Mercuryo: russos fazem ‘pit stop’ no Brasil para câmbio em criptomoeda
Fintech fundada por Petr Kozyakov, Alexander Vasiliev e Greg Waisman, com aporte de US$ 7,5 milhões do fundo europeu Target Global, foca a América Latina
Publicado em 30 de setembro de 2021 às 07:49.
Última atualização em 30 de setembro de 2021 às 08:03.
Os russos Petr Kozyakov, Alexander Vasiliev e Greg Waisman não falam português, mas têm conhecimento geográfico e mercadológico suficiente para entender que chegar à América Latina depende de um pit stop no Brasil. O trio de empreendedores, especialista em meios de pagamento, desconhece a palavra “fronteira” e, com vocação global, criou a Mercuryo com foco em transações entre países. Mas não qualquer transação. A fintech cria soluções para facilitar a troca entre dinheiro tradicional e criptomoedas.
Criada em 2018, a Mercuryo está baseada em Londres e começou a operar no Brasil em agosto – dois meses depois de receber investimento de US$ 7,5 milhões do fundo europeu de venture capital Target Global. Esse foi o segundo aporte do Target que, em setembro de 2020, colocou 2,5 milhões de euros na fintech que já opera em 150 países. Chegar à América Latina faz parte do seu programa de expansão internacional. Atualmente, a empresa tem cerca de 1,5 milhão de usuários no mundo, informa Petr Kozyakov, CEO da Mercuryo.
Em entrevista ao EXAME IN, o executivo informa que a fintech pretende construir uma infraestrutura para potenciais clientes em países da América Latina e, no momento, conversa com provedores globais de pagamentos no Brasil que não foi escolhido por acaso. Kozyakov estima que, até 2025, as fintechs terão mais de 380 milhões de usuários. E vê o Brasil liderando essa tendência, prometendo mais oportunidades.
“Planejamos expandir para outros países da região, adicionando novos métodos de pagamento, transferências bancárias e cartões através de provedores locais”, diz o CEO que pretende registrar a Mercuryo como empresa no Brasil e se tornar especialista em necessidades regulatórias. Mas não só isso.
De olho no futuro, Kozyakov planeja uma infraestrutura que replique um neo-bank, a próxima geração de bancos digitais. Por ora, o executivo vê florescer novos provedores de API (Application Programming Interfaces), uma vez que as fintechs, em “ebulição” no Brasil, segundo o executivo, reconhecem a necessidade não apenas de ampliar, mas reconstruir infraestruturas para dar mais controle aos clientes interessados em uma gama mais ampla de ativos. “Penso em um primeiro banco digital cripto, oferecendo uma conta bancária cripto com cartão. Um sistema que permita que consumidores não só armazenem, mas comprem, negociem e transfiram [moedas]. Na prática, um neo-bank que realize qualquer operação com um ativo comercializável”, diz.
Entre as ferramentas disponíveis na Mercuryo está o “Widget”, um dispositivo que pode ser acoplado a qualquer site e permite às empresas realizarem pagamentos em criptomoedas, comprar e vender moedas digitais e receber em moeda corrente do seu interesse – incluindo o real.
Governo chinês e o desequilíbrio de liquidez
A fintech, que dispõe de colaboradores de várias nacionalidades, poderá abrir um escritório físico no Brasil em 2022, reforçando a presença que já está ocorrendo nos principais mercados onde atua. O CEO da Mercuryo esclarece que a empresa não precisa de autorização específica do Banco Central do Brasil para operar no país. Lembra que o BC ainda não regula as criptomoedas, embora a instituição tenha interesse na implementação de regras específicas, e a Mercuryo se adequará ao futuro marco regulatório.
Kozyakov se anima com as perspectivas para os criptoativos no Brasil e destaca eventos que considera relevantes, como o lançamento de fundos de índice de criptomoedas (ETFs) e o anúncio da criação de uma Moeda Digital do Banco Central do Brasil que, lembra o executivo, faz parte do programa do BC para modernizar o setor de pagamentos no país.
Questionado sobre a ação mais contundente do governo chinês contra as criptomoedas, Petr Kozyakov avalia que esse posicionamento parece estar desalinhado com os grandes investimentos da China em iniciativas Blockchain. Ele lembra que a recente declaração de que todas as atividades relacionadas a criptomoedas são proibidas no país resultou numa esperada queda nos preços, e que a capitalização global do mercado do segmento caiu abaixo de US$ 2 trilhões.
“Desde o aviso de demissão aos mineradores de Bitcoin no início do segundo trimestre deste ano, espera-se que o Banco Popular da China mantenha as ameaças para forçar a saída de todos os provedores de serviços cripto do país e essa determinação deve ganhar maior impulso a médio e longo prazo”, avalia Kozyakov que vê a posição contrária aos criptoativos, à medida que se aproxima o lançamento do “Renminbi Digital”.
O CEO da Mercuryo prevê que a saída de grandes players do mercado chinês, como as principais plataformas de negociação de criptoativos, trará um desequilíbrio de liquidez no curto prazo para os traders que operam na China. O executivo avalia que o bloqueio de milhões de usuários de criptomoedas do território chinês levará a um retrocesso nas negociações. O mercado andará alguns passos atrás.
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