Cosan preferiu desistir de IPO da Compass a reduzir preço das ações
Investidores já tinham feito críticas ao preço pretendido pela Cosan antes de a oferta ir oficialmente ao mercado
Publicado em 28 de setembro de 2020 às 14:57.
Última atualização em 28 de setembro de 2020 às 15:32.
A Compass, holding do grupo Cosan que reúne a Comgás e outras operações no segmento, desistiu de fazer sua oferta pública inicial (IPO) nesse momento. A companhia, cujo plano é ser a maior plataforma privada de gerenciamento de gás do país, queria levantar 5 bilhões de reais, mas não encontrou demanda suficiente para a operação no preço pretendido. Os investidores já tinham sinalizado à empresa que a avaliação estava salgada, mas no piso da faixa parecia haver bastante compradores até a piora de humor nos mercados internacionais e doméstico.
Antes de definir a faixa de preço, a empresa queria ser avaliada por 20 bilhões de reais pré-aporte do dinheiro novo, o chamado pre-money — o que a levaria para 25 bilhões de reais após a oferta. Contudo, o mercado cortou essa pretensão antes mesmo de a operação vir oficialmente para a rua. Então, a Cosan colocou o intervalo da companhia entre 16,2 bilhões e pouco mais de 19 bilhões de reais como teto para um cenário de otimismo, conforme o EXAME In noticiou em 10 de setembro.
Agora, a companhia bateu o pé que não iria para baixo do piso. Com isso, o livro de compradores não ficou robusto suficiente nesse nível de preço, levando o grupo a tirar o time de campo nesse momento. Os investidores aceitavam uma avaliação, no máximo, entre 13 bilhões e 14 bilhões de reais, pré-capitalização, conforme fontes de mercado.
O mercado ainda está tentando compreender se a janela fechou mesmo ou se é apenas uma questão de preço. O banco BR Partners desistiu do IPO na semana passada — ainda que com rumores de que está negociando bancos estrangeiros de investimento uma transação. A Petrobras também colocou em banho-maria uma nova oferta secundária de ações da BR Distribuidora, porque havia risco de o valor ficar inferior ao da primeira operação.
Até o meio de setembro, a crença era forte de que 2020 terminaria com 30 IPOs — quase o dobro dos 17 realizados até o momento, que movimentaram mais de 21 bilhões de reais. Considerando as ofertas subsequentes, o total de transações no ano já superou 76 bilhões de reais. Mas, mesmo com as desistências, a semana passada teve conclusão de três operações: o follow-on de 780 milhões da Santos Brasil, mais os IPOs da Hidrovias do Brasil, de 3,45 bilhões de reais, e da Melnick, de 713 milhões de reais. Todas sofreram pressão nos valores, mas saíram.
A Compass, cujo principal ativo é a Comgás, vem sofrendo com a pandemia. Até 2019, o ritmo de crescimento mostrava a receita líquida anual saindo de 6,8 bilhões para 9,5 bilhões de reais. Mas, nos seis primeiros meses do ano, a receita líquida caiu de 4,4 bilhões para 4 bilhões de reais. Ainda assim, o Ebitda ficou estável em 1 bilhão de reais. Na comparação anual, a dívida líquida aumentou de 1 bilhão para 3,3 bilhões de reais — a bruta subiu de 3,6 bilhões para 7,3 bilhões de reais.
A listagem da Compass faz parte de um processo amplo de reorganização societária do grupo Cosan. O conglomerado criado por Ometto deixará de ter três holdings de controle (Cosan Limited, Cosan S.A. e Cosan Logística), para ter apenas uma. As companhias operacionais serão listadas individualmente para que cada uma tenha capacidade de captar e se alavancar sem as limitações do controlador.
Para quem avalia os negócios, mesmo quando havia expectativa de sucesso do IPO no piso da faixa, a Cosan queimou a largada. “Se a Compass esperasse mais seis meses, conseguiria um preço melhor. Além da Comgás, todo resto é projeto na companhia”, destaca um potencial investidor. De fato, a companhia, que procura recursos principalmente para fusões e aquisições, lista alguns projetos em andamento, mas sem conclusão: participação no processo competitivo de compra da Gaspetro, negociação de um acordo comercial com a Total Gas and Power Business Services para suprimento por dez anos de GNL, e participação em chamada pública para alocação de capacidade da Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia.
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