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Fusões e Aquisições

"Fusão com Gol não é concentração de poder, mas oportunidade para o Brasil crescer”, diz CEO da Azul

Remédios do Cade devem vir para ampliar oferta, o que ajuda a reduzir preços, diz John Rodgerson em entrevista ao INSIGHT

Azul e Gol: aumento na utilização de aeronaves e na oferta de voos tende a reduzir tarifas, diz CEO da Azul (Reprodução/Divulgação)
Azul e Gol: aumento na utilização de aeronaves e na oferta de voos tende a reduzir tarifas, diz CEO da Azul (Reprodução/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 17:10.

Última atualização em 17 de janeiro de 2025 às 17:12.

O anúncio da fusão entre Azul e Gol levantou questionamentos sobre os impactos no mercado aéreo brasileiro e como a operação deve ser recebida pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).

De um lado, há quem veja potencial para a criação de uma campeã nacional; de outro, críticos alertam para riscos de concentração de mercado – juntas, as empresas somariam 60% do setor.

Mas o CEO da Azul, John Rodgerson, está confiante na aprovação do negócio, que define não como uma concentração de poder, mas como “a melhor maneira de fortalecer a aviação brasileira".

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O mercado aéreo brasileiro, estagnado em 100 milhões de passageiros anuais nos últimos dez anos e precisa de estímulos para crescer – especialmente em um cenário de desvalorização cambial e custos elevados, diz em entrevista ao INSIGHT.

O argumento é o de que a concentração de mercado não é um fator negativo em si. No Chile, a Latam detém 72% do mercado; no Canadá, a Air Canada domina 75%; na Alemanha, a Lufthansa tem cerca de 80%; e na Coreia do Sul, a Korean Air também ultrapassa os 80% de participação.

Em relatórios após a divulgação da assinatura do memorando de entendimento para o casamento entre as duas aéreas, analistas de mercado apontaram que a operação tem méritos estratégicos.

“Acredito que os remédios regulatórios que possam ser impostos pelo Cade não serão de restrição de operações, mas focados no aumento de oferta e na expansão de conectividade. Queremos destinar mais voos ao mercado e adicionar mais cidades”, afirma Rodgerson.

A sobreposição das companhias atualmente é de 10%, especialmente no aeroporto de Congonhas. Por isso, o executivo acredita que as imposições do órgão antitruste sejam em ampliar voos, o que pode aumentar esse percentual para 11% ou 12% em algumas cidades e permitir novos hubs.

Fundada em 2008, a Azul hoje opera cerca de 150 destinos no país. Segundo Rodgerson, a união com a Gol permitiria elevar esse número para 200 cidades, ampliando o acesso a regiões menos exploradas.

Ele exemplifica: a Gol tem um voo de Brasília para os Estados Unidos operado com Boeing 737. Com a malha da Azul alimentando esse trecho, poderíamos operar com aeronaves maiores, otimizando o desempenho.

Outro ponto crucial para a viabilidade da fusão está na complementaridade das frotas. A Azul opera com aeronaves Embraer e Airbus, enquanto a Gol utiliza exclusivamente aviões da Boeing.

Rodgerson sugere que essa diversidade pode ser usada de forma estratégica para atender demandas variáveis. “Podemos operar a ponte aérea com Boeings nos horários de pico e com aeronaves Embraer durante o dia, quando a demanda é menor.”

Efeito nos preços

Entre os argumentos contrários à fusão está o de que a redução de três para dois grandes players no mercado pode impactar no ambiente de preços dos bilhetes aéreos, ao que Rodgerson se defende afirmando que a combinação também beneficia os consumidores.

Segundo ele, o aumento na utilização de aeronaves e na oferta de voos tende a reduzir tarifas, tornando o transporte aéreo mais acessível.

“Qual é a melhor maneira para ter preços menores no Brasil? Primeiro, o dólar e essas questões externas. Mas o que está no nosso controle? Capacidade, voltar com mais oferta. Hoje temos o equivalente ao tamanho do que era a Avianca parado no país neste momento”, diz. A solução mais rápida passa por colocar as aeronaves existentes em operação.

“Com mais oferta, o preço reduz. É assim que funciona. E acredito que, com a captação de dinheiro mais barato, com a renegociação com fornecedores e outras medidas, teremos um mercado mais saudável para ajudar o Brasil a crescer novamente”, disse Rodgerson.

Governança equilibrada

Rodgerson também destacou os planos de governança para a empresa resultante da fusão. A Abra, grupo controlador da Gol, deve se tornar a maior acionista, mas a estrutura será igualitária, com o conselho de administração sendo composto por três representantes de cada lado (Azul, Gol e conselheiros independentes).

“Muitos dizem que não vai funcionar, que haverá discordâncias. Mas tudo isso já foi discutido e acertado.” A Abra deverá indicar o chairman, enquanto a Azul nomeará o CEO.

O estatuto da nova companhia também incluirá uma cláusula de “poison pill”. O mecanismo exige que qualquer parte que adquira 15% ou mais das ações com direito a voto lançe uma oferta pública para adquirir 100% da empresa a um preço previamente definido.

A expectativa é que a análise da fusão pelo Cade comece no fim deste ano. Antes disso, um passo essencial para o avanço das discussões será a saída da Gol do processo de Chapter 11 nos Estados Unidos, prevista para maio.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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