Dotz dobra venda cruzada em plataformas: 24% da receita de R$ 64 mi
Projeto da empresa que trouxe o Ant Group para IPO é usar base de fidelidade para vender market-place e serviços financeiros
Publicado em 9 de novembro de 2021 às 22:54.
Última atualização em 11 de novembro de 2021 às 11:30.
A Dotz, que nasceu como empresa de fidelidade independente, trouxe o primeiro balanço pós-IPO que mostra uma aceleração das novas frentes de negócio: market-place e techfin. Dobrou seu 'cross-selling'. A base de usuários que transitou por mais de um serviço saiu de 6,8% do total para 12,7%, no terceiro trimestre, comparado há um ano antes.
Essa é a tese de investimento na companhia, que fez sua oferta pública inicial no fim de maio para se reinventar, uma vez que a operação de milhas de empresas aéreas cada vez mais difícil. Captou cerca de R$ 400 milhões, pouco antes de o mercado se fechar por completo para startups. A listagem do negócio fundado pelos irmãos Chade trouxe ninguém menos do que o Ant Group, o braço financeiro do Alibaba, para a base de sócios e para o comitê de estratégia.
A receita líquida, antes do desconto de resgate de milhas, alcançou R$ 64 milhões, um crescimento de 48% frente igual período de 2020. Porém mais importante do que isso é que a fatia proveniente dos novos produtos passou de 12% para 24% — com expansão de 181% no market-place e de 70% em techfin. Os números foram divulgados após as 22 horas do dia 9.
Após o resgate, a receita líquida ficou em R$ 28,6 milhões ante R$ 27,6 milhões, nessa mesma base comparativa. O número, portanto, é quase estável. Essa conta demonstra a importância, para a Dotz, de acelerar as novas frentes e fazer frente à deterioração do ambiente de fidelidade, que sofreu muito com a variação cambial. A margem bruta caiu de 91% para 87%. As despesas gerais e administrativas tiveram alta superior a 32%, para R$ 47,6 milhões, fruto do esforço de crescimento.
“Estamos entregando o que nos comprometemos e nem deu ainda para sentir as mudanças. Praticamente não deu tempo de fazer os investimentos”, afirma Roberto Chade, co-fundador e presidente da Dotz, em entrevista ao EXAME IN. Ele destaca que, nesse momento, o esforço está concentrado em contratação de pessoal e desenvolvimento de novos produtos. O time da empresa passou de 300 para 500 pessoas. “Tínhamos 10 squads antes do IPO e agora são 40.”
A expectativa de Chade é que a base proporcional do cross-sell, ou seja, que trafega entre as diversas soluções dobre dentro de 12 meses, quando alcançaria 25%. Atualmente, a Dotz tem pouco mais de 50 milhões de usuários cadastrados. Desses, 25 milhões têm saldo em Dotz e cerca de 10 milhões são os mais ativos. “É para esse grupo [dos mais ativos], principalmente, que desenvolvemos novos produtos.”
O valor total das compras (GMV) no market-place somou R$ 99 milhões, de julho a setembro, uma alta de 76% sobre igual período de 2020, enquanto o total transacionado (TPV) na plataforma financeira nesse período foi de R$ 1,2 bilhão, com crescimento de 66%.
Entre os novos produtos, a Dotz vai passar a fazer o fechamento das transações do market-place, ou seja, das compras, dentro do seu ecossistema e vai oferecer ao cliente o sistema “buy now, pay later” — o bom e velho carnê brasileiro. A solução é oferecida junto com parceiro, mas usa o sistema de inteligência e score de crédito da própria Dotz, segundo explica Chade.
Em breve, a companhia vai oferecer o uso do saldo de Dotz como colateral para crédito, com objetivo de ter taxas atrativas. A empresa já tinha passado a oferecer a troca da moeda dotz por reais — o que já responde por quase 30% das transações — e em outubro também passou a permitir a conversão para bitcoins.
“Nosso objetivo sempre foi maximizar nossa base de fidelidade. Eu praticamente não tenho custo de aquisição de clientes desses novos produtos. O usuário já está dentro da plataforma”, reforça Chade. “Mas essa evolução vai ficar ainda mais evidente no quarto trimestre deste ano e no primeiro trimestre de 2022.”
Quando tiver colocado todas essas primeiras novidades de pé, a Dotz deve partir para ampliar investimento em marketing, conforme Chade. No mais, o balanço é o retrato do que ocorreu com as startups: expansão de receita e aumento do prejuízo. Por que? Porque essas empresas estão investindo dinheiro na compra de tempo, ou seja, acelerando o ritmo de expansão.
O Ebitda da empresa no terceiro trimestre ficou negativo em R$ 18,8 milhões, comparado a R$ 3,49 milhões, também negativos, de igual período de 2020. Na última linha do balanço, com a receita financeira fruto do caixa aplicado, o prejuízo caiu de R$ 30,6 milhões para R$ 24,6 milhões. Descontadas as dívidas que a Dotz tinha de pagar, ficaram no caixa da companhia quase R$ 300 milhões ao fim de setembro, comparado a R$ 110 milhões existentes no encerramento de 2020.
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