Drex pode ser lançado em 2025 (Reprodução/Reprodução)
Repórter do Future of Money
Publicado em 3 de julho de 2024 às 18h27.
Os testes com o piloto do Drex, a plataforma do Banco Central que contará com a versão digital do real, se aproximam do fim dos testes da sua primeira fase, mas o seu grande foco, a privacidade, deverá permear todas as fases do seu desenvolvimento. É o que afirma Thamilla Talarico, sócia-líder de blockchain e ativos digitais da EY, à EXAME.
Talarico explica que o problema da privacidade em torno do projeto é "natural" considerando as suas características: "A partir do momento que você coloca diferentes instituições, 70, todas elas em uma mesma rede, transparente e auditável, basicamente está falando que as transações que ocorrem nela ficam a princípio visíveis pra elas".
"Bancos, instituições de pagamento, fintechs, exchanges, provedores de tecnologia, todos estão lá e são agentes concorrentes no mercado. Tanto dados pessoais, dos clientes, quanto transacionais, ficam correndo na rede e poderiam ser vistos por todo mundo que faz parte dela", destaca.
Nesse sentido, o Drex precisa lidar com a garantia de privacidade tanto dentro da Lei Geral de Proteção de Dados, a LGPD, quanto em relação às regras de sigilo bancário, garantindo que haverá algum tipo de confidencialidade para que os membros da rede não saibam "quanto e com quem você está transacionando".
"A rede dá muita eficiência, mas gera essa questão de como gerar privacidade com eficiência. O desafio é esse, ter essas vantagens respeitando legislação", explica a sócia da EY. Para isso, o Banco Central selecionou ferramentas de privacidade para testes pelos participantes. Uma delas é a Starlight, desenvolvida pela EY e cujos testes começaram na segunda quinzena de junho.
Segundo Talarico, o objetivo da empresa é ter uma solução de fácil implementação e compatível com outros blockchains, algo que "dá um valor agregado", ao mesmo tempo em que busca "trazer privacidade já no nível do código. Em uma situação como essa, o grande diferencial da ferramenta é o fato de que qualquer desenvolver de contratos inteligentes consegue aplicar essa privacidade".
"O grande diferencial da nossa solução é exatamente tentar facilitar a vida de quem está desenvolvendo e de quem pode operar essa ferramenta no futuro. A interface foi feita pensando nisso, para facilitar e simplificar", diz.
A sócia da EY destaca que a privacidade de dados nas redes de registro distribuídos que estão e serão usadas em projetos de moedas digitais de bancos centrais (CBDCs) tem caráter global, não ocorrendo apenas no Brasil. Ao mesmo tempo, ela pontua que o projeto brasileiro tem sido "muito pioneiro".
"A nossa plataforma é construída em cima de um blockchain EVM, compatível com a Ethereum, exatamente para aproveitar todos os benefícios das finanças descentralizadas. Isso é muito inovador, e quando faz isso tem uma necessidade maior de pensar a privacidade", avalia.
Por isso, Talarico acredita que o Brasil "tem um lugar de destaque nesse tipo de desenvolvimento de solução, um papel pioneiro".
Sobre o futuro do piloto, ela pontua que, se o foco da primeira fase de testes foi a privacidade, a segunda deverá focar na governança. Entretanto, ela acredita que "essa discussão de privacidade vai permear todas as etapas do piloto, as previstas e outras. Nessa segunda fase, vai ter novos casos de uso e modelos de negócios, e eles precisam se adequar às soluções de privacidade da plataforma. As soluções vão ser testadas agora também pensando nesses novos casos de negócio".
"O foco sempre foi privacidade, mas eu acho que não estava muito claro nem pro Banco Central e pros participantes a necessidade extensiva de capacitação, treinamento das pessoas envolvidas no projeto, tanto das instituições quanto do BC. É um trabalho colaborativo, em tempo real, se familiarizando cada vez mais com essas tecnologias. Precisando entender melhor como privacidade se aplica a essa infraestrutura.", defende.