Após IPO de Enjoei, brechó online da influencer Raquel Mattar busca aporte
Plataforma de herdeira da Localiza só trabalha com marcas de luxo certificadas e tem projeto de expansão desenhado
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 14:10.
Última atualização em 1 de dezembro de 2020 às 01:32.
O sucesso da Enjoei, plataforma para venda de peças de moda usadas que nasceu blog em 2009, virou negócio em 2012 e que neste ano foi avaliada em 2 bilhões de reais em sua estreia na B3, deu asas a diversos projetos semelhantes, que apostam em uma economia de recirculação. Quem está no início de uma rodada de conversas para um possível aporte por uma venture capital é a New Owner Bazar (NOBZ). O brechó online, fundado há oito anos e dedicado a marcas de luxo, quer acelerar seus planos de expansão.
Tudo é de grife no negócio, incluindo as fundadoras. O quinteto de jovens empreendedoras tem entre as idealizadoras a digital influencer Raquel Mattar, filha do fundador e presidente da Localiza, Eugênio Mattar, e sobrinha de Salim Mattar, ex-secretário de desestatização do governo de Jair Bolsonaro. No Instagram, Raquel tem mais de 280 mil seguidoras. O grupo da NOBZ fica completo com Júlia Salvador, Nathalia Faria e Luiza Faria e ainda Bruna Soares, que entrou depois, já com o convite para ser também presidente e tocar o dia-a-dia da operação. “Estamos nos planejando para ser a maior plataforma de marcas de luxo”, conta Bruna, em entrevista ao EXAME IN.
“O second-hand [mercado de segunda-mão] não é só uma tendência, é quase um dito social, se formos pensar no que a indústria de moda emite de poluição”, afirma Bruna.“Não dá mais para desvincular moda de sustentabilidade. As próprias lojas estão abrindo ou estimulando a criação de um braço para essa recirculação”, diz a executiva, que cita as iniciativas recentes da Arezzo, da Lojas Renner e o próprio IPO (oferta pública inicial) da Enjoei. Sem contar o movimento do Grupo Soma, que comprou a grife NV, da blogueira Nati Vozza, por mais de 200 milhões de reais.
A empresa de pesquisa especializada no setor de varejo GlobalData estima que o mercado de segunda-mão deve saltar de 24 bilhões de dólares, registrados ao fim de 2019, para 51 bilhões de dólares até o fim de 2025 — mais do que duplicar em cinco anos, portanto. Para 2029, a expectativa é que alcance 80 bilhões de dólares em negócios. No Brasil, a expectativa é que em um período de dez anos, as compras de segunda mão movimentem mais de 31 bilhões de reais, em relação aos 7 bilhões de reais transacionados no ano passado.
O NOBZ recebe mercadoria de todo o Brasil e conta hoje com mais de 1.000 fornecedoras, ou seja, consumidoras de marcas internacionais de renome que depois colocam suas peças à venda. Desse total, ao menos 30% delas geram abastecimentos mais de três vezes ao ano. As mercadorias são encaminhadas para pontos de coleta que ficam em quatro capitais: além da óbvia capital mineira Belo Horizonte, terra da família Mattar e cidade de origem da NOBZ, os pontos de recolhimento estão também em São Paulo, Salvador e Brasília. “Tem uma peculiaridade no produto de luxo. Por serem peças muito caras, muitas vezes a fornecedora não quer despachar pelo correio”, explica Bruna.
O brechó online começou como evento, bazares realizados pelas ‘it girls’ mineiras com peças de seus luxuosos guarda-roupas — no início, só em Belo Horizonte, mas logo caíram na estrada para chegar em outras grandes cidades do país. O aumento da visibilidade dos eventos levou à criação da plataforma de forma quase natural, como saída para uma oferta contínua dos produtos. Não fosse a pandemia, os eventos teriam seguido neste ano.
“Hoje nosso portfólio tem mais de 10.000 peças e deve terminar o ano com 12.000”, conta a presidente. O total estimado equivale a dobrar de tamanho nos últimos três anos. Eram 3.000 peças em 2018 e 6.000 em 2019. Agora, segundo ela, mais do que uma oportunidade para quem quer dar giro ao guarda-roupa, o mercado de segunda-mão é totalmente alinhado às preocupações e propósitos da nova geração, muito mais antenada às questões ambientais e sociais. “É um novo mercado que se forma, que não só controla o desperdício, mas também gera emprego e oportunidades.”
“O produto fica em consignação conosco por 3 meses. Se nesse período não vender, devolvemos à fornecedora. Mas isso é raro. Em geral, as peças são vendidas em dois meses”, conta. A empresa recebe hoje em torno de 1.600 peças por mês. Vende produtos de 50 reais a 50 mil reais, mas o tíquete médio dos negócios na plataforma é de 2,8 mil reais por peça, e ocorrem de 200 a 400 transações por mês. Esses números apontam para um GMV, total movimentado dentro da plataforma, de 6,7 milhões de reais a 13,4 milhões ao ano, mas Bruna não fala nem de GMV, nem de receita. O site lista mais de 60 marcas internacionais e pouco menos de 20 nacionais.
Apenas para efeito de comparação, o GMV da Enjoei foi de 200 milhões de reais nos seis primeiros meses de 2020 e a plataforma recebe, por semana, cerca de 350 mil novos produtos cadastrados.
A grande diferença do NOBZ, segundo a sócia-executiva, é o processo de certificação das peças, um problema para produtos de de alto-luxo nas plataformas tradicionais. Os produtos são revendidos com um certificado de autenticidade de duas firmas americanas reconhecidas nesse ramo, a Real Authentication e a Entrupy — raríssima por aqui, devido ao custo. “É uma solução cara, mas necessária. Nosso grande diferencial.”
Bruna Soares sabe que a NOBZ ainda tem muito chão pela frente para crescer. Mas os planos nessa direção já foram feitos e estão em marcha. Um aporte de recursos aceleraria a execução. “Nosso faturamento dobra todos os anos, desde 2017, e no ano que vem deve triplicar”, diz, mais uma vez sem falar de números, só de proporções.
A rota de crescimento, segundo a executiva, tem duas frentes paralelas: a abertura de lojas-conceito em grandes praças, começando por São Paulo (a reforma de um imóvel para a primeira delas começa no segundo semestre de 2021) e investimento em tecnologia. Na frente digital, é crucial permitir que a NOBZ passe de brechó para market-place, no qual cada fornecedora possa ter sua própria mini-loja. A solução exige investimento especialmente porque o objetivo é manter o processo de certificação para todo o catálogo. Para isso, há uma parceria com a Entrupy em desenvolvimento para permitir a verificação dos produtos por imagem.
Nas lojas, que foram projetadas para serem como grandes closets, as clientes podem contar com assessoria de moda e ainda podem levar peças para colocarem à venda, pois haverá como fazer a certificação no local. Bruna conta que cerca de um terço das fornecedoras são também clientes.
As cinco empreendedoras agora querem dar as caras e mostrar que, além de estilo, entendem muito de negócio também.
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