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Arezzo coloca os pés no mercado europeu após comprar italiana Paris Texas

Aquisição, diz o CEO Alexandre Birman, é a primeira da fase de internacionalização do grupo

Arezzo: compra de 65% da Paris Texas saiu por 25 milhões de euros (Divulgação/Site Exame)
Arezzo: compra de 65% da Paris Texas saiu por 25 milhões de euros (Divulgação/Site Exame)
Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Publicado em 3 de março de 2023 às 07:13.

Última atualização em 4 de março de 2023 às 11:23.

Alexandre Birman atravessou o oceano, um avanço que já estava em planos da Arezzo &Co adiados pela pandemia. Com a compra da Paris Texas, marca de calçados jovem e de luxo, colocou os pés na Itália bem como chegou aos pés de celebridades internacionais, como as cantoras Dua Lipa e Selena Gomez ou as irmãs influenciadoras digitais Kourtney Kardashian e Kendall Jenner.

A compra inicia uma nova era, diz Birman em entrevista ao EXAME IN. Essa era é a da expansão global, com a área de fusões e aquisições concentrando sua munição para o mercado externo. Ou seja, mais aquisições devem vir e serão de fora do Brasil. "Não faria diferente se a situação do Brasil estivesse melhor, mas esse é um movimento também de diversificação de risco, pensando no futuro da nossa empresa", diz. O potencial, diz ele, está no alcance da marca internacional, especialmente sendo italiana, pela tradição do país no setor calçadista.

Fundada em 2015 em Milão por Annamaria Brivio e Massimo Baltimora, a Paris Texas tem nome curioso para uma marca italiana. Remete ao filme franco-germânico dos anos 80 homônimo, mas a principal justificativa está na peça ícone: botas estilo cowboy cheias de detalhes que trazem informação de moda, como estampas extravagantes, brilho e tecidos de diferentes texturas e cores.

Por 65% do capital social da Paris Texas, o grupo de moda brasileiro vai pagar 25 milhões de euros (cerca de R$ 135 milhões). Desse valor, 15 milhões de euros serão pagos aos fundadores e 10 milhões de euros serão aportados no caixa da empresa para financiar sua expansão. O valor representa múltiplos de 1,9 vez a receita e 11 vezes o Ebitda. A empresa também poderá ampliar sua fatia na companhia para até 100% em caso de cumprimento de metas em duas oportunidades, em 2027 e 2030. Por enquanto, no entanto, 35% seguirão nas mãos dos fundadores, que vão continuar à frente dos negócios.

É a segunda aquisição do ano e a nona desde que começou seus planos de expansão com a compra da Reserva. Na metade de janeiro, comprou a gaúcha Vicenza, por pouco mais de R$ 170 milhões. Também voltada para o público jovem, a brasileira guarda semelhanças com a marca italiana, conta Birman. As duas marcas são de criadores, estão em crescimento e são de alto valor agregado.

A Paris Taxas teve crescimento de 65% em 2022, atingindo 15 milhões de euros de receita bruta, que equivalem a R$83 milhões, e margem Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 16,6%. Variações da bota ícone, por exemplo, são vendidas no Brasil pelo e-commerce de luxo Farfetch por valores que vão R$ de 3 mil a R$ 14,3 mil. Sandálias são mais baratas: é possível levar para casa por R$ 2,2 mil.

Para o executivo, a participação majoritária no mercado de calçados brasileiros e participação consolidada nos Estados Unidos, onde a receita cresceu 38% para R$ 121 milhões no terceiro trimestre, capacita a Arezzo &Co para ser consolidadora de marcas de criadores, ao estilo do que fazem grandes grupos de moda, como o grupo Capri, dona da Versace. A expansão da Paris Texas nos Estados Unidos por meio dos canais já utilizados pelas marcas Alexandre Birman e Schutz é uma das primeiras sinergias que a empresa enxerga no negócio.

Expansão global: o passo largo que derrubou muitas empresas

"Desde o momento que compramos a Reserva, nunca vimos valor em sinergias no sentido de redução de custos ou  eficiência operacional e, sim, nas sinergias de expansão", diz Birman. De olho em virar uma espécie de casa de marcas de luxo de calçados no exterior, o próximo passo deve ser em fortalecer a produção local, comprando uma fábrica. Birman e o diretor financeiro chegaram a visitar algumas plantas na região da Toscana. Esse seria um passo importante já com a Paris Texas, que hoje produz toda sua linha por meio de terceiros.  "Esse know-how nosso de gestão verticalizada vai ser amplamente aplicado à Paris Texas."

A Arezzo &Co não é a primeira em apostar na internacionalização. No mesmo setor, o calçadista, a Alpargatas comprou fatia relevante da americana Rothy's. Já em outro setor de consumo, o de beleza, a Natura virou caso emblemático: comprou três marcas globais, incluindo a gigante Avon, e virou Natura &Co. Mas os exemplos poderiam servir para deixar as barbas de molho. A Rothy's, por enquanto, tem mais pesado do que contribuído com os números da Alpargatas. Já a Natura cresceu tanto que, ao que tudo indica, saiu do trilho e tenta, agora, se reorganizar. A possibilidade atual na mesa é a venda ou a cisão e posterior oferta de ações da marca australiana Aesop.

Birman, porém, diz que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Os riscos entraram na conta, diz ele, ao lado do diretor financeiro Rafael Sachete. Por isso esse pé para fora do Brasil começa "pequeno", segundo o empresário. "Imagina que, se der tudo errado, não vai fazer um arranhãozinho na Arezzo &Co, entendeu? É um primeiro passo, um teste", argumenta. 

Vale lembrar que a companhia levantou R$ 830 milhões em follow-on no começo de 2022 para sustentar essas operações de aquisições. "O follow-on nos colocou numa situação de caixa líquido positivo. A gente usou parte desse caixa já para financiar o crescimento de 2022 que foi muito alto, né? Em 2022 crescemos a receita em R$ 1,4 bilhão", diz o diretor. Com as duas aquisições a estimativa é de que a relação dívida líquida/ Ebitda do grupo Arezzo &Co fique em 0,10x a 0,15x e esse indicador poderia chegar até 0,20x, num patamar considerado saudável, explica. A companhia divulga os números de 2022 no próximo dia 9.

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Raquel Brandão

Raquel Brandão

Repórter Exame IN

Jornalista há mais de uma década, foi do Estadão, passando pela coluna do comentarista Celso Ming. Também foi repórter de empresas e bens de consumo no Valor Econômico. Na Exame desde 2022, cobre companhias abertas e bastidores do mercado

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