"É um desafio vincular as criptomoedas aos fluxos de dinheiro legais existentes", disse um dos entrevistados (Priscila Zambotto/Getty Images)
Com inflação de mais de 10% ao ano, a perdo do poder de compra se tornou motivo de preocupação para grande parte dos brasileiros. O forte aumento dos preços preocupa principalmente as camadas mais desfavorecidas e assusta até o Banco Central, que corre para subir a taxa de juros a um ritmo galopante. Enquanto isso, alguns profissionais não têm essa preocupação: são os iniciantes no movimento de receber em criptomoedas. Embora possa soar inicial demais, segundo um levantamento feito pelo CoinMap, mais de 900 estabelecimentos brasileiros já aceitam receber pagamentos em cripto, incluindo a loja de vinhos virtual Wine e o Rappi, que vai iniciar a testagem do recurso no México.
“O pagamento dos colabores com criptomoedas tem se tornado cada vez mais constante, entre 15% a 20% dos jovens que trabalham com tecnologia preferem receber sua remuneração assim”, conta Fabiano Nagamatsu, diretor da Osten Moove, uma das maiores aceleradoras de startups do país. “De fato é uma tendência, pois com os desafios das crises econômicas, o consumo se tornou cada vez mais digital. Além do poder de compra, os hábitos e as exigências por segurança, agilidade e menor custo de transação são quesitos do consumidor que utiliza o digital para transações financeiras”, completa o também consultor do Ministério da Economia no assunto blockchain.
Uma fonte ouvida pela reportagem que preferiu não ser identificada é um dos brasileiros que já recebe através dos criptoativos, mais especificamente pela stablecoin USDT. Segundo ele, apesar de sofrer menos com a volatilidade do mercado, seu salário final teve perda na casa de 20% no último mês levando em conta a desvalorização do dólar e da inflação. “Nunca fiz pagamentos com cripto e não sei me sentiria confortável em gastar, por exemplo, com bitcoin para compras cotidianas”, ressalta ele.
Fernando Francisco Azevedo, engenheiro de software, é outro exemplo de pessoas que recebem através das moedas digitais estáveis. Segundo ele, isso faz com que a questão da volatilidade não seja um problema.
“É um desafio vincular as criptomoedas aos fluxos de dinheiro legais existentes. A grande maioria dos bancos ainda não dão suporte aos ativos digitais – é impossível enviar elas através da sua agência local, por exemplo. Embora os sistemas de DeFi estejam crescendo, os financeiros existentes, tais como cartões e empréstimos, não funcionam com cripto, limitando sua usabilidade”, conta Fernando sobre qual é seu maior desafio por receber através desta modalidade.
“O maior benefício, no entanto, é a velocidade. Como recebo muitas transações de outros países, as feitas com criptomoedas são liquidadas quase instantaneamente, em comparação com as feitas atrvés do SWIFT tradicionais, que podem levar semanas”, completa.
“Recebendo em Real ou dólar a partir de uma criptomoeda é um facilitador, já que dentro das exchanges confiáveis você pode tanto fazer investimentos quanto proteger seu dinheiro comprando moedas ligadas à proteção econômica, lastreada no ouro, no dólar, na libra, ou em qualquer outro ativo. Hoje, com o PIX, os saques de exchanges caem na conta praticamente na mesma hora, então é tudo muito prático”, completou a fonte.
“A comodidade de receber em uma moeda que pode ser negociada contra centenas de outras, acessibilidade financeira em um mercado em expansão, liberdade para guardar seus fundos como quiser e poder acessá-los de qualquer lugar do mundo, sem taxas de câmbio, possibilidade de converter os fundos e depositar em sua conta corrente em poucos minutos são alguns dos pontos positivos de receber em cripto”, ressaltou.
Segundo Fernando, existem vários benefícios também para as empresas que decidem pela opção de pagar colaboradores com cripto, entre eles a contratação de mão de obra de qualquer lugar do mundo, em muitos casos mais qualificada, maior velocidade na transação, a segurança trazida pela descentralização e eliminação de tarifas bancárias.
“É importante destacar que tem um projeto de lei que sugere o pagamento de até 30% do salário em criptomoedas, ou moeda que não seja fiduciária. Hoje a aceitação de remuneração é mais bem vista entre profissionais ligados à tecnologias. Contudo, com o avanço da Web3 e impulsionamento das regulamentações voltadas para criptomoedas, esse tipo de transação começa a se tornar tornar mais corriqueira”, destaca Fabiano.
“Cinquenta anos atrás, nossos salários vinham em pacotes cheios de dinheiro. Em seguida vieram os cheques, e agora não sonharíamos em receber nosso salário de outra forma que não fosse uma transferência bancária online. Com o mundo cada vez mais conectado, consigo enxergar um mundo em que pagamentos com criptomoedas sejam o padrão”, finalizou Fernando.
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