Drex pode ser lançado em 2025 (Banco Central do Brasil/Exame)
Repórter do Future of Money
Publicado em 23 de agosto de 2024 às 17h42.
Última atualização em 23 de agosto de 2024 às 18h09.
Fabio Araujo, coordenador do projeto de criação do Drex pelo Banco Central, afirmou na última quinta-feira, 22, que a moeda digital de banco central (CBDC) brasileira tem um "potencial enorme" pensando no seu impacto e casos de uso para o mercado financeiro e para a economia como um todo. Ele falou sobre o tema durante o evento Conecta ABBC, promovido pela Associação Brasileiras de Bancos.
Araujo destacou que a ideia de tokenizar ativos não é nova, com outros empreendimentos de tokenização ao longo da história que "já existiram e não foram para a frente". O motivo, na sua visão, foi a falta de padronização entre esses esforços e uma postura de manutenção das iniciativas em "silos informacionais", sem contato.
Nesse sentido, ele acredita que o Drex e outras CBDCs cumprem um papel essencial para o sucesso da economia tokenizada ao ter "uma moeda para liquidar essas operações. Hoje não tem moedas oficiais aceitas em todos os ambientes, e isso cria uma barreira. Quando coloca a moeda do BC como a base do sistema e cria uma plataforma que todos possam interoperar, resolve isso".
O executivo pontuou que o abandono da lógica de silos é essencial para o sucesso do projeto, já que sem isso: "Diferente – esforço de padronização. Não adianta trazer tecnologia de tokenização e manter os silos informacionais. Você vai simplesmente reproduzir os problema que tem hoje na nova tecnologia, sendo que a tecnologia permitiria não conviver com esses problemas".
No evento, Araujo afirmou que o Drex ainda tem enfrentado desafios no seu desenvolvimento, em especial no aspecto de privacidade de informações e garantia de cumprimento da LGPD. Entretanto, o piloto do projeto já está testando tecnologias para abordar a questão, tidas por ele como "promissoras".
"Agora entramos na segunda fase [do piloto] para ver quanto mais podemos avançar e como as soluções casam com os casos de uso que o mercado tem para trazer", explicou. Na visão do executivo, a versão digital do real "faz parte de cadeia de evolução do Pix e do Open Finance, trazendo programabilidade e componibilidade" para o mercado.
A expectativa dele é que os primeiros casos de uso de adoção em massa do Drex surjam no mercado financeiro já "altamente digitalizado", facilitando a integração com a plataforma da CBDC. Entre as opções estão o uso de ações, títulos públicos e outros ativos como colaterais em empréstimos.
No âmbito internacional, Araujo pontuou que o Banco Central está aproveitando a presidência do Brasil no G20 em 2024 para tentar liderar um debate sobre a construção de uma "plataforma global de pagamentos para atender necessidades de países emergentes".
O momento, agora, é de entender qual opção seria mais adequada, "se vai ser CBDC, moeda bancária tokenizada ou stablecoin. São temas delicados, mas a discussão está em aberto. Temos tentado liderar esses desenvolvimentos", diz.
Araujo evitou dar uma data sobre um possível lançamento do Drex para a população, mas disse que "o importante é garantir que atingiu marcos dentro do processo. Se tem privacidade, segurança, aí pode ir passando para o passo seguinte que seria incorporar a população e ver como ela reage a essa tecnologia. É mais flexível que o Pix, então provavelmente o Drex terá muito usos que a gente não consegue ver".
No caso da tokenização, Araujo disse ainda que vê dois aspectos "fundamentais" no potencial da tecnologia: "A melhoria de acesso, tanto pelas empresas quanto consumidores, e a reconciliação da informação. Hoje é um processo muito custoso, tem vários silos informacionais fechados, onde tem um gatekeeper, é a característica da Web2, para validar transações, e isso gera concentração de poder e dificulta a entrada de novos participantes".
A expectativa dele é que esse cenário mude com a chegada das CBDCs, impulsionando a tokenização. Também durante o evento, Pedro Castelar, chefe de gabinete da Presidência da CVM, falou sobre o papel do regulador nesse processo.
"À medida que o mercado e o regulador foram entendendo mais o que é a tecnologia e os benefícios dela, acho que aquele frenezi, moda de tokenizar tudo passou um pouco. Cada vez mais o mercado entende que pode tokenizar tudo, mas não necessariamente tudo deveria ser tokenizado. A evolução agora é buscar entender o benefício, o valor que vai agregar tokenizando um determinado ativo", comentou.
Na visão dele, os aspectos de rastreabilidade, imutabilidade e programabilidade são as principais vantagens na tokenização, mas é preciso entender quais ativos efetivamente seriam beneficiados por essas novidades.
"No mercado de capitais, esses benefícios tendem a gerar bastante valor. E há bastante valor a ser explorado com relação ao uso da tecnologia DLT no âmbito do mercado de capitais como infraestrutura, podendo ter rastreio, imutabilidade, liquidação atômica, tudo isso tende a gerar muito valor", diz.
A tendência, na visão dele, é que a tokenização gere mais "democratização e um dinamismo maior para o mercado, com mais agentes, ativos, tudo sendo negociado de forma mais eficiente. E a CVM busca dar clareza ao mercado sobre as questões regulatórias ligadas a isso".