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Economia

O verdadeiro ‘Liberation Day’: Fim do controle cambial faz ativos dispararem na Argentina

Mercados operam em modo 'fiesta': ações e títulos soberanos disparam; dólar sobe 9% frente ao peso em primeiro dia de liberação

Milei: Reforma libera remessa de parte das empresas que ficavam retidos no país (Oscar Rivera/AFP)
Milei: Reforma libera remessa de parte das empresas que ficavam retidos no país (Oscar Rivera/AFP)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 14 de abril de 2025 às 12:07.

Última atualização em 14 de abril de 2025 às 12:53.

Ações e títulos soberanos na Argentina disparam nesta segunda-feira, depois que o governo surpreendeu o mercado ao anunciar o fim do controle cambial que vigorava desde 2019 no país.

Num movimento que o BTG Pactual (do mesmo grupo de controle de Exame) apelidou de o verdadeiro ‘Liberation Day’– em contraposição às políticas protecionistas de Donald Trump –, a moeda local vai poder flutuar dentro de uma faixa entre 1000 e 1400 por dólar.

O governo também está permitindo que todas as exportações em dólar sejam liquidadas no mercado de câmbio oficial da Argentina em vez de um sistema misto – e engessado – que vigorou por anos.

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As companhias também vão poder finalmente remeter para fora dividendos relacionados a este ano, enquanto os proventos acumulados ao longo dos últimos anos ainda vão ter um calendário mais extenso para liberação. Com isso, a expectativa é que o gap entre o dólar oficial e o famoso ‘dólar blue’ deva se fechar para um dígito baixo, na avaliação do BTG.

O movimento veio no bojo de um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e uma série de organizações multilaterais que prevê uma injeção de US$ 20 bilhões para a economia argentina, dos quais US$ 15 bilhões entram já este ano e US$ 12 bilhões chegam na terça-feira.

“O tamanho e o desembolso à frente são maiores do que a estimativa do consenso, o que também deve ajudar o momentum para os ativos da Argentina”, disse Carlos Carranza, gestor de dívida para mercados emergentes no Allianz Global Investors, em Londres, em entrevista à Bloomberg.

Investidores já vinham defendendo que a Argentina deveria abandonar o controle cambial, pois o país precisa de acumulação de reservas em moeda forte, necessária para sustentar o peso e honrar os pagamentos da dívida externa.

Mas a verdade é que pouca gente esperava que Javier Milei conseguisse um acordo para sustentar essa medida antes das eleições legislativas previstas para o segundo semestre deste ano.

“Gostamos da nova abordagem do governo. O framework anterior já estava sem fôlego, com o mercado questionando a sustentabilidade da política cambial mesmo antes do anúncio das tarifas de Trump, que aumentaram a incerteza ainda mais.”

Fiesta!

Como consequência, hoje os ativos argentinos operam no modo fiesta. Na parte da manhã, os títulos soberanos disparavam em toda a curva, com o segundo melhor desempenho entre os mercados emergentes, atrás apenas dos do Equador, que conclui ontem sua eleição presidencial.

Antes da abertura do Merval, as ações de empresas argentinas listadas nos Estados Unidos já davam o tom: os papéis da YPF, petroleira estatal, subiam 14% nesta manhã na Nyse.

O peso, por sua vez, como era esperado, perdeu força. Na parte da manhã, era negociado em alta de cerca de 9% no Banco Nación, de acordo com o jornal La Nación, após bater os 1250 pesos. Na sexta, antes da liberação, o dólar oficial tinha fechado a 1097,50 pesos.

No que deve ser uma busca de preço nas próximas semanas, a expectativa do BTG é que o câmbio oficial deva ficar abaixo do topo da banda estabelecida pelo governo. “Mas a visão do governo de que o câmbio deve convergir para a parte mais baixa da banda nos parece muito ambiciosa”, diz o banco.

Nesse cenário, a expectativa é que o câmbio suba, cobrando seu preço em termos de crescimento econômico no curto prazo: a expectativa é de uma inflação mais alta no segundo trimestre e potencialmente a uma atividade mais baixa na margem.

O efeito, contudo, deve ser temporário:  “Contudo, acreditamos que o repasse [aos preços] deve ser moderado e a inflação deve continuar sua tendência de baixa depois da alta inicial”, escreve a equipe liderada por Andres Borenstein.

O movimento reforça o otimismo do mercado que já vinha se construindo com as reformas na economia levadas a cabo por Milei.

“Já estávamos construtivos sobre o ajuste de política que estava em andamento na Argentina, mas os desenvolvimentos desta semana reforçam essa sustentabilidade”, resumiu Graham Stock, estrategista para mercados emergentes na RBC Bluebay, à Bloomberg.

Em bom espanhol: Viva la Liberación!

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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