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Balanços

Com recorde de geração de caixa em 2024, Renner aposta em recompra bilionária de ações

Descontentamento com o valor atual do papel e confiança da gestão de que 2025 será um ano de mais vendas e rentabilidade impulsionam a estratégia da empresa

Renner: companhia vai investir em abertura de lojas (Marcos Gouveia/Divulgação)
Renner: companhia vai investir em abertura de lojas (Marcos Gouveia/Divulgação)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 20 de fevereiro de 2025 às 22:09.

Última atualização em 20 de fevereiro de 2025 às 22:11.

Fechado o ano de 2024, Fabio Faccio, CEO da Renner, entendeu que não havia outro caminho. Com o papel negociando nas mínimas, uma medida importante de alocação de capital era ir às compras.

“A recompra das nossas ações é o melhor investimento que podemos fazer”, diz Faccio. A fala sintetiza o racional por trás do maior programa de recompra de ações da história da companhia -- casado ao momento em que a geração de caixa bateu recorde.

O plano prevê a aquisição de até 75 milhões de ações, o equivalente a 7,13% dos papéis em circulação, em uma movimentação avaliada em cerca de R$ 1 bilhão.

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A decisão demonstra tanto a confiança da gestão no desempenho futuro da empresa quanto o descontentamento com o patamar atual das ações, que vêm sendo negociadas próximas de R$ 13,71, um nível semelhante ao de 2016. Para efeito de comparação, o papel atingiu seu recorde em janeiro de 2020, quando chegou próximo dos R$ 50.

A recompra de ações se soma ao plano de R$ 850 milhões em investimentos, previstos para o próximo ano, com foco na abertura de novas lojas. Os anúncios vêm em um momento de solidez financeira da companhia, que registrou a maior geração de caixa de sua história: R$ 1,5 bilhão em 2024.

A companhia fechou o ano com receita líquida de varejo de R$ 12,67 bilhões, um crescimento de 8,2% frente a 2023. No quarto trimestre, a receita alcançou R$ 4,17 bilhões, um aumento de 9,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. O crescimento das vendas foi impulsionado por todas as marcas do grupo:

  • Renner: R$ 3,79 bilhões (+9,1%)
  • Youcom: R$ 193,5 milhões (+19,3%)
  • Camicado: R$ 191,2 milhões (+12,3%)

Mesmo com o avanço na receita, o lucro líquido caiu 7,5%, totalizando R$ 487,2 milhões no trimestre. Segundo Daniel dos Santos, CFO da companhia, eventos não recorrentes impactaram a comparação com 2023. “Tivemos eventos não recorrentes que atrapalham a comparação, como créditos que tivemos no ano passado e baixas de ativos. O EBITDA recorrente seria 19% maior e o lucro líquido, 30% maior. Isso mostra a consistência que tivemos esse ano”, explica.

A margem bruta permaneceu estável, em 55,8%, enquanto a margem EBITDA ajustada ficou em 24,5%.

Um dos destaques do trimestre foi a melhora significativa da Realize, o braço financeiro da companhia. O resultado operacional do negócio saltou para R$ 61 milhões, e a inadimplência atingiu o menor nível dos últimos cinco anos.

O cartão Renner voltou a crescer sua participação nas vendas, reforçando o papel da Realize como alavanca para o varejo em 2025. “A Realize conseguiu um operacional muito bom. Pela primeira vez, a participação do cartão Renner nas vendas cresceu, voltando a ter contribuição positiva no ecossistema”, destaca Santos.

Perspectivas para 2025

O cenário macroeconômico mais desafiador, com pressão de custos e volatilidade cambial, deve impactar o setor de varejo. Ainda assim, a Renner confia na resiliência do seu modelo de negócio. “Nosso modelo de operação nos deixa mais confiantes de que vamos continuar crescendo acima do mercado e com rentabilidade”, afirma o CFO.

Um dos fatores que devem sustentar esse crescimento é a política de precificação da empresa. Em 2024, a companhia conseguiu aumentar as vendas sem elevar os preços, favorecendo a percepção de valor por parte dos clientes. A Renner reduziu em 5 dias o prazo médio dos estoques, atingindo o menor nível de remarcações para um quarto trimestre desde 2016.

“Não teve crescimento vindo de preço em 2024, ele veio de volume. Tivemos uma boa percepção de preço dos nossos clientes em 2024. Provavelmente em 2025 ainda vai crescer muito mais por volume, mas com levemente uma parte de preços, mas estamos trabalhando para ser abaixo da inflação e isso nos permite continuar operando com margens saudáveis”, explica Faccio.

Outro ponto de atenção é a evolução da malha logística. O Centro de Distribuição de Cabreúva, que já opera com lead time melhor do que o esperado, deve impulsionar ainda mais os ganhos de margem e geração de caixa no segundo semestre de 2025. No primeiro semestre, a companhia ainda vai trabalhar em colocar a operação da Renner online integralmente no CD.

O desafio da Renner agora, aos 60 anos de operação, é convencer o mercado de que os ganhos vão continuar e que ela continua na moda.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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