No IPO da Birkenstock, um grande passo para o L Catterton
Firma de private equity que tem o LVMH como sócio praticamente dobrou o valuation da empresa em pouco mais de dois anos
Karina Souza
Repórter Exame IN
Publicado em 11 de outubro de 2023 às 10:25.
Um dos maiores símbolos da busca por conforto no pós-pandemia, a Birkenstock estreia hoje na Bolsa de Nova York, avaliada em US$ 8,6 bilhões. Em meio a um ambiente ainda instável para oferta de ações, o IPO da primeira empresa fora do setor de tecnologia nos Estados Unidos no ano saiu a US$ 46 por ação, no centro da faixa de preço.
A operação é uma vitória para o L Catterton, fundo que tem a LVMH – maior marca de luxo do mundo, dona de marcas como Dior e Louis Vuitton – como sócia, e que conseguiu praticamente dobrar seu investimento na Birkenstock em pouco mais de dois anos.
Desde que comprou a empresa, o fundo tem trabalhado para tornar a marca -- que nasceu há mais de 200 anos focando em modelos ortopédicos -- mais ‘premium’, fazendo collabs com grifes como Dior e Valentino.
O par de sandálias de duas tiras que é a marca registrada da Birkenstock chegou até as telas de Barbie, um dos filmes mais comentados e assistidos do ano, como sinônimo de conforto e liberdade em contraste à opressão dos saltos altos.
Na oferta de ações, que movimentou quase US$ 1,5 bilhão, cerca de US$ 500 milhões foram para o caixa da empresa e o restante diz respeito a venda de participação do L Catterton, que saiu de 100% para 83%.
O family office da família Arnault, dona da LVMH, já tinha sinalizado que pretendia comprar cerca de US$ 300 milhões na oferta, que foi liderada por Goldman Sachs, JP Morgan e Morgan Stanley.
A estratégia de apelo fashion da Birken se pagou. Na oferta, a ação saiu a um múltiplo de cerca de 15 vezes seu EBITDA, em linha com marcas como Nike – e muito acima das cerca de 6 vezes pela quais os papéis da Crocs, também sinônimo de conforto, são negociados na Bolsa.
O IPO da Birken é o quarto a testar o mercado americano para novas ofertas nos Estados Unidos, depois de um longo jejum – e ao que tudo indica, apesar da forte demanda, os bancos preferiram deixar um espaço dentro da faixa de preço para evitar o movimento que aconteceu com as outras empresas que a antecederam nesta safra de ofertas.
A fabricante de chips britânica Arm, a Instacart, de entregas, e a Klaviyo, de marketing – todas do setor de tecnologia -- precificaram os papéis no topo da faixa, mas, depois, tiveram um desempenho mediano. No caso da Instacart, há um tombo de 20% nas ações desde o IPO, considerando o fechamento de ontem.
Os papéis de consumo têm performado melhor do que os de tecnologia. Mas, apesar do hype, a Birkenstock tem desafios a serem superados. A demanda, vem crescendo num ritmo bem menor do que observado na pandemia. Nos nove meses encerrados em junho, o aumento de vendas foi de 5%, menos da metade do crescimento de 2021.
Ainda assim, a receita cresceu 30% no último ano fiscal, baseada principalmente numa estratégia de aumentos de preço em meio à estratégia de maior sofisticação da marca.
Hoje, a Birkenstock faz a maior parte de seus negócios nos Estados Unidos e Europa, mas espera que a próxima fronteira de crescimento venha da Ásia — com boa parte do dinheiro captado na oferta voltado para a expansão neste mercado.
Apesar de um longo histórico na Europa e nos Estados Unidos – onde aterrissou nos anos 1960 --, a marca só chegou ao Brasil fisicamente em 2016, com uma loja no Shopping Iguatemi, em São Paulo.
Hoje, a empresa mantém outro ponto de venda físico no JK Iguatemi, ainda na capital paulista, e outro, em Brasília, na mesma rede de shoppings. Além do Brasil e da Alemanha, está presente em mais de 80 países.
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Karina Souza
Repórter Exame INFormada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.