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Em São Francisco, muita gente vê os nerds como inimigos

Em São Francisco, na Califórnia, o sucesso da indústria de tecnologia não trouxe só benefícios

Sede do Airbnb, em São Francisco: a cidade onde as empresas brigam pelos nerds (Gabrielle Lurie/Reuters)

Sede do Airbnb, em São Francisco: a cidade onde as empresas brigam pelos nerds (Gabrielle Lurie/Reuters)

RS

Raphaela Sereno

Publicado em 5 de outubro de 2017 às 05h06.

Última atualização em 5 de outubro de 2017 às 05h06.

Quem não faz parte da indústria de tecnologia e não enriqueceu com ela sente-se convidado a sair da festa. O fenômeno é chamado de gentrificação, ou enobrecimento urbano, e acontece em todo o mundo. Por diferentes razões, uma área antes empobrecida ou degradada entra no radar de pessoas mais abastadas.

Não raramente, trata-se do difícil equilíbrio de dar uma nova destinação econômica a uma região sem expulsar quem antes vivia ali. Em São Francisco, onde o termo hippie foi cunhado nos anos 60, a invasão dos nerds não agrada. “As empresas de tecnologia, que já foram vistas como heroínas, agora estão se tornando as vilãs dos centros urbanos”, diz Florida.

Nos últimos anos, Google, Uber e Airbnb transformaram-se em constantes alvos de protestos em São Francisco — embora, no momento, as passeatas contra o presidente Donald Trump estejam mais frequentes. Políticos tentam banir uma inovação criada ali mesmo: um robô que faz entrega de comida e roda pelas calçadas. Para uma cidade que é considerada o berço da contracultura americana, ainda impera certo desconforto e uma relutância contra a prosperidade que a economia digital trouxe.

A questão da desigualdade na cidade tem sido levada a sério não apenas para agradar à parte menos favorecida pelo enriquecimento. Ela passa a atrapalhar os negócios. No longo prazo, um lugar que se caracteriza como território de ricos afugenta uma parcela substancial da população. E cidades menos diversas correm o risco de romper as trajetórias de inovação que as colocaram em posição de destaque.

Um estudo recente do Brookings Institution, de Washington, com as 100 maiores regiões metropolitanas dos Estados Unidos, mostra que a economia de São Francisco fica devendo no quesito inclusão. Enquanto é considerada a sétima mais próspera e a décima que mais cresce no país, a cidade ficou na 24ª posição do ranking de inclusão.

Obviamente, não há cidade perfeita. Para a sorte dos que vivem a São Francisco da inovação e do empreendedorismo digital, talvez não haja um lugar no mundo com um espírito tão aberto para as maravilhas que a tecnologia pode produzir para a humanidade.

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