Repórter do Future of Money
Publicado em 29 de janeiro de 2025 às 09h30.
A transformação digital continuou avançando em 2024 nas empresas brasileiras, liderada pelo setor de serviços financeiros, mas o ritmo segue aquém do ideal, com questões de governança surgindo como um desafio maior que a incorporação de novas tecnologias. É o que aponta a nova edição do Índice Transformação Digital Brasil divulgado pela PwC.
De acordo com a consultoria, as empresas brasileiras terminaram 2024 com um índice de 3,7 pontos, um crescimento em relação aos 3,3 pontos registrados em 2023. A métrica vai de 1 a 6, sendo que quanto maior, mais avançado está o processo de transformação digital na economia de um país.
O levantamento leva em conta 10 dimensões: estratégia, governança, fronteira tecnológica, processos digitais, clientes digitais, pessoas e cultura, infraestrutura, estratégia de tecnologia, inteligência artificial e decisões orientadas por dados. O melhor resultado foi na área de estratégia (4,1 pontos), e o menor, na de decisões orientadas por dados (3,5 pontos).
Na avaliação da PwC, "as empresas brasileiras estão compreendendo cada vez mais relevância às inovações digitais, mas o ritmo de integração de novas soluções e seu verdadeiro impacto ainda dependem de uma governança eficaz e de estratégias alinhadas às realidades operacionais e de mercado".
Hugo Tadeu, diretor do Núcleo de Inovação e Tecnologias Digitais da Fundação Dom Cabral, que participou do estudo, afirma que foi possível notar um "aumento na percepção e na relevância que os tomadores de decisão têm dado às inovações e tecnologias digitais. O desafio, porém, não está na inovação em si, mas nos mecanismos de governança que a acompanham. O problema é que o nível de maturidade para integrar verdadeiramente as tecnologias digitais ainda é muito baixo".
"Por isso, enfatizamos constantemente, desde o ano passado, a necessidade de focar não só na tecnologia, porque as tecnologias mudam. Sem uma estratégia de governança adequada – que envolva a estrutura organizacional, as alçadas de decisão e os investimentos – essa maturidade continuará em níveis baixos", ressalta.
O estudo da PwC avaliou a transformação digital em oito grandes segmentos da indústria brasileira: serviços financeiros, tecnologia da informação, energia, produção industrial, varejo e consumo, saúde, consultoria de serviços e agronegócio.
Todos registraram uma pontuação maior em 2024 do que em 2023, mas com variações relevantes. O agronegócio teve o pior resultado, saindo de 3 pontos em 2023 para 3,1 pontos no ano passado. Já os serviços financeiros tiveram o melhor desempenho, crescendo de 4,1 para 4,3 e se mantendo na liderança.
Segundo o levantamento, "as instituições financeiras têm aproveitado a transformação digital para otimizar processos, reforçar governança e alcançar diferenciais competitivos". Mas ainda há desafios, em especial nas áreas de "infraestrutura, decisões baseadas em dados e estratégia de tecnologia", que têm "espaço para melhorias".
"A transformação digital não é apenas uma escolha estratégica para o setor financeiro, mas uma necessidade para se manter competitivo em um mercado dinâmico e altamente regulado", ressalta a PwC.
Lindomar Schmoller, sócio e líder da indústria de Serviços Financeiros da PwC, destaca que "o setor financeiro tem se destacado como líder na transformação digital, com foco em eficiência operacional e governança robusta. A implementação de estratégias digitais bem definidas, aliada à otimização de processos internos, tem sido o grande diferencial, permitindo que essas instituições avancem de maneira consistente".
Com relação à adoção de "tecnologias de fronteira", o segmento se destaca na expectativa de adoção de blockchain e inteligência artificial. Entre as empresas entrevistadas, 60% veem blockchain como uma tecnologia essencial para o futuro do segmento, e 50% têm a mesma visão sobre IA. Na média geral de todos os segmentos, os números são consideravelmente menores, de 8% e 20%, respectivamente.
Para a PwC, o segmento tem tido um papel de "vanguarda da inovação tecnológica, em busca de soluções que aprimorem a segurança, a eficiência e a competitividade".