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Visão de longo prazo ajuda a investir e aumentar ganhos com criptomoedas

Mentalidade envolve perspectiva de adesão maior ao setor e capacidade de identificar diferenciais em projetos

Bitcoin é uma das criptomoedas mais associadas à visão de longo prazo por investidores (Getty Images/Reprodução)

Bitcoin é uma das criptomoedas mais associadas à visão de longo prazo por investidores (Getty Images/Reprodução)

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 20 de fevereiro de 2023 às 09h00.

O mercado de criptomoedas é relativamente novo para o mundo financeiro, começando em 2009 com o lançamento do bitcoin – até hoje o seu maior e mais famoso integrante. Desde então, o ativo sozinho já valorizou mais de 30.000%, e o segmento como um todo atingiu um valor de mercado superior à casa dos US$ 1 trilhão.

Esse valor, porém, ainda é relativamente pequeno para a economia global. Gigantes de tecnologia como o Google ou a Amazon sozinhas já ultrapassam o número. Ao mesmo tempo, o bitcoin e os criptoativos como um todo alternam constantemente entre períodos de fortes ganhos e, então, subsequentes recuos para patamares intermediários.

Por trás desse cenário, porém, especialistas ressaltam que é sim possível investir nas criptomoedas e ganhar dinheiro, sobrevivendo aos períodos mais duros de queda. Para isso, é importante entender que os maiores ganhos nesse mercado não virão em 2023 ou 2024, mas sim no longo prazo.

Disparada das criptomoedas

Uma das gestoras de patrimônio que mais aposta nessa perspectiva é a Ark Invest, liderada por Cathie Wood e especializada em projetos de tecnologia. Em janeiro deste ano, a empresa divulgou um relatório com três cenários de valorização do bitcoin até 2030. No mais pessimista, a criptomoeda ainda subiria para US$ 258,5 mil ante os US$ 24 mil atuais. Mas, no otimista, o ganho seria ainda maior, com o ativo chegando aos US$ 1 milhão.

Ayron Ferreira, head de análise da Titanium Asset, observa que sempre é preciso ter cautela com essas projeções: “são cenários que podem ou não se concretizar, e às vezes demorar muito mais que o previsto. Essas análises também podem ser enviesadas, já que quem faz tem interesse que mais gente invista porque eles mesmos já investiram nesses ativos”.

Mas, independentemente dos números, a lógica usada pela gestora é a mesma compartilhada por Ferreira: a tendência é que, quanto maior for a adesão e demanda pelo bitcoin e por outras criptomoedas, maior será o seu preço. Não há como saber com precisão quando isso ocorrerá, mas os retornos serão grandes nesse momento para quem investiu cedo na área.

A justificativa para essa associação está em uma comparação feita por Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset, de que o mercado cripto “é um exemplo de adoção em tecnologia. Quando uma pessoa investiu no Google nos primórdios, ele tinha uma ideia de adesão geral no futuro. E cripto é igual, é um caso de desintermediação, de empoderamento do usuários”.

Nesse sentido, ele compara os investimentos na área aos de chamado “venture capital”, ou capital de risco, que é geralmente realizado em empresas ou ideias ainda iniciais, para começarem a sair do papel e, então, crescerem e gerarem retornos em alguns anos que não apenas compensarão, mas ultrapassarão os valores investidores.

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E poucos ativos são tão citados pelos defensores dessa visão quanto o bitcoin. Ludolf acredita que a primeira criptomoeda do mercado “possui propriedades únicas, que outros projetos não têm”. “Ele é de fato o único descentralizado, então é menos afetado por regulação. Ele não é permissionado, qualquer um pode participar e não tem um dono que define isso. Ele é de código aberto, e também imutável e resistente à censura”.

Há, ainda, a característica da escassez: existe uma quantidade máxima de bitcoin que será emitida, sem geração de novos ativos. “Por essas propriedades, ele tem um papel especial nos portfólios, inclusive tradicionais, já que é um tipo de reserva de valor. E é também um canário da mina, o principal e mais antigo uso de caso, mas não é o único”.

Ayron Ferreira lembra ainda que o bitcoin está no mercado desde 2009, e sua rede continua “cada vez mais fortalecida, e seu propósito como moeda descentralizada, segura, incensurável, não só não se perdeu como tem crescido cada vez mais. Ele nunca perdeu a segurança, e a adoção tem crescido. É um importante ativo que quer ser usado como reserva de valor”.

A própria resiliência da criptomoeda, ressalta Ferreira, mostra um aspecto importante desse mercado: se muitos dos criptoativos que já chegaram a figurar no “top10” do mercado desapareceram, o bitcoin segue forte. Ou seja, a visão de longo prazo não é válida para todos os projetos, já que alguns possuem falhas, ausência de diferencial ou então são simplesmente golpes, mas pode levar a investimentos bem-sucedidos.

“A grande parte dos ativos é fruto de um mercado aberto, então qualquer um poder criar um projeto e captar dinheiro, tem muita gente mal intencionada. Hoj, o bitcoin é o que tem mais fundamentos comprovados, então pra quem está começando, é o que dá mais chances de ter esse ganho”, explica.

