Logo Exame.com
Economia

Citi descarta dominância fiscal, mas alerta para perda de força da política monetária

Menos pessimista que o mercado, banco vê Selic a 13,25% e dólar a R$ 5,70 em 2025

Citi: banco projeta Selic a 13,25% para 2025 (citi/Divulgação)
Citi: banco projeta Selic a 13,25% para 2025 (citi/Divulgação)
Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 18:44.

Última atualização em 10 de dezembro de 2024 às 18:45.

A decepção com o pacote fiscal anunciado pelo governo no final de novembro alimenta os temores sobre o Brasil poder entrar no guarda-chuva da dominância fiscal. Para o estrategista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, este não é o cenário — ao menos, por enquanto.

"Não acho que estamos em dominância fiscal. Isso não significa que a política monetária não está perdendo eficácia, ela está, mas não perdeu totalmente”, disse em encontro com jornalistas nesta terça-feira, 10, na sede do banco.

Dominância fiscal é o fenômeno em que, diante da situação crítica das contas públicas, apertos monetários geram mais inflação, em vez de baixá-la. Nesse cenário, aumentos da Selic levam a maiores gastos com a dívida pública, piorando a percepção de solvência e pressionando o dólar — e seu efeito-cascata sobre preços.

No entanto, Porto explica que caso o cenário fosse de dominância fiscal, já seria possível observar a inflação estável ou até subindo nas projeções dos economistas, inclusive no Boletim Focus. Porém, o último boletim mostra uma inflação controlada à medida que os juros foram elevados.

“Claramente o mercado está operando num viés mais pessimista do que os fatores indicam”, afirma Eduardo Miszputen, head de global markets do Citi.

Miszputen também enfatiza que o investidor internacional tem um olhar mais otimista para o Brasil, inclusive observando que o país está performando bem e o governo tem um discurso consistente na busca do equilíbrio fiscal.

“O investidor estrangeiro questiona porque o mercado local é tão negativo”, afirma.

O que acontece para essa percepção local, segundo os executivos, é que a curva de juros está muito sensível às questões fiscais, o que foge do controle do Banco Central (BC). “O canal de expectativa está operando de forma menos fluida”, explica.

O aprofundamento na desancoragem das expectativas deriva, na visão do Citi da falta de potência do pacote, além da confusão na forma e do momento em que foi anunciado o plano de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.

Segundo Porto, falta o governo abrir as contas e mostrar ao mercado que a isenção de um lado e a progressividade tributária de outro pode ser, de fato, fiscalmente neutro.

Enquanto a credibilidade segue estremecida, cabe ao BC fazer o trabalho dele.

“Independentemente da natureza do problema ser o âmbito fiscal, o BC não pode renunciar de fazer seu trabalho, porque aí o problema que era desancoragem fiscal vai para a desancoragem monetária”, diz Porto.

Enquanto parte do mercado já vê uma Selic terminal na casa dos 14%, com os mais pessimistas já apontando para 15%, o Citi ainda está mais moderado.

O banco projeta um aumento de 0,75 ponto percentual (p.p.) na reunião do Copom nesta semana, outro aumento no mesmo nível em janeiro e um aumento de 0,50 p.p. em março, levando a Selic para 13,25% e permanecendo até o final de 2025.

Para o dólar, que é quem melhor reflete o fator da desconfiança interna, a projeção para o próximo ano é de R$ 5,70, o que mostraria uma pequena apreciação do real. A expectativa é que o ruído interno diminua, em um cenário de crescimento global neutro, o que pode ajudar países emergentes.

Apesar da visão menos pessimista, o Citi visualiza que a dívida pública continuará crescendo ao longo do tempo. Para o banco, seria necessário um resultado primário total de 2,4% do PIB para estabilizá-la, enquanto o BC prevê um déficit de 0,4% para este ano.

Para quem decide. Por quem decide.

Saiba antes. Receba o Insight no seu email

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade

Rebecca Crepaldi

Rebecca Crepaldi

Repórter de finanças

Jornalista formada pela Unesp, mestranda em Jornalismo Científico na Unicamp e especializada em Jornalismo Econômico pela FGV. Tem mais de 5 anos de experiência em redação com passagens pelo G1 e Estadão.

Continua após a publicidade
Citi descarta dominância fiscal, mas alerta para perda de força da política monetária

Citi descarta dominância fiscal, mas alerta para perda de força da política monetária

Solange Srour, do UBS: “BC vai ter de corroborar os juros precificados pelo mercado”

Solange Srour, do UBS: “BC vai ter de corroborar os juros precificados pelo mercado”