Ânima reduz alavancagem e ação sobe quase 10%
Indicador ficou finalmente abaixo de um covenant que determinava vencimento antecipado de dívidas caso dívida líquida ficasse acima de 3,5x o Ebitda
Natalia Viri
Editora do EXAME IN
Publicado em 10 de novembro de 2023 às 17:36.
Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 17:30.
Com um aumento na geração de caixa e um controle mais rígido na linha de contas a receber, a rede de ensino superior Ânima conseguiu reduzir sua alavancagem de 3,9 vezes para 3,4 vezes ao fim do terceiro trimestre.
O indicador ficou finalmente abaixo de um covenant que determinava vencimento antecipado de dívidas caso a relação entre dívida líquida e Ebitda ficasse acima das 3,5 vezes. A expectativa da companhia, que viu seu endividamento disparar depois da aquisição da Laureate em 2021, era que a meta fosse batida apenas no quarto trimestre.
O cumprimento da meta trouxe um alívio para as ações da Ânima, que vêm sofrendo no último ano por conta da pressão dos resultados financeiros. Os papéis chegaram a subir mais de 10% no pregão de hoje e fecharam em alta de 8%, cotados a R$ 3,40.
“Nosso mantra é que a receita tem que vir para o caixa. Tomamos um amplo conjunto de medidas para conseguisse encurtar os pagamentos e fizeram os recebíveis chegarem mais rápido ao caixa”, afirma o CFO Atila Simões, sócio da Ânima e que retornou ao posto de executivo em julho deste ano com a missão de reduzir o endividamento.
No terceiro trimestre, o EBITDA ajustado subiu 25% na comparação anual para R$ 236 milhões, com avanço de 4,2 pontos percentuais na margem operacional. A geração de caixa operacional, por sua vez, subiu 39%, para R$ 316 milhões.
No que Simões batizou um processo de “educação do contas a receber”, a Ânima foi mais rigorosa no processo de renovação de matrículas do segundo semestre, reduzindo prazos ou aumentando juros para alunos que precisavam de prazos mais longos para acertar as contas.
A companhia conseguiu adiantar ainda cerca de R$ 200 milhões em recebíveis junto aos bancos – tanto daqueles que já estavam performados até 30 de junho quanto do processo de rematrícula. “Se [o recebível] tem alguma taxa de juros embutida, não tem um prejuízo tão grande ao vendê-lo antes do prazo”, diz Simões.
Esse choque se somou a medidas que a Ânima já vinha tomando ao longo do ano, como redução de despesas com aluguel e com a estrutura corporativa.
Simões afirma que os próximos trimestres não devem contar com um “queima de gordura” tão grande.
“Do ponto de vista de otimização de capital de giro, é como se tivéssemos feito um regime, entramos em forma e agora precisamos mantê-la”, afirmou, lembrando que os trimestres pares, em que não há renovação de matrícula costumam ter um peso maior do contas a receber.
“Mas de forma geral estamos com uma empresa muito mais leve, o que nos dá a confiança de que vamos seguir entregando queda de endividamento nos próximos trimestres”.
A dívida líquida caiu de R$ 3 bilhões para R$ 2,8 bilhões. O caixa é suficiente para as dívidas vincendas nos próximos 18 meses, mas a Ânima vem trabalhando para fazer uma gestão dos passivos. “O spread médio da nossa dívida, que é de 3,4 pontos percentuais ainda é alto, então achamos que há bastante espaço para reduzir”, diz Simões.
Do ponto de vista operacional, a divisão chamada de Ânima Core, que inclui as faculdades com maior peso do ensino presencial, viu uma queda de 2% na receita, para R$ 561 milhões, com expansão de 2,2 pontos percentuais na margem.
Segundo o CEO Marcelo Battistella, o efeito é mais pontual, por conta do processo de renegociação mais rígido no ciclo de captação do meio de ano, que, segundo ele, tem alunos mais sensíveis a preço do que do começo do ano letivo.
O executivo se mostra confiante no aumento das matrículas nos próximos trimestre. “O Censo do MEC tem mostrado que os alunos querem voltar para o presencial, um movimento que deve ganhar mais força com a redução da taxa de juros, que libera mais renda para que os alunos apostem numa formação de qualidade”, afirma.
A companhia não descarta movimentos de vendas de ativos para reduzir a alavancagem, mas afirma não há nenhuma negociação em curso.
O Exame IN noticiou no começo de outubro que a companhia considera a venda da Universidade São Judas, uma das mais tradicionais do seu portfólio – ainda que haja uma grande divergência de preço entre o que a empresa espera receber e o mercado quer pagar.
Hoje, o Pipeline afirmou que a Ânima contratou o JP Morgan para vender uma fatia de Inspirali, a divisão de faculdades de medicinas que já tem a DNA, da família Bueno, como sócia. A Ânima nega as duas informações.
Saiba antes. Receba o Insight no seu email
Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade
Natalia Viri
Editora do EXAME INJornalista com mais de 15 anos de experiência na cobertura de negócios e finanças. Passou pelas redações de Valor, Veja e Brazil Journal e foi cofundadora do Reset, um portal dedicado a ESG e à nova economia.