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Klabin capta US$ 500 mi com novo título verde e vê demanda para US$ 5 bi

Companhia obtém menor custo entre emissores brasileiros de sua categoria, em 3,20% ao ano

Tratamento de mudas da Klabin: empresa decidiu atrelar operação a 3 metas ambientais, incluindo reintrodução de duas espécies nativas de animais em seus biomas florestais (Germano Lüders/Exame)
Tratamento de mudas da Klabin: empresa decidiu atrelar operação a 3 metas ambientais, incluindo reintrodução de duas espécies nativas de animais em seus biomas florestais (Germano Lüders/Exame)

Publicado em 6 de janeiro de 2021 às 18:14.

Última atualização em 15 de janeiro de 2021 às 13:06.

A Klabin, maior fabricante nacional de embalagens e de papéis para embalagem, acabou de cravar um marco na história dos emissores brasileiros e de títulos ambientais. A empresa levantou 500 milhões de dólares, com prazo de dez anos, em um bônus atrelado a metas sustentáveis, que pagam uma taxa de 3,20% ao ano. É o menor custo de uma companhia do Brasil com a classificação de risco da Klabin, BB+ (uma nota abaixo do grau de investimento).

A demanda total foi de 10,4 vezes a oferta, o que significa que havia compradores para uma operação superior a 5 bilhões de dólares. Esses títulos são novos em termos globais. No Brasil, apenas a Suzano já usou essa estrutura até o momento. Mesmo no mercado externo, ainda são uma novidade, algo que os investidores estão aprendendo a dar preço e valorizar.

“Nessa colocação, ficou bastante claro que é possível monetizar a sustentabilidade”, ressalta Marcos Ivo, diretor financeiro e de relações com investidores da Klabin, em entrevista ao EXAME IN. O mercado começou a chamar de greenium (mistura de 'green' com 'premium') a redução de custo obtida em comparação com uma operação tradicional. No caso da Klabin, considerando taxa e prazo, essa diminuição foi significativa: entre 35 e 40 pontos (bps). Ou seja, o custo da dívida, se não fosse um linked bônus, ficaria entre 3,55% e 3,60% ao ano, pelo menos.

Diferentemente dos chamados bônus verdes, ou green bonds, esses — conhecidos como sustainability-linked bonds — deixam a empresa livre para usar os recursos como quiserem, desde que cumpram metas ambientais estabelecidas na largada. Do contrário, o custo da dívida sobe. Nos verdes tradicionais, a companhia precisa destinar o dinheiro para projetos que impliquem em alguma melhoria na sustentabilidade.

No caso da Klabin, a empresa elegeu três compromissos de sua agenda ESG (ambiental, social e de governança) para 2030 e relacionou à captação, com pesos diferentes. Além disso, estipulou como prazo final o ano de 2025 para esses alvos. Se não alcançar as metas fixadas, seu custo vai aumentar em 0,25% — ou seja, ficará em 3,45% ao ano.

O compromisso de maior impacto na taxa — metade do adicional — é a diminuição no uso da água por tonelada de produto acabado. Os dois outros, com pesos equivalentes, são: aumento do reaproveitamento de resíduos sólidos do processo produtivo e ainda a reintrodução de duas espécies nativas de animais silvestres nos biomas em que a companhia possui florestas e que são considerados extintos nessa região.

"Procuramos misturar algo de grande impacto para sociedade, como será a questão da água no futuro, com outras metas. Nosso objetivo foi buscar profundidade em nossos compromissos. Daí, a ideia de três itens com pesos diversos", destaca o executivo, a respeito das metas selecionadas.

A Klabin passou segunda e terça-feira em road-show com investidores. Durante esses dias, esteve em contato com mais de 90 fundos. "A qualidade do livro de demanda e o volume permitiram a redução da taxa", explica Ivo. Na largada, o yield estimado para a operação era de 3,75%. Com a emissão, a companhia vai melhorar a o custo e prazo de seu endividamento. Na segunda-feira, a empresa anunciou a recompra de bônus com vencimento em 2024 e que têm um custo de 5,25% ao ano. De acordo com o executivo, há em circulação papéis que somam 271 milhões de dólares.

Verde

Ao anunciar seus planos para 2030, a Klabin também organizou as evoluções que conquistou nas questões ambientais ao longo dos últimos 15 anos (entre 2004 e 2019). A empresa reduziu em 45% o uso de metros cúbicos de água por tonelada produzida e também alcançou uma taxa de 96,7% de reuso de resíduos sólidos. Os planos para a década seguinte — e que foram atrelados a essa emissão — incluem diminuir em 20% o consumo de água nos processos industriais e alcançar uma taxa de 100% de reaproveitamento de sobras do processo, tais como lama, cal e cinzas.

Klabin x Suzano

Antes da Klabin, a Suzano fez uma captação de 1,250 bilhão de dólares em bônus atrelados a metas sustentáveis. A emissão foi em duas etapas. Na primeira, em setembro, levantou 750 milhões de dólares, com prazo de 10 anos e taxa de 3,95% ao ano. Dois meses depois, em novembro, adicionou outros 500 milhões ao total e, dessa vez, a taxa caiu para 3,10% ao ano — a menor, em termos absolutos, de uma empresa brasileira no mercado externo.

Na média, porém, a operação da Suzano ficou com um custo de 3,61% ao ano. Vale lembrar que a companhia é considerada grau de investimento pelas agências de classificação de risco. O compromisso assumido pela empresa foi reduzir em 15% a intensidade de suas emissões de CO2 até 2030.

 

 

 

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