Empreendedor acredita que NFTs podem ajudar a divulgar a cultura brasileira (Getty Images/Reprodução)
Repórter do Future of Money
Publicado em 22 de março de 2023 às 15h30.
Última atualização em 22 de março de 2023 às 15h40.
Um paraíso cultural intocado. É assim que o empreendedor Aaron Craig Mitchell se refere à cidade de Salvador, um dos mais importantes destinos turísticos do Brasil e lar de diversos artistas, projetos e obras ligadas ao mundo das artes. Mitchell, porém, identificou uma falta de reconhecimento internacional para a capital baiana, o que o levou a criar a PVSC.
A empresa tem como objetivo usar tokens não fungíveis (NFTs, na sigla em inglês) e as ferramentas da Web3 para desenvolver e divulgar a cultura de Salvador, com foco nos elementos ligados à significativa comunidade da diáspora africana na cidade, resultado da vinda forçada de negros que se tornaram escravizados durante o período de colonização do Brasil.
Com isso, é possível transformar criações de artistas baianos em artes digitais que "representam a cultura, a arte, a vibração de Salvador", explica Mitchell em entrevista à EXAME. Em seguida, essas obras são vendidas em marketplaces e ficam armazenadas na rede Ethereum, um dos principais e mais famosos blockchains do mercado de criptoativo.
Mitchell explica que o foco em Salvador está ligado ao fato da cidade ser um "paraíso cultural intocado, com potencial significativo não apenas na arte, mas cultura, culinária, tecnologia, infraestrutura. Nós vimos como uma oportunidade imensa para gerar visibilidade". Nesse sentido, ele vê a Web3 e os NFTs como um "ponto de acesso único a essa cultura".
O empreendedor lembra que muitos brasileiros não falam inglês, e muitos estrangeiros não falam português, o que cria uma "separação" e dificulta o devido reconhecimento de todo o potencial cultural e turístico da capital da Bahia. "Faltam conexões significativas com o exterior, e a arte pode criar essa conexão, onde a língua criou uma separação", defende.
O próprio criador da PVSC é um exemplo desse potencial. Ele começou a ter contato com a cultura diaspórica de Salvador aos 13 anos, quando morava nos Estados Unidos e aprendeu capoeira. Mas foi apenas em 2021 que ele conseguiu visitar a cidade pela primeira vez, o que ele descreve como "uma experiência significativa". Foi daí que surgiu o desejo de "fazer para as pessoas o mesmo que eu vivenciei".
"A Web3 gera uma oportunidade de contornar algumas ineficiências no sistema financeiro que muitas pessoas estão tentando consertar, os criptoativos permitem trabalhar diretamente com os artistas para que vendam suas artes, promovam suas histórias e tenham acesso direto ao capital que receberem. Tem transparência também, porque está no blockchain. É um jeito de gerar desenvolvimento econômico com propósito, prosperidade, aliados a um negócios", explica.
E os NFTs são apenas um ponto inicial de contato com Salvador. Mitchell enfatiza que a empresa busca também gerar "experiências reais" na cidade para os compradores dos colecionáveis. Cada token dá direito a experiências diferentes, de descontos a viagens pagas, além de jantares em restaurantes, passeios culturais, descontos em comércios e outros eventos.
"Eu acho que muito da minha frustração, ambivalência, sobre NFTs é que eu não entendia, não queria viver em um mundo digital, ainda mais durante pandemia, eu queria mais conexão com humanos", destaca Mitchell. Por isso, o empreendedor, que anteriormente foi diretor de RH no gigante de streaming Netflix, entendeu que era importante trazer vantagens do mundo real para as posses digitais.
Ele pontua ainda uma abertura grande dos artistas da cidade para o projeto, até devido à parceria com duas empresas locais para "encontrar novas formas de investir na cidade". "A Web3 e os NFTs vieram como uma forma de solucionar os problemas. Eles [os artistas] tiveram pouca relutância, e muito dela estava ligada a não entender como a tecnologia seria usada, os benefícios e cuidados para os artistas. Os NFTs ficaram ligados com golpes, perdas, mas o que precisa é de confiança, e não pode pagar por siso, só conquistar".
Mitchell diz ainda que acredita haver uma "abundância de talento criativo não aproveitado no Brasil", e que os NFTs e a Web3 podem ajudar a resolver essa questão, já que trazem "a ideia de que os artistas têm a oportunidade de ter posse das criações, mas também monetizar isso, e ter acesso a compradores disponíveis. Diferentemente da Web2, na Web3 você tem um jeito claro de monetizar as suas criações, graças ao uso do blockchain e cripto, para rastreamento e transações. Com cripto, não precisa ter o apoio de uma instituição financeira".
Nesse sentido, ele vê a tecnologia como algo que vai "mudar o jogo" para criadores brasileiros e de outros países em desenvolvimento: "Existe uma abundância de histórias, séculos e séculos de histórias que não foram acessadas por uma audiência global. Existe uma estética, cultura, próprias, um mundo todo que mostramos que tem um apetite, não apenas por pessoas negras, mas de todo o mundo. É algo novo, moderno".
Ele explica que, no momento, o foco da PVSC será em Salvador e em sua comunidade de artistas, sem planos iniciais para expansão em outras cidades que também tenham diásporas relevantes. Entretanto, ele afirma ser importante compartilhar as experiências e soluções da empresa com outras pessoas iniciadas em ter negócios semelhantes, acelerando essa divulgação global da cultura brasileira.
"Nossa meta é expandir essas conexões, levar essa rede a grandes estúdios, criar mais utilidades no mundo real do que só vender um ativo digital, um NFT. A ideia é construir uma biblioteca de conteúdos para mostrar para todos os interessados", destaca.
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