Com IFC e BID, Natura capta R$ 1,33 bi para ampliar uso de bioingredientes da Amazônia
Emissão de debêntures é a primeira atrelada bioativos da floresta para uma empresa brasileira; bancos multinacionais de desenvolvimento vão investir R$ 500 milhões
Raquel Brandão
Repórter Exame IN
Publicado em 9 de julho de 2024 às 14:30.
Última atualização em 10 de julho de 2024 às 14:28.
A Natura captou R$ 1,33 bilhão em debêntures atreladas ao uso de ingredientes bioativos da Amazônia, como Ucuuba, Andiroba, Patauá e Castanha. Foi a primeira operação de uma empresa brasileira com essa temática. Com prazo de cinco anos, a emissão foi vendida com um spread de 1,20% acima do CDI, 25% abaixo da média das operações da companhia.
Nessa empreitada, embarcaram dois bancos multinacionais de desenvolvimento, International Finance Corporation (IFC), do Banco Mundial, e o BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento voltado para o setor privado. Juntos, os dois investiram R$ 500 milhões na emissão, sendo o IFC o âncora da emissão com R$ 300 milhões de investimento.
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Na estrutura do sustainability-linked bond, a companhia tem liberdade no uso dos recursos, mas se compromete com metas específicas de sustentabilidade. Um dos principais compromissos é o desenvolvimento de bioingredientes amazônicos, que já estão presentes em várias linhas de produtos, com destaque para a linha Ekos, criada em 2000.
Atualmente, a empresa desenvolveu 44 bioingredientes. O modelo de negócio que vem sendo implementado na Amazônia tem contribuído para a conservação de 2,2 milhões de hectares de floresta, em parceria com mais de 10 mil famílias locais. A meta é expandir para 47 ao fim de 2025 e 49 bioingredientes até 2027. A projeção é de que chegue a 55 em 2030, uma meta já não atrelada à emissão e que ajuda a companhia a alcançar o objetivo de reduzir em 90% sua emissão de carbono.
"Depois de 25 anos trabalhando com as comunidades, tínhamos informações suficientes para atrelar o indicador a um instrumento financeiro", diz Silvia Vilas Boas, vice-presidente de Finanças e Estratégia da Natura. “O processo de auditoria do IFC e do BID é muito profundo, olhando desde relações trabalhistas até manufatura e relação com comunidades”, destaca.
Se as metas não forem atingidas em cada tranche, a companhia paga um prêmio de 0,15 pontos-base na primeira verificação e 0,30 pontos-base na segunda verificação já em 2029, ano de vencimento da emissão. “É um risco que estamos dispostos a tomar em prol de conseguir fazer o desenvolvimento sustentável da região. Faz parte da estratégia da companhia e estamos mobilizados para isso.”
Mais instrumentos financeiros socioambientais
Essa não é a primeira emissão da Natura atrelada a metas de sustentabilidade, um tipo de operação que tem ganhado mais espaço no país. Em 2021, a companhia já havia emitido US$ 1 bilhão em títulos verdes com o objetivo de reduzir em 13% a emissão de carbono até 2026 e ampliar para 25% o uso de plástico reciclado em suas embalagens.
No entanto, diz Vilas Boas, o objetivo e grande desafio da companhia é fazer da grande maioria dos instrumentos financeiros atrelados a indicadores socioambientais. “É a forma que a gente tem de potencializar o impacto positivo da Natura como um todo. Mas não podem ser instrumentos tradicionais, teremos que buscar instrumentos inovadores, que permitam que os recursos cheguem para os nossos parceiros e não só para a companhia.”
Parte das metas estabelecidas pela Natura é descarbonizar 40% do escopo 3 da sua cadeia, que significa os fornecedores e parceiros. Um dos objetivos, por exemplo, é passar de 400 hectares para 40 mil hectares de agrofloresta – mais produtiva do que áreas de monocultura – até 2035. Mas é preciso garantir recursos aos fornecedores para melhorar a produção (como instrumentos que substituam a extração manual e usinas de extração de óleo essencial) e conseguir manter a área preservada. O ponto mais complexo, explica, é a informalidade e o alto custo de crédito para os produtores das comunidades.
Para isso, a Natura criou recentemente uma “aliança regenerativa”, para aumentar a cooperação entre instituições financeiras, empresas e comunidades locais. A empresa também quer priorizar a compra de crédito de carbono desenvolvido por comunidades da Amazônia, aumentando a geração de renda local. “Então temos apoiado eles nesse desenvolvimento. E isso requer funding. É uma jornada longa.”
Em dezembro, lançou um instrumento de blended finance em parceria com a Vert e o FunBio. Foram levantados R$ 12 milhões para financiar o agroextrativismo familiar na Amazônia. O projeto já beneficiou 10 cooperativas e associações agroextrativistas, com impacto positivo para mais de 1.800 famílias. O projeto opera por meio de dois instrumentos principais, o Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e o Enabling Conditions Facility (ECF ou Fundo Facilitador), um fundo filantrópico não-reembolsável. “Não somos uma empresa de prateleira, temos um modelo de negócio que também tem de gerar impacto”, diz a executiva.
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Raquel Brandão
Repórter Exame INJornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado