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Na batalha pela GetNinjas, fundador vai às compras

L’Hotellier aumenta fatia para 20% e aponta conflito de interesses da REAG

GetNinjas: L’Hotellier decidiu ir às compras, aumentando sua fatia de 18% para 20,1% (Leandro Fonseca/Exame)
GetNinjas: L’Hotellier decidiu ir às compras, aumentando sua fatia de 18% para 20,1% (Leandro Fonseca/Exame)
Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Publicado em 3 de outubro de 2023 às 14:36.

Última atualização em 3 de outubro de 2023 às 15:08.

Na batalha pela GetNinjas, o fundador Eduardo L’Hotellier decidiu ir às compras, aumentando sua fatia de 18% para 20,1% e declarando que pretende fazer novas aquisiçõesnuma tentativa de levantar uma trincheira para a assembleia do próximo dia 23, que deve selar o futuro da companhia.  

No comunicado divulgado ontem à noite ao mercado, L’Hotellier deixou claro que pretende barrar o avanço da REAG Investimentos, que montou uma posição de 25% na companhia no último mês, com o objetivo declarado de influenciar no comando da startup que tem cerca de R$ 300 milhões em caixa.  

O fundador sinalizou também que vê um conflito de interesses na atuação da gestora, que já declarou que pretende formar um ecossistema em torno da GetNinjas, incluindo a compra de startups de serviços condominiais e adquirência de cartões dos quais a própria REAG é acionista.  

No documento, L’Hotellier diz seu plano para a GetNinjas é melhor que de “certos acionistas” que “incluem projetos de alteração do core business da companhia mediante a utilização do caixa da GetNinjas para aquisição de certos ativos detidos por tais acionistas ou por partes a eles relacionados”. 

O plano do fundador, a ser votado na assembleia do dia 23, é distribuir cerca de 70% do caixa captado no IPO, a R$ 4,40 por ação, equivalente ao valor de mercado da companhia, que vem há tempos negociada abaixo do valor que tem em caixa.  

Com valor de mercado de R$ 270 milhões, a GetNinjas é minúscula da bolsa brasileira, mas sua história é emblemática das distorções trazidas por uma leva de IPOs de 2021, que acabou levando a mercado empresas com baixa maturidade em meio à euforia de juros baixos e liquidez abundante. 

Com a virada de mão dos juros, os investidores passaram a privilegiar rentabilidade em vez de crescimento — e a estratégia de aquisições e queima de caixa para atrair clientes de diversas startups acabou sendo abortada. 

Por um lado, fundadores e fundos de venture capital conseguiram vender parte de suas participações em secundárias a valuations esticados.  

Mas ao falhar em implementar a estratégia do IPO, a GetNinjas acabou sentada numa pilha de caixa, dando baixo retorno aos acionistas que apostaram na empresa na oferta e tornando a empresa alvo fácil para investidores com perfil mais tático de olho nos recursos parados no balanço.  

Tabuleiro de War

As próximas semanas devem ser decisivas para o futuro da companhia. Com a assembleia marcada para o dia 23, os investidores estão tentando angariar apoio para aprovar ou barrar a distribuição de caixa proposta pelo conselho da companhia, que depende da aprovação de maioria simples.  

A REAG já tem quase 25% do capital e, isoladamente, não pode fazer novas aquisições, a menos que esteja disposta a fazer uma oferta pelo capital integral da companhia. A GetNinjas tem uma poison pill que limita a participação de acionistas individuais um quarto das ações.  

A gestora, contudo, pode se associar a outros investidores no mercado que estejam dispostos a se associar a ela para implementar sua estratégia. As primeiras compras da REAG na GetNinjas foram feitas via WNT, e depois tombadas para a gestora — o que coloca essa última gestora, que fez uma estratégia parecida na Westwing como um dos atores que pode entrar na operação.      

No mercado, estima-se que o número de ouro para definir a votação do dia 23 seja de 40% do capital, já que, como a GetNinjas tem uma base formada por muitas pessoas físicas, o quórum das assembleias costuma ser mais baixo. 

Além da participação agora em 21%, estima-se que L’Hotellier tenha com ele os votos dos fundos de venture capital que entraram no início da companhia e ainda tem cerca de 5% do capital, além da fatia que está nas mãos de funcionários e conselheiros próximos a eles, também estimada em pelo menos 5%.  

O fundador não comenta as sobre o apoio a sua proposta, mas afirma que “acredita que seu plano é no melhor interesse de todos os acionistas da companhia”. A GetNinjas está usando um processo de votação eletrônico, para atrair também os votos de pessoas físicas.   

Ele reforçou também que, apesar de ser CEO da empresa, tem direito a votar na assembleia e vai exercê-lo, já que a proposta é isonômica para toda a base de acionistas — ele vai receber o mesmo valor por ação que qualquer outro investidor no processo de redução de capital.   

L’Hotellier pode aumentar a fatia no capital da companhia, mas vai ter que competir no mercado. As gestoras Indie e Oceana, que tinham participação relevante, acabaram desovando sua participação em compras feitas pela REAG.  

Atualmente, a única gestora com participação acima de 5% é a Alpha Key, que criou um fundo exclusivo de special situations, com um perfil tático para capturar os ganhos que podem surgir da situação — ou seja, é sensível a preço. Hoje, a ação da GetNinjas é negociada a R$ 4,60. Dividido o caixa pelo número de ações, esse valor é de R$ 5,40.  

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Natalia Viri

Natalia Viri

Editora do EXAME IN

Jornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.

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