Energia nuclear: Os países ocidentais advertem que qualquer pacto pode ser revisado se Teerã não cumprir sua parte (thinkstock)
Da Redação
Publicado em 3 de abril de 2015 às 10h35.
Uma multidão saiu às ruas de Teerã nesta sexta-feira para receber a equipe de negociadores iranianos em seu retorno da Suíça, onde na quinta-feira assinaram um acordo preliminar com as grandes potências internacionais sobre o programa nuclear do país, que Israel chamou de "perigoso".
Após o anúncio na quinta-feira em Lausanne dos "parâmetros" deste acordo preliminar histórico negociado há 18 meses, o Irã e as grandes potências devem examinar agora as opções e solucionar os complexos detalhes técnicos, com o objetivo de obter um acordo definitivo até a data limite de 30 de junho.
A assinatura do acordo não significa que a confiança é total. Os países ocidentais advertem que qualquer pacto pode ser revisado se Teerã não cumprir sua parte.
Após as negociações na Suíça, com um papel dominante dos Estados Unidos, país com o qual o Irã não tem relações diplomáticas, o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohamad Javad Zarif, e sua equipe foram recebidos como heróis por uma multidão.
"Viva Zarif, viva Araghchi", gritaram, em referência ao ministro e a um de seus assessores, Abas Araghchi.
Zarif acenou com um sorriso para os simpatizantes. Em um breve comentário, ele agradeceu ao guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, o homem que dá a palavra final nas decisões do Irã nas negociações nucleares, por seu "grande apoio".
O presidente iraniano, Hassan Rohani, deve falar com a imprensa sobre o acordo nas próximas horas.
O anúncio de quinta-feira foi recebido com gritos e buzinaço em Teerã. As pessoas comemoraram nas ruas com música e o gesto da vitória. Também agitavam lenços brancos.
"Agora vamos poder viver normalmente, como o resto do mundo", afirmou Davoud Ghafari, que espera o fim das sanções internacionais que asfixiam a economia iraniana há vários anos.
"A opinião pública mostrou que compreende a diferença entre os traidores e os que estão a serviço da nação", afirmou nesta sexta-feira Saeidollah Allahbedashti, um colaborador próximo do presidente Rohani, em referência a alguns conservadores, que denunciam concessões muito importantes ao Ocidente.
O acordo preliminar contempla, entre outros pontos, a redução do número de centrífugas no Irã, que passarão de 10.000 ativas a 6.000, e o compromisso de não enriquecer urânio durante 15 anos no complexo nuclear de Fordo, construído em uma montanha, o que significa um difícil acesso e supervisão.
Também prevê que as sanções americanas e europeias serão suspensas a partir do momento que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) certificar o respeito de Teerã aos compromissos e que serão restabelecidas se o Irã descumprir o o acordo.
Até o momento não foi divulgada uma data para o reinício das negociações de um acordo definitivo, mas Rohani afirmou na quinta-feira que devem começar imediatamente para a conclusão até 30 de junho".
Nesta sexta-feira, o ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, afirmou que a delicada questão do calendário de suspensão das sanções ainda não está resolvida.
"Os iranianos querem uma suspensão imediata de todas as sanções. Nós afirmamos: devem ser suspensas à medida que respeitarem seus compromissos. Se não respeitarem, evidentemente, voltaremos à situação anterior".
Moscou afirmou que está disposta a fornecer combustível aos reatores de fabricação russa no Irã e admitiu que "ainda resta muito por esclarecer".
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, citou um "acordo histórico", mas destacou que deve ser objeto de "verificações sem precedentes" no que diz respeito a sua aplicação.
"Estamos muito felizes com o acordo assinado", afirmou o ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, que espera ver o Irã adotar as etapas necessárias para possibilitar o acordo definitivo até julho.
A Arábia Saudita afirmou que espera uma "acordo definitivo restritivo" para o Irã, que reforce a estabilidade e a segurança no Oriente Médio, enquanto Israel voltou a criticar o anúncio.
"O acordo preliminar é um passo em uma direção muito perigosa", declarou nesta sexta-feira o porta-voz do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu à imprensa.
"O único objetivo do Irã é produzir a bomba atômica", disse Mark Regev à imprensa.
"Não apenas (o acordo) deixa o Irã com uma ampla infraestrutura nuclear, com também não resulta no fechamento de uma única instalação nuclear, autoriza Teerã a conservar milhares de centrífugas para seguir enriquecendo urânio e permite continuar com as pesquisas de desenvolvimento para construir novas centrífugas mais potentes", criticou.
Netanyahu afirmou na quinta-feira ao presidente americano Barack Obama que o acordo ameaça a sobrevivência de Israel.