Natura: integração com Avon pesa no 4º tri – mas os problemas ficaram para trás, diz CEO
Combinação entre as forças de venda das duas marcas gerou incerteza sobre portfólio e rupturas, mas os desarranjos ficaram em 2023, aponta João Paulo Ferreira
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 12 de março de 2024 às 15:15.
Última atualização em 13 de março de 2024 às 12:03.
A integração de Natura e Avon na América Latina – a principal aposta da Natura &Co para retomar vendas e rentabilidade – custou mais do que a companhia previa, reconheceu hoje João Paulo Ferreira, CEO da Natura &Co Latam, principal divisão do grupo de beleza.
No quarto trimestre, na tentativa de definir um portfólio ideal para as duas marcas, houve desbalanço de estoques e problemas logísticos que deixaram revendedoras com atrasos nos pedidos, o que impactou o desempenho das vendas.
No período, a receita da unidade ficou 8,5% maior em moeda constante, a R$ 4,88 bilhões – mas com queda de 17,9% em reais, num balanço um tanto poluído, impactado também pela inflação nos países em que opera, com destaque para a Argentina.
Mas os desarranjos ficaram em 2023, garante JP. “Países em que integramos [as operações] não só se estabilizaram como também começaram a crescer. Estamos muito satisfeitos com o primeiro objetivo que era ganhar eficiência e rentabilidade do negócio”, diz.
A Natura &Co Latam terminou o ano com margem bruta de 63,8% e o Ebitda 17% maior, a R$ 2,23 bilhões. O começo da chamada ‘Onda 2’ no Chile, agora no começo do ano, já veio sem os problemas de estoques e entregas, segundo o executivo.
Com caixa de R$ 1,7 bilhão ao fim de 2023, recheado pelas vendas de Aesop e The Body Shop, a companhia planeja fazer melhorias de distribuição e logística a partir de julho.
O entendimento da gestão é de que a estrutura ótima de capital representaria uma alavancagem entre 1x e 1,5x, conta Guilherme Castellan, CFO da Natura &Co. Em 2023, a relação entre dívida líquida e Ebitda ficou em 0,79x.
Cisão da Avon Internacional
Enquanto concentra grande parte de seus esforços no negócio da América Latina, o grupo estuda o futuro da Avon. Segundo o CEO, Fabio Barbosa, a “venda não é uma opção”. Diferentemente da The Body Shop, que era mais exposta à operação de varejo, a Avon Internacional opera pela venda direta, o “core business” da Natura, argumenta o executivo.
A empresa está estudando – com ênfase de Barbosa ao gerúndio – a separação das divisões em companhias independentes e listadas. “Temos um negócio bastante relevante, é um negócio grande. O que a gente precisa entender é como fazer esse negócio dar uma virada, ele tem melhorado e vamos apostar nessa evolução”, diz ele. A cisão viria sob a ótica de atrair mais investidores para cada negócio.
A separação dos negócios em companhias independentes também ajudaria a ser mais ágil e a não haver distrações entre os negócios. Já em 2023, a empresa fez mudanças na administração da Avon Internacional, passando de quatro regiões para duas grandes regiões: Europa e resto do mundo (excluindo América Latina). “Isso está dentro do plano de ganho de margem, porque a estrutura anterior exigia mais times de liderança, mais tempo de decisão. Fizemos tudo isso sem disrupção no canal e conseguimos gerar eficiência de margem Ebitda”, acrescenta o CFO.
Desde junho de 2022 no comando da empresa, Barbosa diz que o trabalho de mudança de estratégia tem mostrado resultado satisfatório, o que se confirma, segundo ele, na volta ao lucro ao fim de 2023: R$ 3 bilhões de ganho na última linha do balanço. “Demos foco maior na rentabilidade, do que em vendas e isso explica por que não temos crescimento de vendas auspicioso. Mas conseguimos uma posição de caixa forte e voltamos a pagar dividendos, o que não acontecia há seis ou sete anos”, defende.
A Natura &Co vai pagar em 19 de abril R$ 979 milhões aos acionistas. Às 14h desta terça-feira, as ações da companhia lideravam os ganhos no Ibovespa, avançando 5,60%, para R$ 18,30.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado