Oi: TIM é compradora da maior fatia na combinação com Vivo e Claro
Trio está pronto, com modelo detalhado, para assumir negociação pela Oi Móvel com esperada desistência da Highline
Publicado em 1 de agosto de 2020 às 10:09.
Última atualização em 3 de agosto de 2020 às 07:59.
O trio Telefônica Vivo, TIM Participações e Claro está pronto para assumir a posição da Highline e negociar com a Oi um acordo para largar na pole position no leilão da Oi Móvel, empresa pela qual fizeram uma oferta de 16,5 bilhões de reais — 10% acima do preço mínimo. A maior compradora das três, conforme o EXAME IN apurou, é a TIM Participações, com uma fatia entre 7 bilhões e 8 bilhões de reais do total. A Claro é quem tem o menor valor a pagar na divisão do bolo.
Desde sexta-feira à tarde, circulam rumores de que a empresa de redes, fundada pela Pátria Investimentos e comprada pelo fundo americano Digital Colony, deve desistir da negociação com a Oi — após o aumento da oferta anunciado pelo trio na quarta-feira. No entanto, até o momento, nada foi oficialmente comunicado. O contrato de exclusividade vence na próxima segunda-feira, dia 3. O que está em jogo agora é uma posição chamada de stalking horse, para o leilão. Quem ganhar o direito a assumir esse papel oferece uma oferta compradora vinculante, ou seja, garantida, e tem a preferência caso apareça um novo interessado com preço maior, desde que iguale as condições. A Oi já indicou que, neste momento, a nova oferta de TIM, Vivo e Claro é a melhor, entre as conhecidas.
O leilão, fora de bolsa e em sistema de envelope fechado, só acontece depois que a Oi aprovar em assembleia geral de credores a atualização de seu plano de recuperação. O encontro deve ocorrer até o fim deste mês.
O EXAME IN obteve os detalhes de como as teles estão se organizando para esse processo. O grupo italiano será, entre todos, o maior comprador de espectro — o principal ativo em questão na venda da Oi Móvel. O valor a pagar de cada uma das teles é fruto de um algorítimo — nada mais que uma fórmula matemática — composto por espectro e clientes, mas com pesos diferentes para cada um.
A divisão dos ativos da Oi Móvel seguirá as regras determinadas pela Anatel no espectro. As companhias vão reparti-lo de forma que fiquem próximas aos limites estabelecidos pelo regulador. Cada operadora pode ter até 35% da capacidade nas faixas abaixo de 1 GHz, por região de código de área, e até 30%, no intervalo de 1GHz a 3GHz.
Para os clientes, haverá uma lógica diversa de fatiamento, mais atenta às preocupações do Cade. O regulador da concorrência observa a preponderância de mercado de cada uma das empresas por região, dividindo por pós-pagos, pré-pagos e receita para a companhia. Portanto, a acomodação será feita de forma a tentar não desequilibrar as participações por região ao fim do processo. Para isso, sempre aquele que tiver a menor presença em uma determinada área ficará com a base de usuários. O que guiará os cortes serão os DDDs (códigos de área). Poderão ser divididos por unidade, ou seja, um único DDD ou por grupos de códigos.
Para os clientes haverá todo um cuidado por parte do trio com a operação comercial. Quando forem efetivamente transferidos — o que só ocorre após aprovação da operação pelos reguladores Anatel e Cade — , os clientes levarão debaixo do braço o direito de seus contratos comerciais fechados com a Oi. Somente com o vencimento deles ao passar do tempo é que serão incorporados às ofertas de cada tele.
Nem sempre haverá coincidência perfeita entre espectro e clientes — embora é comum que ocorra. Tudo isso já está pronto e definido entre as companhias. A vida depois da compra ficará a cargo de cada uma, o que inclui a forma de pagamento.
Espectro e clientes são ativos separados. Apenas parecem uma coisa só, mas são duas. É como se o espectro fosse as rodovias e os clientes, os donos dos carros que trafegam nela. Não há a menor dúvida do quão volumoso é esse tráfego que circula e crescente. Portanto, há risco de congestionamento à vista. É para ampliar suas estradas que as teles estão adquirindo o espectro da Oi. Mesmo sem o leilão do governo, o 5G é uma realidade que começa a se impor nos grandes centros.
As maiores preocupações estão na avaliação do Cade. Isso porque a Anatel, ao estabelecer os limites de espectro, na prática já aceita uma divisão entre três participações: os tetos de espectro são próximos de 1/3 de participação. Já no Cade, por maior que seja o cuidado das três, a questão é mais complexa. Mesmo com o modelo em que a menor fique com os clientes, a largada é de concentração. Depois, a tendência, é reequilíbrio.
Por região
O Brasil, de acordo com dados da Anatel, tem mais de 218 milhões de usuários de telefone celular. Nas macro-regiões do país, a Vivo só tem a menor participação de mercado no Nordeste, que soma 48,7 milhões de clientes. A expectativa é que a tele do grupo espanhol Telefónica assuma o espectro e a maior parte dos clientes dessa praça.
A TIM é a menor no Centro-Oeste e no Norte, que totalizam uma base de pouco mais de 33 milhões de assinantes. A Claro perde com folga no Sul do país, região com quase 32 milhões de usuários, e rivaliza a última posição com a TIM no Sudeste — onde a própria Oi é a menor, devido à baixa participação em São Paulo.
Balanço
O balanço de junho da TIM Participações apontava para 3,3 bilhões de reais em caixa para uma dívida bruta de 4, 1 bilhões de reais — valor que exclui o leasing de torres da conta. A relação entre a dívida líquida da empresa e o Ebitda estava em 0,11 vezes. Com os arrendamentos de torres, a relação fica em 0,85 vezes.
A companhia, além disso, tem espaço na estrutura societária para captar em ações. A Telecom Italia possui 67% do capital total da empresa, avaliada em 36 bilhões de reais na B3. De abril a junho, a TIM gerou 2,3 bilhões de reais em caixa, antes das atividades de investimentos e financiamento.
A Telefônica, avaliada em 86 bilhões de reais na bolsa, é das três companhias a com os números mais impressionantes. A companhia tem uma posição de caixa líquido de 4,15 bilhões de reais, quando considerado apenas os compromissos financeiros. Controlada pelo grupo espanhol Telefónica, a empresa gerou 2,7 bilhões de reais em caixa no segundo trimestre.
Prêmio extra
A proposta do trio pela Oi Móvel tem ainda uma cenoura extra, se sair vitoriosa na competição com a Highline. As três colocaram em sua oferta que podem também fazer contratos de longo prazo para uso da infraestrutura de transporte da tele. Com isso, garantem receita futura para outro ativo à venda pela Oi, a Infra Co., a companhia de fibra da qual se manterá cliente e acionista minoritária. Esse contrato tem o potencial, portanto, de valorizar esse ativo.
O valor final dos acordos dependerá do plano de investimento para a empresa de fibra e sua capacidade. Porém, trata-se de centenas de milhões de reais. A expectativa, conforme fontes ouvidas pelo EXAME IN, é que alcance pelo menos 250 milhões de reais por ano.
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