(iStock/Reprodução)
Professor da Faculdade Exame
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 16h34.
A agenda ESG tem se consolidado como uma parte central do conceito mais amplo de sustentabilidade nas organizações, tratando, também, de gestão de riscos ambientais e sociais, além de centralizar práticas de governança e alinhar estratégias de criação de valor para o negócio.
Em outras palavras, ESG se relaciona ao que é material do negócio. Diferentemente de iniciativas filantrópicas ou de Responsabilidade Social Corporativa, o ESG está relacionado a estratégias e indicadores claros que reduzem ou eliminam externalidades negativas, ao passo que impulsionam o desempenho competitivo e o retorno sobre o investimento (ROI).
Esse impacto pode ser observado em diversas áreas da gestão, desde a governança corporativa e lideranças até métricas de investimento e gestão de riscos, temas que exploraremos neste artigo.
Juliana Oliveira de Nascimento, diz, em seu livro ESG: O Cisne Verde e o Capitalismo de Stakeholder, que a maturação do ESG tem origem em três momentos:
A combinação dos três transformou os paradigmas do mercado.
A governança corporativa passou a integrar práticas ESG, ampliando seu foco para além do alinhamento entre gestores e acionistas.
Tradicionalmente, a governança visava assegurar que decisões corporativas maximizassem o valor para os acionistas no longo prazo. No entanto, com o avanço da agenda ESG, esse conceito se expandiu para incluir as perspectivas ambientais e sociais como fatores relevantes para a geração de valor das organizações.
Sandra Guerra, co-fundadora do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, traz uma visão bem específica sobre a governança, em seu livro A Caixa Preta da Governança.
“A vocação da governança é a criação de valor a longo prazo, preservando o equilíbrio entre os interesses das partes interessadas,” escreveu ela.
Dessa forma, os mecanismos de governança passam a considerar não apenas os retornos financeiros, também buscando como minimizar o impacto negativo que esses dividendos podem trazer sobre o meio ambiente e a sociedade.
Ao incorporar essas dimensões, as empresas garantem uma maior resiliência e capacidade de adaptação em um cenário econômico e social cada vez mais desafiador, aderindo ao consenso de que esses fatores são centrais para a sobrevivência das empresas.
O conceito de liderança também sofreu uma significativa transformação com a adoção do ESG. O líder empresarial tradicional, focado principalmente em maximizar o retorno financeiro, agora deve incorporar uma abordagem mais ampla, que inclui a gestão de impactos sociais e ambientais – e os stakeholders esperam por isso.
Lideranças que implementam ESG de forma eficaz conseguem criar ambientes corporativos mais inclusivos e comprometidos com a sustentabilidade.
O exemplo da Mercur S/A ilustra como essa transição pode transformar positivamente uma empresa. Ao redirecionar seu foco para suprir as necessidades das pessoas e reduzir impactos negativos, a Mercur demonstrou que o lucro pode ser uma consequência natural de uma abordagem centrada no propósito.
Essa mudança coloca o líder moderno como um agente fundamental na implementação da agenda ESG, garantindo coerência entre valores, práticas e resultados e impactando positivamente a reputação das organizações.
A adoção de práticas ESG também gerou mudanças substanciais nas métricas de investimento. Antes, os investidores concentravam-se quase exclusivamente em indicadores financeiros para avaliar o desempenho das empresas. Com a crescente conscientização sobre os riscos ambientais e sociais, novos critérios passaram a fazer parte das análises de investimento.
Fundos ESG têm se consolidado como uma opção estratégica para investidores que buscam retorno financeiro alinhado a impactos sociais e ambientais positivos. No entanto, a crise do custo de vida, principalmente nos EUA e Europa e o desempenho variável de alguns fundos sustentáveis trazem desafios, com investidores se tornando mais cautelosos e críticos quanto à eficácia desses investimentos.
Mesmo assim, as empresas que mantêm altos padrões de governança e transparência, com uma estratégia bem desenhada em sua mitigação de impactos ambientais e sociais, tendem a se destacar e atrair capital de longo prazo, consolidando-se como opções mais seguras e resilientes no mercado global.
A gestão de riscos, uma área central na governança, foi igualmente impactada pela agenda ESG. O foco tradicional em riscos financeiros e operacionais foi ampliado para incluir questões ambientais e sociais, que podem gerar impactos significativos para os negócios. A incapacidade de lidar com esses riscos pode colocar em xeque a continuidade das operações.
Os riscos emergentes, como mudanças climáticas e crises sociais, tornaram-se componentes críticos na avaliação da resiliência de uma empresa. Conforme apontado pelo Relatório de Riscos Globais de 2023 do Fórum Econômico Mundial, crises do custo de vida, erosão da coesão social e polarização são alguns dos riscos sociais identificados como prioritários para as lideranças globais.
Empresas que integram a agenda ESG em suas práticas de gestão de riscos conseguem não apenas mitigar ameaças, mas também criar oportunidades de inovação e adaptação em um cenário de rápidas transformações.
O impacto da agenda ESG nas organizações vai além de uma tendência passageira. Ele redefine os conceitos de governança, liderança, métricas de investimento e gestão de riscos, estabelecendo novos padrões de operação e sucesso no mundo corporativo.
Ao incorporar essas práticas em sua estratégia central, as empresas podem se posicionar de forma mais resiliente, sustentável e competitiva. A adoção da agenda ESG, portanto, não é apenas uma questão de responsabilidade, mas uma estratégia essencial para garantir a longevidade e relevância dos negócios no século XXI.