Klabin: como uma recompra de dívida sintetiza os anos de ouro do papel
Movimento deve gerar US$ 30 milhões de valor presente líquido em economia com serviço de dívida
Publicado em 22 de março de 2022 às 11:07.
Última atualização em 22 de março de 2022 às 12:20.
A Klabin resolveu aproveitar o bom momento operacional para reduzir a sua dívida bruta, que terminou 2021 em R$ 29,3 bilhões. A companhia anunciou uma oferta para recomprar títulos emitidos no mercado internacional. Os papéis alvo somam perto de US$ 665 milhões. Apesar de ser uma corriqueira gestão de caixa e vencimentos, a operação é uma síntese da história do negócio nos últimos anos: uma combinação de decisões acertadas com surpresas positivas de mercado.
Quando decidiu partir para o projeto Puma II, o maior investimento da história da companhia, a Klabin estimava que entre 60% e 70% da iniciativa — que tinha um orçamento total de quase R$ 13 bilhões — seria paga por meio de financiamentos. Passados três anos desde o início das obras e com mais de 60% dos investimentos executados (até dezembro), o que se viu até agora é que a relação foi invertida. A grande maioria dos investimentos foi realizada com capital próprio e geração de caixa.
Ao divulgar os números do ano passado, a Klabin detalhou que dos R$ 11,3 bilhões em linhas de financiamento contratadas para Puma II, mais de R$ 9 bilhões não precisaram ser sacadas até o momento.
A recompra dos títulos anunciada ontem será também paga com caixa, sem nenhuma outra emissão nova atrelada. É redução de dívida bruta: economia de caixa com pagamento de juros para os próximos anos. No fim do ano passado, a Klabin tinha R$ 8,4 bilhões em caixa, o que fazia a dívida líquida somar pouco menos de R$ 21 bilhões — equivalente a cerca de 3 vezes o Ebitda acumulado em 12 meses. A alavancagem, portanto, já voltou aos níveis de 2018 e 2019, antes do susto que o câmbio causou nas dívidas em dólar e já no início da segunda fase do investimento em Puma II.
Em uma conta simples, se for considerado o cupom das dívidas que serão recompradas e o custo de capital dos financiamentos não sacados (pensando que a Klabin pode usar essa fonte), a companhia conseguirá uma economia líquida em torno de R$ 150 milhões, ou US$ 30 milhões, para os próximos anos. Esse é o valor presente líquido e toma como base o histórico de percentual recomprado.
A expectativa do mercado é que do total alvo da operação, a Klabin consiga tirar de circulação entre US$ 350 milhões e US$ 400 milhões. Duas emissões estão na mira, uma com vencimento em 2024, com cupom de 5,25% ao ano, e outra com prazo até 2027, e que paga 4,875% ao ano.
Os reflexos que a pandemia trouxe para o mundo aceleraram muito duas tendências que faziam a Klabin já estar otimista com o segmento de papel: o ecommerce e as preocupações com fatores de ESG. Esses eram os motores que a companhia, uma das mais tradicionais indústrias do país, via e vê para o setor.
O aumento do fluxo de mercadorias movimentadas pelo comércio eletrônico e dos serviços de delivery de alimentos somado à preocupação com a substituição do plástico de uso único por materiais mais sustentáveis estão promovendo anos dourados para o papel.
Essa combinação manteve o preço da commodity em alta nos últimos anos e, para coroar o momento, o câmbio favoreceu a empresa, que é exportadora. Em 2021, a receita líquida da Klabin registrou um crescimento de 38%, para R$ 16,5 bilhões. O Ebitda da empresa chegou a R$ 6,9 bilhões no ano passado, com uma expansão de 40%. Com a operação azeitada, o mercado segue sempre no aguardo de novidades no campo da governança.
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