Levantamento da Soldius Labs aponta que, em 2022, criminosos realizaram 15 golpes envolvendo criptomoedas por hora (Towfiqu Photography/Getty Images)
Marcado pelo chamado “inverno cripto”, 2022 não foi um ano fácil para os investidores de criptomoedas. Mas o cenário foi piorado, entre outros fatores, pela ocorrência de grandes golpes envolvendo ativos digitais que acabaram prejudicando financeiramente milhares de pessoas.
Um levantamento da Soldius Labs aponta que, em 2022, criminosos realizaram 15 golpes envolvendo criptoativos por hora. Com isso, entre janeiro e novembro, hackers roubaram cerca de US$ 4,3 bilhões em moedas digitais, alta de 37% em relação a 2021.
Os golpes financeiros não são uma exclusividade do universo das criptomoedas, mas a combinação de falta de conhecimento por muitos investidores e promessas de lucro atraentes em projetos falsos acabam agravando o quadro. Além disso, existem vulnerabilidades do setor a ataques hackers.
Entre os golpes mais comuns envolvendo criptoativos estão esquemas de pirâmide e os chamados “rug pulls”, em que investidores são atraídos para depositarem seus recursos em projetos em busca de bons rendimentos, mas os responsáveis roubam todos os fundos de uma vez e desaparecem.
E o ano contou com bons exemplos dessas modalidades, oferecendo também algumas lições e sinais importantes para se evitar cair em novas enganações que possam surgir no futuro. Confira!
A presença de um país nesta lista pode causar estranheza, mas diversos usuários apontaram que a Ucrânia realizou em 2022 um dos maiores "rug pulls" do setor até o momento. Tudo começou quando a nação iniciou uma campanha para receber doações após ser invadida pela Rússia em fevereiro.
A princípio, a campanha envolveria a emissão e distribuição de uma criptomoeda própria para todos que doassem determinados valores. Em poucos dias, o país ultrapassou a marca de US$ 50 milhões em doações. Ao mesmo tempo, começaram a surgir outros tokens falsamente associados ao governo para atrair e enganar investidores.
Por isso, a Ucrânia decidiu realizar um "rug pull do bem" e determinou que não emitiria mais nenhuma criptomoeda e, ao invés disso, passaria a vender tokens não-fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) para evitar que os golpes continuassem. Apesar da maioria dos investidores não terem se importado com a decisão, outros criticaram o país e se sentiram enganados.
Para a Solidus Labs, o escândalo ligado às práticas de mercado da agora falida exchage FTX foi o maior golpe de 2022. Segundo o estudo da empresa, o total de perdas de clientes variou entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões, com poucas chances da empresa conseguir liberar no curto prazo os saques congelados dos investidores.
Inicialmente vista como uma crise de falta de liquidez, revelações em investigações e processos judiciais mostraram que executivos da FTX conscientemente misturaram fundos da empresa com os de clientes e também manipularam a cotação da criptomoeda nativa da exchange, o FTT.
O próprio fundador e ex-CEO da empresa, Sam Bankman-Fried, foi preso nas Bahamas e extraditado para os Estados Unidos, podendo ser condenado a mais de 100 anos de prisão. Já a corretora iniciou uma reestruturação para tentar pagar seus credores.
Os ataques hackers continuaram sendo um problema para o setor de criptomoedas em 2022. Os principais alvos, segundo a Solidus Labs, foram as exchanges descentralizadas e ouras empresas da área de finanças descentralizadas (DeFi, na sigla em inglês), que muitas vezes são roubadas por criminosos que se aproveitam de vulnerabilidades em contratos inteligentes.
Mas outras empresas também foram afetadas. Foi o caso da Nomad, uma companhia que faz a "ponte" entre blockchains. Hackers drenaram quase US$ 190,7 milhões em criptomoedas da plataforma. Ela alegou, porém, que uma parte das perdas estava ligada a hackers que invadem plataformas a fim de sinalizar problemas e torná-las mais seguras.
Outra ponte entre blockchains, a Wormhole, perdeu cerca de US$ 320 milhões em um ataque. O jogo Axie Infinity, que envolve a tecnologia blockchain, também foi alvo de hackers, e conseguiu recuperar apenas parte dos US$ 615 milhões roubados de seus usuários.
Além dos roubos, algumas empresas são criadas especificamente para organizar esquemas de fraude e roubar o dinheiro de clientes e investidores mais descuidados.
Foi o caso da JuicyFields, um grupo de investimentos processado por mais de mil pessoas na Espanha que alegaram ter perdido até US$ 273 milhões depositados com a promessa de rendimentos exorbitantes.
Outra plataforma de investimentos em criptomoedas que enganou os clientes foi a Unique Exchange. Ela acabou envolvida em uma fraude ainda maior, chamada de "Paraiba World Scam". Apenas na exchange, clientes pederam cerca de US$ 267 milhões.
Os NFTs podem ser usados de diversas formas para realizar golpes, indo da oferta de tokens sem valor real até o roubo de criptoativos que depois podem ser revendidos ou retornados apenas com o pagamento de "resgates" pelos donos enganados.
Um dos casos mais famosos nessa área envolveu o ator e comediante Seth Green. Ele comprou um NFT da coleção Bored Ape Yacht Club quando os tokens de "macacos" se popularizaram entre 2021 e 2022. Além disso, ele tinha NFTs de outras coleções da mesma criadora, a Yuga Labs.
Todos acabaram sendo roubados quando Green caiu em um golpe de phishing, sendo convencido a compartilhar dados que permitiram o roubo. Um dos NFTs perdidos era, inclusive, o protagonista em uma série que o comediante está desenvolvendo. ara recuperá-los, o ator pagou um resgate de US$ 297 mil.
Uma outra prática comum no mercado envolve a criação de criptomoedas falsamente associadas a projetos em alta para atrair investidores e roubar seus fundos. Um dos casos mais famosos ocorreu em 2021, quando criminosos se aproveitaram da fama da série "Round 6" com um token sem valor que subiu 25.000% em poucas horas.
Já neste ano, um token falsamente associado ao time de futebol Manchester United subiu mais de 3.000% depois do bilionário Elon Musk ter feito uma piada indicando que poderia comprar o clube inglês. O baixo volume de negociação do ativo, porém, indicou que alguns poucos investidores fizeram o preço subir.
Apesar da empolgação, o próprio Elon Musk fez questão de explicar que a mensagem era uma piada, pouco depois da publicação original: "Não [estou falando sério], esta é uma piada de longa data no Twitter. Não estou comprando nenhum time esportivo".
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