Bradesco: no terceiro trimestre, o lucro líquido subiu 26,5%, ante igual etapa de 2013 (Andrew Harrer/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2014 às 14h34.
São Paulo - O Bradesco se rendeu ao cenário econômico adverso do país e reduziu a previsão para empréstimos em 2014, mas seus sinais de foco na manutenção das margens de lucro e no controle da inadimplência e dos custos agradaram o mercado.
O segundo maior banco privado do país reduziu a previsão de alta da carteira de crédito em 2014, de 10 a 14 por cento para 7 a 11 por cento, após seu estoque de empréstimos subir apenas 7,7 por cento em 12 meses até setembro, a 444,2 bilhões de reais.
"Prevemos uma aceleração no quarto trimestre, que nos permita alcançar o centro da estimativa revisada", disse o diretor executivo Moacir Nachbar, em teleconferência a jornalistas sobre os resultados do terceiro trimestre.
Analistas, que davam a revisão como certa, deram mais atenção a itens como a margem financeira de juros, taxa média que os bancos cobram na concessão de empréstimos, ao controle de despesas, às maiores receitas com tarifas e aos sinais de que a inadimplência está sob controle.
"Margens de crédito, o forte controle de custos e a robusta performance em tarifas mais que compensaram as provisões maiores (para calotes) e o menor resultado em seguros", comentou em relatório a equipe do Credit Suisse liderada por Marcelo Telles.
O banco também elevou a estimativa para alta da margem financeira com juros, do intervalo de 6 a 10 para o de 9 a 12 por cento em 2014.
No terceiro trimestre, o indicador foi de 7,5 por cento, queda sequencial de 0,2 ponto, mas 0,5 ponto maior em 12 meses.
Nachbar disse que o nível atual deve se manter, refletindo uma competição menos acirrada entre os bancos por crédito.
O Bradesco também viu um avanço de 13,3 por cento das receitas com tarifas e serviços, a 5,639 bilhões de reais, e elevou a previsão de aumento nesta linha em 2014, da faixa de 9 a 13 para a de 11 a 14 por cento.
Para analistas, o movimento revela preocupação da empresa em manter o nível de rentabilidade.
No terceiro trimestre, o retorno do Bradesco sobre patrimônio líquido (ROE), que mede como bancos remuneram o capital de seus acionistas, foi de 20,4 por cento, ante 18,4 por cento no terceiro quarto de 2013, mas levemente abaixo dos 20,7 por cento de três meses antes.
Às 14h26, a ação do Bradesco disparava quase 7 por cento, a 35,99 reais, numa das maiores altas do Ibovespa, que subia 2,3 por cento no mesmo instante.
As ações do setor bancário também refletiam a inesperada alta de 0,25 ponto da Selic na véspera, o que foi lido por economistas como sinal de maior comprometimento do governo federal em controlar a inflação.
No terceiro trimestre, o lucro líquido do Bradesco subiu 26,5 por cento ante igual etapa de 2013, a 3,875 bilhões de reais.
Em base recorrente, o lucro foi de 3,95 bilhões de reais, avanço de 28,2 por cento e levemente acima da previsão média de analistas ouvidos pela Reuters, de 3,849 bilhões de reais.
O resultado veio mesmo após efeito contábil negativo de 598 milhões de reais gerado pelo colapso do português Banco Espírito Santo, no qual o banco tinha 3,9 por cento do capital.
Uma das linhas que menos agradaram os analistas foi o índice de calotes acima de 90 dias, que subiu a 3,6 por cento no trimestre, ante 3,5 por cento no fim de junho e 3,6 por cento em setembro de 2013, mesmo com foco em linhas consideradas mais seguras, como imobiliária e consignado.
Além disso, a despesa com provisões para perdas com inadimplência somou 3,348 bilhões de reais, avanço de 16,2 por cento ante igual etapa do ano passado.
O banco atribuiu esse avanço ao "agravamento do nível de risco de casos pontuais, ocorridos em operações com clientes corporativos, que se iniciou no segundo trimestre".
Nachbar minimizou o fato e previu que a inadimplência vai se manter nos atuais níveis nos próximos trimestres.
"Não vemos riscos sistêmicos de aumento da inadimplência", disse.