Em meio a onda anti ESG, Natura reforça compromissos: “Não há mais tempo para retrocessos”
Na contramão de movimento global de renúncia às metas ambientais e sociais, empresa lança carta por urgência de ação contra crise climática
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 09:00.
Última atualização em 21 de janeiro de 2025 às 09:54.
Em um momento em que grandes empresas e instituições financeiras globais recuam de suas metas relacionadas à agenda ESG (ambiental, social e de governança), a Natura decidiu reafirmar publicamente seu compromisso com a sustentabilidade e os direitos humanos.
Em uma carta divulgada nesta terça-feira, 21, a companhia brasileira afirma: “Nosso compromisso com a vida não aceita retrocessos”.
SAIBA ANTES: Receba as notícias do INSIGHT pelo Whatsapp
O posicionamento é uma resposta às pressões crescentes contra a agenda ESG, intensificadas pela ascensão de discursos políticos contrários, especialmente nos Estados Unidos, onde o presidente recém-empossado Donald Trump tem adotado um discurso contrário a pautas ambientais e de diversidade.
“Vivemos tempos que nos convocam a reafirmar o nosso compromisso com a construção de um mundo mais justo, ético e inclusivo. Mais do que nunca, esse esforço precisa ser corajoso, intencional e, sobretudo, coletivo”, declara o documento da Natura.
A subida de tom da marca de beleza brasileira, reconhecida por adotar a pauta ambiental e social, acontece também em um momento em que o Brasil se destaca: será a sede da COP 30, que acontece em Belém (PA) neste ano.
A conferência coloca o país no centro das discussões globais sobre sustentabilidade e destaca iniciativas que conciliam crescimento econômico e preservação ambiental.
Em seu plano Visão 2030, a empresa estabelece metas ambiciosas, como a emissão líquida zero, a proteção da Amazônia e a promoção da diversidade e inclusão.
Abandono ao ESG e ascensão de Trump
A empresa ainda reforça que a crise climática e as injustiças sociais demandam ações urgentes e conjuntas, ressaltando sua intenção de se tornar um negócio regenerativo até 2030, indo “além da compensação de impactos negativos”.
Nos últimos meses, quatro das maiores instituições bancárias americanas — Goldman Sachs, JPMorgan Chase, Wells Fargo e Citigroup — deixaram a Net-Zero Banking Alliance, uma iniciativa climática global.
Outro exemplo emblemático é o da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, que tem enfrentado pressões significativas de legisladores republicanos nos EUA e anunciou a saída da iniciativa Net Zero Asset Managers (Nzami).
Essa tendência não se limita ao setor financeiro: empresas como McDonald’s e Meta também recuaram em suas metas sociais. A rede de fast food, por exemplo, retirou a exigência de compromissos com diversidade e inclusão (D&I) de seus fornecedores.
Esse movimento global reflete a ascensão de discursos contra a “política da virtude”, simbolizada na figura do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tomou posse para seu segundo mandato nesta segunda-feira, 20.
Como uma de suas primeiras ações, Trump anunciou a saída do país do Acordo de Paris, reforçando sua postura anti-agenda climática e anti-ESG. A promessa: aumentar a produção de petróleo e diminuir os investimentos na eletrificação da frota americana.
“O ouro líquido está sob nossos pés. Exportaremos a energia norte-americana mais uma vez e produziremos [petróleo e gás] mais do que qualquer outro país da Terra. Vamos usar este arsenal", disse Trump.
Para a Natura, porém, a pauta não pode voltar para o fundo da gaveta. “Diante do recrudescimento da crise climática e das injustiças sociais, é urgente agirmos – conjuntamente e de forma consistente.”
LEIA A CARTA DA NATURA NA ÍNTEGRA
Compromisso com a vida não aceita retrocessos
Vivemos tempos que nos convocam a reafirmar o nosso compromisso com a construção de um mundo mais justo, ético e inclusivo. Mais do que nunca, esse esforço precisa ser corajoso, intencional e, sobretudo, coletivo. Não há mais tempo para retrocessos.
Para a Natura, mais do que metas, a conservação da natureza, a defesa irrestrita dos direitos humanos e a valorização da diversidade são pilares essenciais para a longevidade do nosso negócio. Desde a nossa origem, acreditamos que a vida é um encadeamento de relações. Tudo é interdependente e as ações de uma parte reverberam e afetam o restante do todo. Nada existe por si só.
Diante do recrudescimento da crise climática e das injustiças sociais, é urgente agirmos – conjuntamente e de forma consistente. Os complexos desafios sociais e ambientais contemporâneos não serão resolvidos apenas por governos ou organismos multilaterais, sem que a sociedade civil e o setor empresarial se mobilizem.
Movida por essa urgência, recentemente a Natura revisitou suas metas e assumiu compromissos sociais e ambientais ainda mais ambiciosos a serem alcançados até 2030. Também nos desafiamos a ser, nas próximas décadas, um negócio regenerativo, indo além da compensação de impactos negativos para passar a gerar resultados positivos sistêmicos para as pessoas e para a natureza. Acreditamos que os negócios só se tornam mais prósperos na medida em que a humanidade e natureza também prosperam.
O momento que vivemos demanda de nós a responsabilidade de ir além. Nosso compromisso com a vida não aceita retrocessos.
Saiba antes. Receba o Insight no seu email
Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade
Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado