Repórter
Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 15h52.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2025 às 17h36.
A Alemanha foi às urnas neste domingo, 23, em meio a uma crise econômica e tensões políticas. Os primeiros resultados indicam a vitória da aliança conservadora CDU/CSU, com 30% dos votos, credenciando Friedrich Merz como favorito ao posto de chanceler federal.
Apesar da vitória, a legenda não conquistou maioria absoluta no Parlamento e precisará negociar alianças para formar governo. O Partido Social-Democrata (SPD), do atual chanceler Olaf Scholz, sofreu uma derrota histórica, caindo para a terceira posição, com apenas 16% a 16,5% dos votos – seu pior desempenho em mais de um século.
A ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) surpreendeu ao obter 19,5% a 20% dos votos, tornando-se a segunda maior força no Bundestag. Já os Verdes ficaram com 13,5%, enquanto os liberais do FDP, antigos parceiros de Scholz na coalizão, tiveram um desempenho abaixo do esperado e correm o risco de não ultrapassar a cláusula de barreira.
Olaf Scholz (SPD) e Friedrich Merz (CDU): o atual chanceler Olaf Scholz e seu SPD foram os maiores derrotados da eleição (Getty Images)
A vitória de Merz representa uma guinada conservadora na política alemã. O líder da CDU prometeu endurecer políticas migratórias e resgatar a influência dos conservadores após os anos centristas sob Angela Merkel.
No entanto, sem maioria absoluta, Merz precisa negociar alianças para garantir governabilidade. Como já descartou se unir à AfD, os analistas apontam que ele terá que buscar apoio de partidos rivais, como o SPD ou os Verdes.
O sistema político alemão exige que um chanceler tenha apoio de mais da metade dos 630 assentos no Bundestag para governar. Negociações podem levar semanas até que um novo governo seja formado.
O atual chanceler Olaf Scholz e seu SPD foram os maiores derrotados da eleição. Com apenas 16% dos votos, os social-democratas registraram seu pior resultado em mais de um século.
A queda foi impulsionada pela desaceleração econômica e pelo desgaste do governo. Scholz, que assumiu em 2021, perdeu apoio popular e será o chanceler mais breve da Alemanha reunificada, com menos de quatro anos no cargo.
A ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) dobrou sua votação e agora ocupa a segunda maior bancada do Parlamento. Com um discurso radical anti-imigração, o partido ampliou sua base ao longo da campanha, especialmente após ataques violentos cometidos por estrangeiros no país.
Alice Weidel, candidata da AfD à chancelaria, celebrou o desempenho nas urnas e afirmou que o partido tem como objetivo "ultrapassar a CDU" no futuro.
No entanto, a sigla enfrenta uma barreira política: nenhuma outra legenda tradicional está disposta a negociar uma coalizão.
O chamado "cordão sanitário", pacto entre os partidos alemães para isolar a extrema-direita, tem sido eficaz. Mesmo em eleições estaduais onde a AfD foi a mais votada, como na Turíngia em 2024, o partido não conseguiu formar governo.
A AfD foi fundada em 2013 com uma agenda eurocética, mas rapidamente adotou pautas radicais contra imigração. Parte de seus diretórios estaduais são classificados como "extremistas de direita" pelo serviço de inteligência alemão.
Nos últimos anos, a legenda tem recebido apoio externo. Durante a campanha, o bilionário Elon Musk e o vice-presidente americano J.D. Vance expressaram apoio público à sigla, levantando suspeitas de interferência estrangeira.
A Alemanha também acusou a Rússia de tentar influenciar a eleição por meio de campanhas de desinformação nas redes sociais. Além disso, um assessor da AfD foi preso por suspeita de espionagem para a China, e um parlamentar do partido teria recebido verbas russas.
Agora, os próximos passos envolvem intensas negociações para definir a nova coalizão de governo. Merz aparece como principal candidato à chancelaria, mas precisa costurar alianças para consolidar seu poder.
A ascensão da ultradireita e a fragilidade dos social-democratas sinalizam uma mudança significativa no cenário político alemão, que pode impactar tanto a Europa quanto a economia global nos próximos anos.