Isso não significa que ele seja a única criptomoeda segura de se investir. Ferreira considera que, nesses casos, é importante avaliar um ativo como se estivesse analisando uma empresa antes de investir. Fatores como diferencial de mercado, liquidez e número de usuários são importantes, assim como “fazer o básico e não querer especular, porque a chance de sucesso é baixa quando se especula”.

Ludolf alerta que “mesmo gestores são tentados pelo curto prazo, por um projeto novo, sexy, que começa a ganhar mercado, e aí dá errado. Então tem que fazer o dever de casa, estudar os fundamentos, ver o potencial, diferencial, a razão de existir. Demanda uma análise mais fria, racional. As pessoas envolvidas nos projetos são boas? Investir em tecnologia no estágio inicial é investir em pessoas”.

Uma característica que pode ajudar é o tempo de mercado. Segundo ele, projetos com três ou mais anos de funcionamento de suas redes e aplicações já demonstram um grau de resiliência e seriedade que torna os investimentos mais seguros. Por isso, ele recomenda “entrar aos poucos, porque se a adoção vier, o preço vem também”.

No caso do bitcoin, Ayron Ferreira destaca que “aquestão da escassez também é muito importante para a tese de valor, se a demanda é maior e a oferta é limitada, a tendência é que vá aumentando de valor. Mas precisa dessa demanda, e ela virá de entender da importância da descentralização e segurança da rede”.

Como investir em criptomoedas?

Um aspecto essencial da visão de longo prazo é o que os analistas chamam de preço-médio. A ideia é que, mesmo que uma pessoa compre uma criptomoeda em momentos de preços maiores e então menores, o preço-médio das aquisições ainda será bastante inferior à cotação que o ativo pode atingir no cenário de alta adoção e liberação do seu valor potencial de mercado. Portanto, a melhor forma de investir no mercado é aos poucos.

“Se o investidor é mais experiente, ele vai entender o fundamento do ativo e identificar que momentos de queda são oportunidades, porque já tem essa convicção e quanto mais barato, melhor”, opina Ferreira.

Ao mesmo tempo, “se é um investidor mais novo, inexperiente, e que se expõe a qualquer criptomoeda, ele vai estar igualando o valor de altcoins [outras criptomoedas] ao do bitcoin, e pode cair em efeitos manadas, na criptomoeda da moda, em um golpe, uma recomendação de amigo. Ele pode cair em especulação, hype, e ir comprando mais e mais enquanto o mercado não vê fundamentos”.

Além disso, o head da Titanium ressalta que é importante ter em mente que o mercado de criptomoedas é um dos mais voláteis existentes. Por isso, quanto mais de curto prazo a análise for, com um desejo de obter lucro rápido, maiores as chances de se frustrar. “Acertar esse timing de um ativo volátil no curto prazo é muito difícil, mas se aumenta o período, vê que tem um potencial de valorização no longo prazo”.

Nesse caso, Ludolf aponta uma certa “vantagem” do venture capital: “ele te deixa travado no investimento por cinco, dez anos, e só pode sair quando aquilo já se pagou, cresceu. O valor das criptomoedas só vai ser destravado com uma adoção maior, quando virar algo grande, a nova internet, com tokenização, blockchain. Hoje, eu vejo que não é mais uma questão de se, é de quando mesmo. Mas adoção e preços não andam simultaneamente".

Em 2022, por exemplo, o mercado registrou sinais positivos de adoção, com projetos e anúncios de grandes empresas e bancos, e ao mesmo tempo teve fortes perdas, superando os 60% em diversos casos, devido ao ambiente macroeconômico ruim desencadeando o chamado “inverno cripto”.

Se por um lado as criptomoedas trazem a vantagem de poder investir em projetos promissores e monitorar seu retorno, podendo sair a qualquer hora, por outro a ansiedade e medo ao ver movimentos abruptos do mercado pode levar a saídas na hora errada, “pegando só um pouco desse movimento de valorização”.

“O investidor que acreditar minimamente nessa transição para a Web3 tem que tentar não olhar para tela, preço, todo dia, porque às vezes vai ficar descrente, sofrer alguma perda, e o mercado é muito volátil e muito rápido. Quando não permite ver o rendimento na hora, muitas vezes ganha mais dinheiro”, comenta Ludolf.

Além de saber escolher os projetos com potencial e ter a paciência para suportar a volatilidade do mercado, o diretor da QR Asset lembra que os investidores precisam ter também a noção do tamanho que o investimento em criptomoedas ocupará em seus portfólios, idealmente não muito grande.

“Como a indústria ainda é muito pequena, estar investido nos grandes projetos já permite captar sim boa parte do valor dessa indústria. Esse perfil em foco de estágio inicial te leva a projetos menos perenes, sólidos, e pode levar a grandes perdas. Mas, se a curva de adoção ocorrer, com cripto permeando tudo, de identidade digital a finanças descentralizadas, você não precisa nem que prospere em tudo, só em algumas áreas, e aí o mercado já vai ser muito maior do que é hoje”, avalia.

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