mercado brasileiro, o que equivale a adicionar uma capacidade de 305.000 toneladas anuais. Apesar de ter sido negociado ao longo dos últimos meses, antes mesmo da crise global com a covid-19, o valor é substancialmente inferior a outros negócios feitos pela empresa e também ao custo de uma unidade nova.
Aquisições feitas em 2016 custaram de 2.700 reais a 3.000 reais por tonelada. Além disso, um estudo do ano passado da Pöyry, firma de consultoria e engenharia especializada no setor, indica que o custo de uma nova unidade é de 3.200 reais por tonelada. Os ativos adquiridos da IP saíram por 1.100 reais a tonelada, ou seja, um terço do investimento.
Setor de papelão ondulado aquecido
Após perdas sucessivas, a IP estava de saída do mercado de papelão ondulado. A americana passou a atuar nesse segmento no Brasil em 2012. Agora, saiu de vez do mercado com a venda das unidades à Klabin. Recuperou, com isso, menos de 30% do valor investido no país.
Ivo explicou que o segmento de atuação da Klabin é resiliente, inclusive em momentos como o atual, e que a decisão faz parte de uma estratégia de médio e longo prazo. Ele destacou que a Klabin produz a embalagem. “Nas crises de renda, a população reduz o tíquete das compras em busca de produtos similares mais baratos. Porém, qualquer que seja o custo [do bem], ele sempre precisa ser embalado.”
O executivo também apontou que o sistema de entregas de produtos, o delivery, tanto de alimentos como de outros tipos de bens, consome mais embalagens do que a compra direta. Ainda não se sabe quanto tempo vai durar o confinamento da população, mas as indicações são de aumento das vendas pela internet (em relação ao total) e encomendas à distância.
A Klabin afirmou, em sua apresentação sobre a transação, que o investimento é “imaterial” para sua alavancagem financeira. A companhia tinha 9,7 bilhões de reais em caixa no final de dezembro, para uma dívida bruta de 24,1 bilhões de reais. “Os vencimentos de 2020, 2021 e 2022, somados, são de 3 bilhões”, disse Ivo. Segundo ele, a empresa dispõe ainda de uma linha pré-aprovada de 500 milhões de dólares, mas não precisará utilizar. “Não vimos necessidade de lançar mão de nenhuma estratégia de proteção de caixa para além do cuidado normal com os negócios.”
A reação à transação da Klabin indica que o mercado está tentando aplicar alguma racionalidade ao momento. Apesar de a lei geral atual ser a de preservar o caixa, há quem tenha condições de investir.
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