Em cinco meses, mercado de capitais fornece quase R$ 200 bi a empresas
O mercado está desenvolvido, mas há muito a fazer; convivência com juro baixo mudou os investimentos, diz ANBIMA
Publicado em 15 de junho de 2021 às 10:23.
Última atualização em 15 de junho de 2021 às 10:32.
Boas notícias trazem boas notícias e alimentam expectativas positivas. Mas boas notícias são ainda melhores quando produzem efeitos práticos. E o crescimento da economia brasileira acima do esperado no primeiro trimestre é uma delas. Tão animadora que acabou por relativizar a arrancada da inflação que supera 8% em 12 meses, mas pode cair a 5% no fim do ano.
Se de um lado, o PIB mais forte atenua preocupações com as contas públicas ao sinalizar aumento na arrecadação, de outro, traz esperança de investimento para as empresas e até de mais emprego. Aumento de renda demora, mas entra no contexto. Inflação alta chama taxa de juro e mais juro traz mais opções de aplicação financeira. E o mercado de capitais se estabelece. Robusto. Em maio, as captações somaram R$ 55 bilhões – crescimento de 31,9% ante abril –, o que elevou o resultado do ano a R$ 198 bilhões, 54,1% superior a igual período de 2020. A cifra com nove dígitos não deixa dúvidas de que o mercado ocupa hoje boa parte do espaço que, até o passado recente, era exclusivo do BNDES.
“Depois de muitos altos e baixos temos hoje um mercado de capitais desenvolvido. Há muito a fazer, mas a convivência com juro baixo por um longo período mudou a indústria de investimentos”, diz José Eduardo Laloni, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA), em entrevista ao EXAME IN. Ele explica que a criação e diversificação de gestoras contribuiu para uma mudança também do perfil dos investidores.
“Quando as operações eram dominadas basicamente por grandes bancos, não havia tanta diversificação de oferta de instrumentos para investir. E tampouco existia um leque ampliado de investidores. As plataformas digitais democratizaram os investimentos e agregaram mais investidores. O mercado cresceu, mas deve crescer ainda mais porque, apesar de o número de CPFs na B3 ter se multiplicado por cinco, a Bolsa ainda não é condizente com o PIB brasileiro. Ainda é pequena”, pondera o executivo.
Laloni chama atenção para o fato de a economia brasileira estar em recuperação no pós-pandemia, mas ainda não estar em recuperação plena. Para o investidor, isso faz diferença. “Temos mercado a ser desenvolvido com a agenda de privatizações e concessões. Novos emissores chegarão ao mercado e também novos investidores e essa perspectiva nos deixa otimistas. O ciclo de alta da taxa de juro não é um impeditivo”, diz.
O vice-presidente da ANBIMA avalia que o juro alto como o experimentado no Brasil do passado levava a uma tal concentração de operações que simplesmente atropelava os investidores e até mesmo o desenvolvimento dos mercados. “Hoje, o aplicador, sobretudo o jovem, sabe distinguir IPCA e margem de ganho e esse aprendizado veio para ficar.” Na prática, o investidor deixou de ser refém do antigo ‘overnight’ – uma versão bem antiga da taxa Selic.
Diversificação e equilíbrio
A diversificação de fundos, como imobiliário e de crédito para além da própria Bolsa, também contribui para maior equilíbrio dos mercados não apenas como fonte de remuneração para o investidor, mas também como fonte de financiamento de atividades setoriais. “O mês de maio é um bom exemplo. Depois de um abril sem ofertas primárias de ações (IPOs), maio registrou captação significativa. Se diminuiu a oferta de crédito, aumentou a de debêntures. Isso também significa menor concentração em empresas emissoras, o que é positivo. De novo, hoje o mercado é mais democrático”, acrescenta Laloni.
Levantamento realizado pela ANBIMA revela que, em junho, R$ 20,9 bilhões referentes a emissões no mercado de capitais estão em andamento ou em análise.
Embora, no ano, a renda variável apresente robusta participação no total das captações, R$ 48 bilhões, em maio as debêntures saíram na frente com melhor desempenho em volume de recursos. As debêntures lideraram as captações, em maio, com R$ 23,3 bilhões ou 42,5% do total. Entre janeiro e maio, o montante de recursos levantado por esses ativos foi de R$ 78,9 bilhões – cifra duas vezes maior do que no mesmo período do ano passado. Os recursos foram destinados sobretudo para capital de giro e investimentos em infraestrutura e os títulos foram adquiridos por intermediários e participantes ligados à oferta e fundos de investimentos.
No mercado acionário, após abril sem registro de IPO, em maio as operações alcançaram R$ 10,3 bilhões, sendo que metade desse volume foi obtido com ofertas públicas iniciais. Com a divulgação de indícios de retomada da economia e o avanço da vacinação é possível que a tendência de que as emissões primárias se mantenham. Há cerca de R$ 8,4 bilhões de ofertas em andamento.
No caso das subscrições das ofertas de ações, mais da metade são fundos de investimentos, seguidos pelos investidores estrangeiros, com pouco mais de 35% de participação. Já o investidor pessoa física reduziu em mais da metade a sua participação nesse segmento, de 13,5% em 2020 para 6,1%, de janeiro a maio.
Ainda sobre títulos de renda fixa, os FIDCs tiveram bom desempenho, obtendo R$ 8,65 bilhões, a segunda melhor marca do ano atrás apenas do mês de março. Em abril, a captação foi de R$ 3,3 bilhões. De janeiro a maio, informa a ANBIMA, os FIDCs acumulam R$ 27,4 bilhões, ante R$ 16,2 bilhões em igual período de 2020.
A performance dos fundos imobiliários também foi positiva em maio, de R$ 4,2 bilhões, aumento de 55,3% em comparação a abril. No ano, são R$ 21 bilhões levantados, ante R$ 15,4 bilhões captados no em cinco meses de 2020. No mercado externo foram registradas duas emissões de bônus, somando US$ 1,4 bilhão. Isso fez o acumulado em 2021 superar o volume alcançado no mesmo período de 2020 – US$ 8,95 bilhões contra US$ 8 bilhões, informa a ANBIMA.
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