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Marfrig otimista com China: América do Sul, de onde saem exportações, fez 25% do Ebitda de 2022

China ganha importância no balanço não só com alta das vendas para região, mas também como contrapeso ao cenário de preço nos EUA

Marfrig: expectativa de mudanças no protocolo de exportações para a China anima executivos (Paulo Whitaker/Reuters)
Marfrig: expectativa de mudanças no protocolo de exportações para a China anima executivos (Paulo Whitaker/Reuters)
Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 1 de março de 2023 às 20:08.

A Marfrig está otimista em relação à volta da venda de carne para a China. Às vésperas da visita do presidente Lula a Pequim, Rui Mendonça, CEO da companhia para a América do Sul, afirmou que uma combinação de fatores favorece o país neste momento: o fato de que não há substituto em exportações para a região, o aumento da demanda local e a boa relação diplomática mantida entre os dois países. Mais do que voltar a vender — com um reajuste de cerca de 10% em relação a antes da suspensão — a companhia vê espaço para discutir o protocolo de suspensão em casos de Vaca Louca e, ainda, pretende aumentar a gama de produtos ofertados por lá, incluindo miúdos e outras carnes com osso, hoje não comercializadas pelo Brasil na China. Não há uma data certa para este último ponto, mas trata-se de efeito "bastante relevante" para a empresa, segundo o executivo.

Todas as declarações foram fornecidas em coletiva de imprensa relacionada ao desempenho da empresa em 2022. No período, como já era projetado por analistas, a operação norte-americana foi afetada por um período de baixa nos preços (depois de altas recorde em 2021), o que afetou os indicadores de rentabilidade da companhia, mesmo com o bom desempenho da América do Sul.

No ano, o lucro líquido ficou praticamente estável em relação a 2021, em R$ 4,2 bilhões, mesmo com uma receita líquida 53% maior, de R$ 130,6 bilhões, bastante impulsionada pela compra de parte da BRF. Sem a aquisição, em uma visão só da Marfrig, o aumento teria sido de 4,23%, para R$ 89 bilhões. Crescimento que veio principalmente do faturamento da operação na América do Sul, de dois dígitos altos (22%), enquanto a operação norte-americana teve retração no período (-2,3%).

No Ebitda, o crescimento da operação sul-americana, de onde saem as exportações para a China, fica ainda mais evidente. Na visão "ex-BRF", em 2021, a divisão contribuía com 6% do Ebitda consolidado, um pecentual que chega a um quarto do total em 2022, sob a mesma base de comparação. Colocando números nessa 'catapultada': em 2021, a operação sul-americana contribuía com R$ 905 milhões para o Ebitda, cifra que chegou a R$ 2,3 bilhões em 2022. Nesse mesmo período, a operação norte-americana encolheu, passando de R$ 13,7 bilhões para R$ 6,7 bilhões.

“As margens que projetamos para os Estados Unidos para o futuro serão mais baixas do que em 2020, 2021 e 2022. Durante o ciclo todo, estamos falando em algo de 7% a 8%”. O executivo pontuou que houve aumento da procura por bife nos serviços de alimentos, negócios e restaurantes, mas que no varejo houveram concessões para suínos, aves e venda de corte mais baratos. “Teve um pouco de choque das altas taxas de juros e isso afetou orçamentos. No fim do primeiro trimestre, observamos melhora na demanda, voltando aos níveis do ano passado".

Em meio ao cenário mais duro para o mercado norte-americano, a operação na América do Sul deve apresentar, mais uma vez, forte contribuição para manter a companhia nos trilhos, ainda que represente, por si só, uma porção menor de receita e de margem do que a dos Estados Unidos. Não à toa, os planos da empresa para a reabertura do comércio com a China, a alta demanda local e a possibilidade de ampliar ainda mais esse comércio em toda a região são vistos com bons olhos por Mendonça.

Apesar de não ser possível ainda dizer quando cada coisa deve acontecer, o executivo afirma que a reabertura (o processo mais iminente) deve acontecer ao longo da próxima semana, já que um laudo emitido no Canadá deve ser emitido até esta sexta-feira. Como próximos passos dessa relação Brasil-China, ainda visando o curto prazo, Mendonça acredita que a reunião do presidente Lula em Pequim pode ajudar a rever o protocolo de interrupção de exportações, de olho em fazer com que a suspensão aconteça somente depois do diagnóstico dos animais. Hoje, em um breve resumo, o Brasil tem de se autoimpor um bloqueio das exportações para lá em caso de registro de vaca louca. Pior do que esse autocastigo é a ausência de um protocolo objetivo que libere a normalização das vendas. Isso deixa o Brasil à mercê da vontade das autoridades chinesas.

Impacto da BRF 

No quarto trimestre, a Marfrig teve um prejuízo de R$ 628 milhões, resultado tanto da operação norte-americana mais fraca quanto do impacto limitado à participação de 33% na BRF. Sem a companhia na conta, a Marfrig teria lucro de R$ 330 milhões. No período, vale lembrar, a BRF teve uma perda de R$ 956 milhões, afetada principalmente por um gasto de R$ 588 milhões relacionado a um Acordo de Leniência.

A receita consolidada da companhia foi de R$ 37,3 bilhões no quarto trimestre, com a BRF sendo responsável por mais de um terço desse total, com R$ 14,3 bilhões. Com a companhia "dentro de casa", a receita em reais cresceu no portfólio da Marfrig, passando a representar 27% da receita consolidada.  No período, o Ebitda ajustado da Marfrig foi de R$ 2,2 bilhões, com R$ 988 milhões vindo da BRF.

A integração da companhia é vista como uma das principais alavancas para a Marfrig avançar. "Hoje, com um perfil mais diversificado, a Marfrig gera 47% da receita na América do Norte e 32% pela BRF". Essa estrutura, combinada, é um dos fatores responsáveis pela distribuição de dividendos pela companhia de R$ 1 bilhão, um dividend yield de 26%, segundo David Tang, CFO da Marfrig. Daqui para frente, o plano é que essa robustez (e os planos de diversificação, em meio ao ambiente mais duro nos EUA) possam levar a companhia cada vez mais longe.

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Karina Souza

Karina Souza

Repórter Exame IN

Formada pela Universidade Anhembi Morumbi e pós-graduada pela Saint Paul, é repórter do Exame IN desde abril de 2022 e está na Exame desde 2020. Antes disso, passou por grandes agências de comunicação.

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