Joaquin Salvador Lavado, o Quino, ao lado de uma escultura da Mafalda (Europa Press/Getty Images)
Daniel Salles
Publicado em 30 de setembro de 2020 às 13h53.
Última atualização em 30 de setembro de 2020 às 22h56.
Morto hoje aos 88 anos, o argentino Joaquín Salvador Lavado Tejón, o Quino, ganhou fama mundial graças à impagável Mafalda. Mas reduzir seu legado à espevitada garotinha sem papas na língua, cujos livros foram trazidos para mais de 30 idiomas, configura uma tremenda injustiça. Sua obra é composta, afinal, de uma infinidade de personagens anônimos tão ou mais afiados que ela.
A começar pelos colegas de escola da menina. Manolito, por exemplo, o protagonista de um genial cartum recente. Nele, a professora da turma começa dizendo o seguinte: "e quem não entendeu que levante a mão". No segundo quadrinho o garoto estende o braço o máximo que pode. "Vejamos, Monolito, que foi que não entendeu?", retruca a professora no quadrinho seguinte. "Desde março até agora nada!", devolve o rapaz, na cena final.
Quino virou craque em desenhar situações absurdas que resolvia às vezes só com uma breve tirada e em outras com verbetes caudalosos. Uma tirinha clássica mostra um sujeito sozinho numa ilha deserta. Lá pelas tantas ele clama aos céus: “Senhor, que tédio”. Ao que Deus envia um anjo incumbido de jogar baralho com o solitário personagem.
A morte de Quino foi confirmada hoje por seu editor, Daniel Divinsky, fundador da Ediciones de la Flor, pelo Twitter. "Quino morreu. Todas as pessoas boas do país e do mundo ficarão de luto por ele", escreveu. O cartunista teria sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) na semana passada (as causas oficiais da morte não foram divulgadas).
Criador das histórias em quadrinhos mais traduzidas da língua espanhola, Joaquín Salvador Lavado Tejón nasceu em Mendoza, na Argentina, em 1932 (em 2017, após a morte de sua mulher, Alicia Colombo, voltou a residir na cidade conhecida pelos vinhos). Não é exagero dizer que sem ele o mundo fica um pouco mais sem graça.